História: Cooperativas e magistério católico

As Nações Unidas proclamaram 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas, colocando no centro das atenções este género de associação autónoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades económicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida.

O cooperativismo, explica o presidente da CNIS, padre Lino Maia, “é um movimento económico e social, entre pessoas, em que a cooperação baseia-se na participação dos associados, nas atividades económicas (agropecuárias, industriais, comerciais ou prestação de serviços) com vista a atingir o bem comum e a promover uma reforma social dentro do capitalismo”.

O Ano Internacional das Cooperativas tem como finalidade aumentar a consciência pública sobre as cooperativas, como beneficiam os seus membros e contribuir para o desenvolvimento socioeconómico e a realização ‘Objetivos do Milénio’.

Estas organizações estão presentes na Doutrina Social da Igreja, desde logo na encíclica ‘Rerum Novarum’, de Leão XIII (1891), na qual se promove uma defesa da dignidade dos trabalhadores, juntamente com a importância do direito à propriedade, do princípio da colaboração entre as classes, dos direitos dos fracos e dos pobres, das obrigações dos trabalhadores e dos empregadores, do direito de associação.

As orientações ideais expressas na encíclica reforçam o empenho de animação cristã da vida social que se manifestou no nascimento e na consolidação de diversas iniciativas de caráter civil: uniões e centros de estudos sociais, associações, sociedades operárias, sindicatos, bancos rurais, seguros, obras de assistência e cooperativas.

Em 1961, a encíclica Mater et Magistra, do Beato João XXIII, voltaria a esta temática: “Os componentes da empresa devem estar conscientes de que a comunidade na qual atuam representa um bem para todos e não uma estrutura que permite satisfazer exclusivamente os interesses pessoais de alguns. Só tal consciência permite chegar à construção de uma economia verdadeiramente ao serviço do homem e elaborar um projeto de real cooperação entre as partes sociais”.

“Um exemplo muito importante e significativo na direção indicada provém da atividade das empresas cooperativas, das empresas artesanais e das agrícolas de dimensão familiar. A doutrina social tem sublinhado o valor do contributo que elas oferecem para a valorização do trabalho, para o crescimento do sentido de responsabilidade pessoal e social, para a vida democrática, para os valores humanos úteis ao progresso do mercado e da sociedade”, acrescentava o Papa italiano.

30 anos mais tarde, João Paulo II dedicava parte da sua encíclica ‘Centesimus Annus’, no 100.º aniversário da ‘Rerum Novarum’ à evolução do “movimento operário” e o seu “vasto campo de atividade sindical, reformista, distante das utopias da ideologia e mais próxima das carências quotidianas dos trabalhadores”.

O Papa polaco fala, neste contexto, da importância de “um processo livre de auto-organização da sociedade, com a criação de instrumentos eficazes de solidariedade, capazes de sustentar um crescimento económico mais respeitador dos valores da pessoa”.

“Recorde-se aqui a multiforme atividade, com um notável contributo dos cristãos, na fundação de cooperativas de produção, de consumo e de crédito, na promoção da instrução popular e formação profissional, na experimentação de várias formas de participação na vida da empresa e, em geral, da sociedade”, referia o beato.

A terceira encíclica de Bento XVI, ‘Caritas in veritate’ (2009), falava em particular aos “operadores das finanças”, convidados a “redescobrir o fundamento ético próprio da sua atividade, para não abusarem de instrumentos sofisticados que possam atraiçoar os aforradores. Reta intenção, transparência e busca de bons resultados são compatíveis entre si e não devem jamais ser separados”.

“Se o amor é inteligente, sabe encontrar também os modos para agir segundo uma previdente e justa conveniência, como significativamente indicam muitas experiências no campo do crédito cooperativo”, escreveu o atual Papa.

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