Habitação/Loures: «Talude tem sido uma plataforma» para população em busca de melhores condições

“Temos situações de pessoas que trabalharam três, quatro meses, que não receberam dinheiro, e que por causa disso foram encontrar uma solução no Talude», diz Rolando Borges, da Associação para a Mudança e a Representação Transcultural

Foto: Lusa

Lisboa, 17 jul 2025 (Ecclesia) – A Comissão Justiça, Paz e Ecologia, da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal, e a Associação para a Mudança e a Representação Transcultural apelam ao diálogo e a soluções alternativas às demolições de habitações e famílias sem teto no bairro de Talude, em Loures.

“A autoconstrução só determinadas comunidades a fazem, isto é interessante, todos estes fenómenos devem ser estudados e de alguma forma perceber-se em detalhe o porquê. O que podemos dizer é que o Talude tem sido uma plataforma em que as comunidades vêm, quando resolvem os seus problemas, conseguem melhores condições, vão para outros locais”, disse Rolando Borges, da Associação para a Mudança e a Representação Transcultural (AMRT), em entrevista à Agência ECCLESIA.

O entrevistado assinala que a autarquia de Loures, “desde sempre, fez demolições”, e considera que era preciso também se fazer “um levantamento, perceber em que situação estão estas famílias, e o porque é que estão ali”.

“Demolir sem solução, as pessoas vão continuar a procurar outro tipo de soluções, que infelizmente têm acontecido, casas superlotadas, e isto até não abona a favor da saúde pública. Então, o que interessa é tentarmos perceber e focar aqui a discussão, como não aumentar o número de pessoas”, acrescentou.

Rolando Borges explicou que a AMRT, “no passado” conseguiu um acordo com a Câmara Municipal de Loures, “em 2022, salvo erro”, “não havia mais demolições, mas também não havia mais construções”, mas a associação não tem “capacidade de gerir um território”, e as pessoas dizem também que não podem “impedir” que outros, como elas, encontrem as suas soluções.

“A Associação tem acompanhado no que pode. Nós, desde sempre, temos trabalhado com os proprietários do terreno para procurar soluções, e conversado também com a câmara municipal, que até lançou um desafio de criarmos uma cooperativa de habitação. Estamos nesse processo e começámos este ano”, referiu, lembrando que, “há cerca de 5 anos”, “criaram a Plataforma Habitação de Loures, que veio dar origem a esta cooperativa de habitação”, com outros bairros e zonas de Loures “que estavam com este problema”.

Daniel Lobo, da Comissão Justiça, Paz e Ecologia, da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CRIP) destaca que “é preciso salvaguardar de preferência antes dos despejos acontecerem”, o que, infelizmente não aconteceu, mas, neste momento, é preciso “continuar com a suspensão das demolições”, e Rolando Borges acrescenta que “foi muito importante” a providência cautelar, que suspendeu as demolições.

A Comissão Justiça, Paz e Ecologia da CRIP tem discutido e tentado acompanhar esta situação em particular através de “contactos no terreno, junto de pessoas de associações, de pessoas da Igreja”, em primeiro lugar, para compreender o que é que está a acontecer, “porque cada caso é um caso, e o objetivo é poder ajudar”.

“Se não podemos estar no terreno, pelo menos que utilizemos o telefone para ligar, para falar, para perceber o que é que está a acontecer, e a partir daí perceber qual é que é o melhor caminho, a melhor orientação da nossa ação. Temos vindo a promover e divulgar algumas alternativas, temos vindo a intervir por escrito junto da Câmara Municipal de Loures, para evitar exatamente este tipo de situação, que é uma situação limite”, desenvolveu Daniel Lobo, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje, na RTP2.

Rolando Borges realçou que “as pessoas não pediram dinheiro, procuraram uma solução, com os seus parcos meios”, e existem situações de pessoas que trabalharam três, quatro meses e “não receberam dinheiro”, por causa disso “foram encontrar uma solução no Talude”.

“O que exigimos é que se trate de garantir os direitos humanos. E nós temos assistido que, em determinadas situações de demolições, esse respeito não existe. Quase que leva a pensar que nós queremos que os imigrantes deem o apoio todo que é preciso, mas depois não estamos a cuidar da saúde física, da saúde mental, se eles próprios têm essa iniciativa”, conclui..

PR/CB/OC

 

A AMRT, que nasceu em 1993 com o nome Associação de Melhoramentos e Recreativo do Talude, contextualiza que as famílias começaram a morar na Estrada Militar, que começa em Oeiras até ao Rio Trancão, “logo a seguir ao 25 de Abril (1974)”, onde se encontravam também retornados das antigas colónias portuguesas, e “migrantes do norte e do sul de Portugal”.

“Este território na zona do Catujal ficou ainda por resolver. E quando os meus pais foram morar para o bairro o problema já existia, mas neste caso não tinha água, não tinha luz, não tinha estrada, isto foi em 82; entretanto, em colaboração com a autarquia, junta de Freguesia e Câmara, colocou-se abastecimento de água no bairro, energia elétrica também, alcatroou-se a estrada”, partilhou Rolando Borges.

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