Bispo do Funchal acredita num grande pontificado de Bento XVI Se o Cardeal Ratzinger era conhecido como teólogo eminente, dotado de inteligência rara, poucos conheciam a sua humildade, simplicidade de vida, profundidade espiritual e acatamento a Jesus Cristo, à Santíssima Virgem e à Igreja. Na véspera do Conclave conversou familiarmente na Praça de São Pedro com dois estudantes desta Diocese. Os jovens ficaram radiantes. Com alguma experiência romana em quatro eleições de sucessores de São Pedro, fiquei admirado e satisfeito pelos senhores cardeais terem escolhido um Papa em 36 horas e 4 escrutínios! Admirável! Merecem Parabéns! Antes da eleição, no momento da grande curiosidade de fiéis e jornalistas sobre o futuro Papa, disse um prelado italiano que Deus já tinha escolhido o sucessor de João Paulo II e que agora competia aos cardeais, através da oração, conhecer o eleito de Deus. Esta visão de fé é partilhada pelos cristãos em todas as idades da Igreja. Desde há vários anos, tanto em Roma como no Funchal como bispo, sempre admirei e fui seduzido pela inteligência, clareza e profundidade teológica do professor Ratzinger, mais tarde Arcebispo de Munique e desde 1981, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Nestes últimos tempos estou a ler um colóquio-entrevista do escritor jornalista Peter Seewald, redactor do Spigel, do então Cardeal Ratzinger, publicado num livro da San Paolo, com o título de «Il sale della terra». Neste livro, o cardeal responde a todas as questões difíceis que se põem à Igreja no início do terceiro milénio, incluindo o celibato, os anticoncepcionais, o aborto, os divorciados recasados, a ordenação das mulheres, o futuro da Igreja, a verdadeira história do mundo. A Congregação para a Doutrina da Fé, é conhecida por muitos como um lugar de condenações, continuadora da Inquisição, e o cardeal que a preside não goza de grande popularidade. Este peso foi levado com paciência e sabedoria pelo Cardeal Ratzinger que encontrou no Papa João Paulo II um grande admirador e consultor assíduo dos temas mais difíceis sobre os quais a Igreja devia pronunciar-se. Para elucidar os leitores, esta Congregação tem duas secções, uma disciplinar que se ocupa dos problemas e delitos dos sacerdotes, e outra mais conhecida, a doutrinal que tem como finalidade promover, ou seja, ajudar o diálogo na família dos teólogos, e defender a fé no contexto do mundo actual, com o seu relativismo, ideologia agnóstica, ateia, e perda da identidade da fé. Bento XVI 2 — Se o Cardeal Ratzinger era conhecido como teólogo eminente, dotado de inteligência rara, poucos conheciam a sua humildade, simplicidade de vida, profundidade espiritual e acatamento a Jesus Cristo, à Santíssima Virgem e à Igreja. Na véspera do Conclave conversou familiarmente na Praça de São Pedro com dois estudantes desta Diocese. Os jovens ficaram radiantes. O nome escolhido pelos Papas tem um profundo significado. Bento XVI está relacionado com Bento XV (1914-1922) que por sua vez escolheu este nome por causa do evangelizador da Europa na primeira idade média, o monge São Bento. O Papa Bento XV teve um pontificado de sete anos, mas é considerado um dos mais intensos e importantes da história contemporânea da Igreja, nalguns aspectos: defesa da autonomia do magistério eclesiástico; ampliação e actualização das intervenções da Igreja nas obras de assistência numa sociedade destruída pela primeira grande guerra e revolução, portanto homem da paz; intensa actividade missionária; promulgação do Direito Canónico (1917); pacificação entre os católicos nas polémicas entre integristas e mo-dernistas; santificação do Clero; e, no campo ecuménico, aprovação da semana de oração pela unidade dos cristãos (1916). Escreveu então: «A Igreja não é latina, nem grega, nem eslava, mas católica, não há dife-renças entre os seus filhos…». Cano-nizou duas mulheres – Joana d’Arc e Margarida Maria Alacoque. A escolha deste nome pelo nosso Papa, indica uma missão semelhante a cumprir, na continuidade e actualização do ministério de João Paulo II, do qual conhecia o pensamento, bondade de coração, santidade de vida e amor profundo a Maria, Mãe de Jesus e Mãe da Igreja. Novo fogo e novo acento 3 — Um dos temas sobre o qual o novo Papa se pronunciou mais vezes, foi a necessidade do anúncio de Cristo e do seu evangelho num mundo relativista. «Hoje, afirmou, dá-se um domínio do relativismo, quem não o foi é intolerante. Compreender a verdade essencial, é visto como algo de intolerante. Mas na realidade esta exclusão da verdade é um tipo de intolerância muito grave e reduz as coisas essenciais da vida humana ao subjectivismo… Perdemos assim os fundamentos éticos de nossa vida comum». Os católicos que ficaram chocados com esta eleição, devem esperar muitas novidades do novo Papa que, nalguns aspectos, nos recorda o bom Papa João XXIII. Se os cardeais para substituir João Paulo II, cognominado o Grande, escolheram tão rapidamente o novo Papa, tinham razões profundas porque todos eles amam a Igreja e sabem que para a transmissão da fé, é necessário um novo fogo e um novo acento. O pluralismo e a variedade de culturas estão presentes e visíveis na Igreja e os outros continentes influenciarão decisivamente o seu futuro. Evangelizar, eis a primeira missão da Igreja, constituindo novas comunidades capazes de se ajudarem mutuamente e encontrando formas concretas de vida na fé. Hoje já não basta o ambiente social para ser cristão, a Igreja tem de constituir espaços onde seja possível experimentar e praticar dentro de realidades mais pequenas a grande realidade do mistério da Igreja. Mas, como diz São Paulo aos Coríntios, (I Cor. 13, 1) acima de tudo a caridade. «A história, afirmou Clemente XVI, quando Cardeal, é em geral a luta entre amor e incapacidade de amar, entre amor e a resposta negativa ao amor. É o que continuamos a experimentar ainda hoje, quando a autonomia do homem o leva a afirmar: não quero, de facto, amar, porque assim me tornarei dependente e isto contrasta com a minha liberdade… a decisão que deriva de Cristo é diversa: «sim ao amor, porque só esse, correndo exactamente o risco do sofrimento e perda de si, leva o homem a si mesmo e torna-o aquilo que deve ser». Que Deus abençoe, proteja e defenda o nosso Santo Padre. Funchal, 24 de Abril de 2005 D. Teodoro de Faria, Bispo do Funchal