História das religiões nas escolas

Ministério da Educação já recebeu parecer da Comissão de Liberdade Religiosa sobre História Comparada das Religiões A criação de uma disciplina de história comparada das religiões seria “um contributo importante” para que o “multiculturalismo possa avançar como necessário”, afirmou Mário Soares no encerramento do III Colóquio Internacional sobre Religiões, que decorreu em Lisboa. A proposta da existência da disciplina de história comparada das religiões seguiu já para o Ministério da Educação, segundo avança à Agência ECCLESIA Ester Muznick, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa que integra a Comissão de Liberdade Religiosa. A Comissão elaborou já um parecer que fez seguir para o Ministério da Educação e em breve “vamos reunir com Maria de Lurdes Rodrigues para concretizar esta proposta”. Ester Muznick aponta uma “enorme ignorância em torno das religiões”, incluindo a dominante em Portugal. “O ensino nas escolas de história das religiões serve também para que as pessoas saibam a base da sua própria civilização, contrariando a forma como muitas pessoas estão a ser educadas, sem noção da construção da sua civilização”. A reunião com Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da Educação, visa também uma revisão dos manuais escolares “no que diz respeito às religiões” que, explica, contêm “erros”. A vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa sublinha que a questão da educação faz parte da agenda da Comissão. A vice presidente da Comunidade Israelita de Lisboa presente no III Colóquio Internacional indica que, iniciativas como a que a Comissão de Liberdade Religiosa organizou, “sensibilizam quem participou para que possam também assumir estas tarefas como realizáveis”. Também o Presidente da Comissão, Mário Soares, destacou no discurso de encerramento que “as religiões encerram problemas complexos mas é preciso manter a coexistência importante para o equilíbrio e para a paz mundial, que é um interesse superior”. Para combater a ignorância sobre as religiões “inclusivamente num país de tradição secular católica”, Mário Soares adiantou que será editado um livro para que “o que aqui foi dito não se restrinja à memória de cada um”. O ministro da Justiça, Alberto Costa, também presente na sessão de encerramento, referiu-se à tendência de “pluralização dos mundos” e afirmou que compete ao Estado assegurar “uma função de guardião da tolerância e reconhecer os crentes como iguais e igualmente dignos da atenção e da protecção das leis”. Alberto Costa afirmou que a “diversidade e complexidade” da existência religiosa nas sociedades “coloca ao Estado democrático uma especial exigência”. “Não basta a premissa da laicidade e separação que os textos há muito estabelecem. É preciso que ela se concretize num Estado que não possa agir como se esta ou aquela opção religiosa lhe fosse mais amiga ou mais próxima”, declarou. O Pe. Saturino Gomes, membro da Comissão da Liberdade Religiosa por nomeação da Conferência Episcopal Portuguesa analisa de forma positiva o contributo deste encontro para “um diálogo entre as religiões e a sociedade civil”. A própria participação dos vários líderes religiosos põe em evidência que as religiões são “feitas para o diálogo e para a paz dentro da sociedade”. Para o rabino Eliezer Shai Di Martino a palavra “tolerância” vai além de intenções que possam ser partilhadas em encontros como o Colóquio, que reuniu em Lisboa líderes das religiões mundiais, apresentou. “A manutenção da própria identidade é fundamental para as religiões e no seu interior, a prática da tolerância”. “A relação entre judaísmo e a Igreja Católica foi já apaziguado”, aponta o rabino, indicando que o memorial do massacre dos judeus, no Largo de São Domingos, “estabeleceu finalmente a paz” entre as duas confissões. “O diálogo inter-religioso é o caminho para evitar conflitos entre culturas”, indicou à Agência ECCLESIA. A par da disciplina de história comparadas das religiões, outra sugestão ficou na mente dos participantes do Colóquio. René-Samuel Sirat, Vice-Presidente da Conferência Europeia de Rabinos sugeriu a criação de um G8 que congregue líderes religiosos para a promoção da compreensão entre os povos, apesar de admitir ao jornal Público que “há ainda muito caminho a percorrer”. Fim de um ciclo O III Colóquio Internacional sobre Religiões terminou de forma simbólica no Largo de São Domingos, em Lisboa, onde o Grão rabino René-Samuel Sirat fez uma oração junto ao memorial evocativo da intolerância religiosa que há mais de 500 anos o povo judeu foi alvo. Este acto simbólico termina um ciclo, pois foi precisamente o rabino René-Samuel Sirat que, há oito anos atrás, “iniciou o processo que deu origem ao memorial dos judeus”. Concordata Comentando as declarações do Ministro da Justiça que indicou “estar para breve a apresentação de alguns ante-projectos no âmbito da regulamentação da Concordata referentes à assistência religiosa nas prisões, hospitais e quartéis”, o Pe. Saturino lembra que apesar da brevidade anunciada “haverá ainda outros diplomas que ficam de fora”. Questões fiscais, o ensino da disciplina de Educação Moral e Religiosa Católica, o estatuto da Universidade Católica Portuguesa, a “caracterização e definição de fins religiosos estabelecidos na Concordata com implicações fiscais”, ou ainda o património cultural são algumas questões que envolvem “o governo e a Santa Sé e que pedem ainda um esclarecimento”, evidencia o Pe. Saturino Gomes. Foto: Lusa

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