Homilia da Eucariatia da Noite de Natal do Bispo de Aveiro

Solenidade do Natal do Senhor Homilia da Eucaristia da Meia-Noite 1. Esta Eucaristia foi antecedida pelo gesto fraterno de uma Ceia partilhada com os sem-abrigo da nossa Cidade, dando hoje um tom de festa à “Ceia com calor” diariamente distribuída pelas Florinhas do Vouga. Significou este gesto apenas mais um sinal visível da Caminhada de Advento que a nossa Diocese realizou nas suas diferentes comunidades e através das mais diversas iniciativas, recordando que “servir os irmãos é acolher Jesus que vem”. Precedeu, também, esta Eucaristia a refeição festiva que reuniu à mesa da universalidade e da alegria no Centro Universitário Fé e Cultura mais de cem estudantes estrangeiros oriundos de 22 países para que o acolhimento oferecido e a presença testemunhada pela Universidade e pela Igreja mitiguem a ausência da família e reduzam a distância do país de origem. Antecedeu, igualmente, esta Eucaristia o viver cristão das nossas famílias, hoje maiores, onde a refeição se repartiu ao ritmo do amor que as une, da alegria espontânea das crianças, da presença terna dos idosos e da atenção dedicada aos que sofrem. São, assim, múltiplos e plurais os preparativos do nosso Natal cristão como foram igualmente intensos os itinerários de Advento, vividos nas comunidades cristãs e nas diferentes actividades promovidas pelos diversos secretariados de acção pastoral e pelos movimentos apostólicos da Diocese, que nos conduziram ao limiar do presépio e nos aproximaram, de alma preparada, deste Altar da Eucaristia. Não faltaram neste itinerário de Advento os profetas de sempre e as testemunhas de agora, a iluminar com a sabedoria de Deus, o trabalho e a fé o caminho de renovada e criativa aprendizagem do Natal. Eles são “luzes e profetas da esperança”. Eles são testemunhas de um verdadeiro e santo Natal, celebrado no coração de um mundo novo, onde se reflecte e brilha a luz de Cristo “o sol erguido sobre todas as trevas da história”. (Spe Salvi, 49). Guia-nos neste caminho “Maria, a estrela da esperança” porque “Ela pelo seu “sim”abriu ao próprio Deus a porta do nosso mundo”. (Spe Salvi, 49). É igualmente missão do Natal cristão abrir a Deus as portas do mundo e da cultura de hoje, no contexto de uma país livre e democrático, de uma Europa que consolida a união e a paz e de um mundo em processo de assumida globalização. 2. A palavra bíblica agora proclamada ajuda-nos a cumprir esta missão e anuncia-nos o sentido e o rumo do serviço que o mundo pede aos cristãos e deles tem direito a exigir e a esperar. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; para aqueles que habitavam nas sombras da morte uma luz começou a brilhar. Multiplicastes a sua alegria, aumentastes o seu contentamento”, diz-nos Isaías, o profeta, num belo texto escrito 700 anos antes da vinda de Jesus, o Emanuel, o Deus-connosco (cf Is. 9,2-3). Realiza-se no nascimento de Jesus este encontro anunciado de Deus com a Humanidade; cumpre-se este processo prometido da nossa salvação; revela-se o amor fiel de Deus pelo seu Povo; abre-se um destino diferente para o mundo; renasce no coração humano a beleza, a esperança e a alegria da salvação. Todo o nascimento de uma vida humana por mais frágil, silenciosa, discreta ou anónima que seja traz sempre em si o imenso mistério da sua origem e do seu destino. A vida é sempre herdeira e construtora da nossa história humana de pessoas, de famílias e de povos. Compreendemos, assim, que para S. Paulo, o nascimento de Jesus seja “manifestação de graça certeza de vida nova e fonte de salvação para a humanidade” (Tito 2, 11-14). Pertence-nos, por isso, descobrir as exigências desta vida nova que Jesus nos trouxe. É esta certamente a mais bela, encantadora e exigente mensagem que o Natal de Jesus nos dá, “preparando também hoje um povo novo, zeloso das boas obras” (Tito 2, 14). Recorda-nos o Evangelho de S. Lucas que os pastores que viviam nos campos da periferia da cidade de Belém tiveram medo da luz. “Não temais, disse-lhes o Anjo, o enviado de Deus, porque vos anuncio uma grande alegria: nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc. 2,9-11). 3. A Boa Nova do Evangelho agora proclamado é anúncio de alegria e de esperança. Hoje, no silêncio da noite, na espessura da escuridão e no coração do mundo, ouve-se uma voz, sente-se uma luz e nasce uma vida. O acontecimento de ontem é a verdade de hoje: “Nasceu-nos um Salvador, que é Cristo Senhor” (Lc. 2,11. A Igreja não pode silenciar a voz, calar a esperança, esconder a luz que envolvem o nascimento do Filho de Deus. A Igreja quer comunicar esta alegria, partilhar em gestos solidários e fraternos esta certeza, multiplicar esta esperança e iluminar o mundo com esta luz. 4. Que seja tempo novo impregnado de espírito de Natal, cada dia vivido pela nossa Diocese em cada palavra, gesto, iniciativa ou actividade onde se realce o direito à vida e o serviço aos irmãos, porque esses são lugares onde melhor se vive e multiplica a esperança que nasce do Natal! Que as nossas igrejas, mais procuradas neste tempo, não mostrem apenas o presépio de Jesus mas revelem o Jesus do presépio e abram caminho ao Jesus da Eucaristia e ao testemunho da vida em comunhão de cada Comunidade. A curiosidade dos pastores transformou-os em adoradores do Deus- Menino nascido em Belém. A procura persistente e insubmissa dos sábios e dos reis magos abriu caminhos novos à verdade dos factos, à leitura dos acontecimentos e à interpretação dos sinais dos tempos que a vinda de Jesus, o Salvador, anunciava. Adoremos, também, o Senhor. Façamo-lo em forma de oração: Vim, Senhor, á tua procura E notei que Tu já estavas comigo. Fiquei, Senhor, á Tua espera E verifiquei que Tu já moravas em mim. Pensei, Senhor, que te encontravas a meu lado e apercebi-me de que já habitavas no meu coração. O Teu presépio, Jesus, é o íntimo do ser humano. O lugar em que, hoje, Tu ( re ) nasces É a vida de tanta gente, De tanta gente que está no calor das sua casas, De tanta gente que sobrevive no frio das ruas, Sem abrigo, sem tecto, sem amor. É sempre advento. Porque Tu. Senhor, estás sempre a chegar. E por isso é sempre Natal porque Tu estás sempre a nascer. O mundo precisa de Ti, Senhor Da tua Palavra, Do teu Pão, Do teu imenso Amor Da tua infinita Paz E da tua permanente esperança que nos convidas a construir e a multiplicar. 5. É nosso exemplo, modelo e guia neste caminho do presépio a Mãe de Jesus, Senhora do Natal, discípula e mestra da fé, que nos ensina a viver e a celebrar o Natal como um dom que urge redescobrir em cada ano com espírito novo. É nossa intercessora e padroeira Santa Joana Princesa. Que ela nos ensine a multiplicar em todos os membros da nossa comunidade diocesana, a alegria, a beleza e a esperança que nascem do Natal. Um santo e feliz Natal. + António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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