«Nós somos mais do que nunca as vítimas», denuncia o padre Raynold Joseph, numa altura marcada pelo clima de insegurança e violência no país
Lisboa, 05 abr 2024 (Ecclesia) – O superior provincial dos Espiritanos do Haiti alertou que a situação na capital do país “está a ficar fora de controlo”, depois de o Seminário menor, dirigido pela congregação, ter sido assaltado, na segunda-feira, por um gangue amado.
“Nós somos mais do que nunca as vítimas. Durante mais de seis horas, os bandidos continuaram a saquear, a incendiar, a roubar… Finalmente, os confrades e o pessoal conseguiram escapar, alguns refugiando-se na Casa de Formação, a 30 minutos a pé, outros na rua ou na Catedral, ao lado da escola”, disse o padre Raynold Joseph, num comunicado enviado à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Durante a noite, os elementos do grupo saltaram um dos muros do Seminário Menor de Saint-Martial, neutralizaram os guardas e deixaram um rasto de destruição por onde passaram.
Perante o ataque, os padres, membros da direção do colégio e funcionários que ali se encontravam, tiveram de se esconder, enquanto os invasores vandalizavam o edifício.
“Não houve vítimas físicas no ataque, mas os danos materiais foram consideráveis: quatro carros queimados, os outros vandalizados, a administração da escola incendiada, o gabinete do responsável da escola saqueado, bem como a residência da comunidade e as instalações da escola: frigoríficos, painéis solares, baterias, inversores, um sistema de purificação de água, colchões, equipamento informático e eletrónico”, relatou.
Ainda assim, a biblioteca espiritana, que é “património nacional”, foi poupada, no entanto há o receio de que o gangue regresse.
“É provável que se verifiquem outras intrusões nas próximas horas ou dias se a escola, de uma forma ou de outra, não for protegida. Estamos devastados e continuamos muito preocupados com a deterioração contínua da situação no nosso país. Agradecemos o vosso apoio fraterno no pensamento e na oração”, escreveu o superior provincial dos espiritanos do Haiti.
O padre Raynold Joseph relata que a população se encontra em estado de desalento, devido ao agravamento das condições de insegurança no país.
Porto Príncipe, capital do país, tem sido tomada por gangues armados, e também a Igreja tem estado na mira destes grupos, com assaltos aos locais de culto o registo de diversos casos de raptos de sacerdotes e religiosas.
Face à violência, mais de 50 mil pessoas foram obrigadas a fugir da cidade nas últimas semanas, anuncia um relatório divulgado pela Organização Internacional para as Migrações.
Mais de metade dirige-se para o sul do país, local onde se encontram 116 mil deslocados que fugiram nos últimos meses.
A situação não é nova no país, que tem sido devastado durante décadas pela pobreza, desastres naturais, instabilidade política e violência de gangues.
A conjuntura tem vindo a agravar-se e, de acordo com a Lusa, desde os finais de fevereiro, poderosos gangues do Haiti uniram esforços para atacar esquadras de polícia, prisões, o aeroporto e o porto marítimo, mergulhando o país no caos e forçando a saída do primeiro-ministro, Ariel Henry, que renunciou em 11 de março para dar lugar a um conselho de transição.
Devido a divergências entre os partidos políticos e outras partes interessadas que deveriam nomear o próximo primeiro-ministro e dúvidas sobre a própria legalidade de tal organismo, a formação do conselho ainda não foi concluída.
LJ/OC