História: República alterou relação dos bispos com o clero

António Matos Ferreira encerrou seminário «Religião, Cristianismo e Republicanismo», na Universidade Católica

Lisboa, 18 Mar (Ecclesia) – O historiador António Matos Ferreira afirmou esta quinta-feira que uma das “maiores consequências” em termos de política religiosa da I República (1910-1926), foi “foi a alteração profunda da autoridade do bispo na relação com o clero”.

Numa sessão dedicada ao tema “A «questão religiosa» na reformulação historiográfica da Primeira República”, realizada nesta quinta-feira, na Universidade Católica Portuguesa (UCP), o docente afirmou que, no início do século passado, membros do clero secular tinham a “consciência de que perdiam alguma autonomia”.

Em relação à a questão dos chamados «padres pensionistas», que, depois da Lei da Separação de 1911, recebiam um montante estipulado pelo Estado para a sua subsistência – atitude condenada pela hierarquia -, Matos Ferreira considerou um “equívoco” questionar a ortodoxia de todos esses sacerdotes.

O problema fundamental das pensões dos padres é o entendimento que os “padres tinham da sua relação – com a Igreja e o Estado – e dos seus direitos”, disse.

Com uma tese de doutoramento sobre o activista católico Abúndio da Silva (1874-1914), António Matos Ferreira salientou também que a história da 1ª República deve ser visualizada “não apenas na base da conflituosidade, mas também o que ela gerou em níveis de contratualização”.

Para o historiador “é insuficiente” a explicação que atribui uma “obsessão ao liberalismo radical monárquico, constitucional ou republicano pelo anticlericalismo”, nas “suas formas anticongreganistas” e “no seu expoente do antijesuitísmo”.

No terreno católico encontra-se algumas das formas “mais violentas de anti-clericalismo e de anti-jesuitismo”, disse o historiador, acrescentando que, nesta fase, “há bispos que são, claramente, antijesuítas”.

O anti-clericalismo existe no “campo radical” e é um “instrumento político”, mas é também “uma base de contratualização entre sectores no campo religioso e no campo político”, defende António Matos Ferreira.

Sobre a temática da perseguição religiosa na I República, o orador realça que “acabar com a religião – para muita gente – era um bem social”, mas o conceito «religião» “era mais amplo e denominado de superstição, da ignorância”.

A realidade “persecutória” não reside apenas como algo exterior “à dimensão religiosa” porque esta temática “é profunda e complexa” e “não pode ser explicado apenas como apresentação dos factos”.

Na sua intervenção, António Matos Ferreira esclarece que existe “uma pluralidade de abordagens” sobre a história da I República e lamenta que a comunidade científica “não se congratule com esta pluralidade e não goste de se entrosar”.

A conferência encerrou o seminário «Religião, Cristianismo e Republicanismo», promovido desde Maio de 2009 pelo Centro de Estudos de História Religiosa (CEHR) daquela instituição universitária, Religião, Cristianismo e Republicanismo».

O CEHR vai promover em Lisboa, de 13 a 16 de Abril, o congresso internacional de história sobre os «100 anos de Separação» entre Igreja e Estado, em Portugal.

LFS

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Agência ECCLESIA

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