Guerra/Ucrânia: «A Europa não pode ignorar isto», afirma presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

D. José Ornelas defende que é necessário repensar o continente europeu, que «tem muito que dar à humanidade», no âmbito da assembleia Plenária do CCEE

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Fátima, 10 out 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, defendeu, esta quarta-feira, que a Europa não deve ser alheia à invasão russa da Ucrânia.

“Esta é uma ferida muito grande, não é só para eles [ucranianos], é uma ferida na Europa, e portanto a Europa não pode ignorar isto, não pode passar-lhe ao lado”, referiu o bispo de Leiria-Fátima, em declarações à Agência Ecclesia, em Fátima.

Os presidentes das Conferências Episcopais da Europa estão reunidos desde sexta-feira em Assembleia Plenária, com um programa dedicado ao tema ‘Como ser discípulos missionários numa Europa secularizada’.

D. José Ornelas referiu que este encontro não significa que “meia dúzia de generais” se reúnem para fazer “um Summit da Igreja Católica na Europa”, destacando que “por trás de cada bispo” que ali se encontra “estão outros bispos” e “comunidades”.

Como numa família, onde há um filho, uma filha que sofre, todos os outros sofrem com ela, e sem dúvida que a Ucrânia vai nos ocupar um tempo, um tempo muito importante”, assinalou.

O presidente da CEP refere, no entanto, que “esta mesma Igreja está também na Rússia” e noutros “países à volta” e que este é um desafio que os bispos têm em mão.

“Mas também oportunidade que nós temos de sermos um elemento fundamental para criar sensibilidade e valores que nos possam guiar em conjunto”, vincou.

Atualmente, D. José Ornelas considera que a Europa não está a conquistar “a importância dos ecrãs” e que é necessário “repensar” o continente.

“Este continente tem muito a dar à humanidade, mas tem de voltar às suas raízes. Voltar às suas raízes não quer dizer voltar para trás”, sublinhou.

Sobre o Sínodo e as indicações da Santa Sé para que o continente europeu se encontre a falar da sua realidade, o bispo de Leiria-Fátima entende que, depois do processo nas paróquias, dioceses e conferências episcopais,” esta fase continental era fundamental”.

“É a articulação para chegarmos depois em ambientes sucessivos desta rede que significa a fé partilhada, de chegarmos à procura também de análises e sobretudo de atitudes que ajudem a uma resposta mais adequada aos tempos de hoje, que nos ajudem a todos, e cada continente tem o sua modo de fazê-lo”, indicou.

Foto: CCEE

Relativamente ao tema da Assembleia Plenária do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), o presidente da CEP observa que a “secularização, sem dúvida, é uma realidade muito presente” na Europa.

“Às vezes, a secularização é uma reação a uma consciência de uma religiosidade que deixou de ter significado, também pela sua falta de linguagem adequada aos tempos atuais”, referiu, apontando a procura pela variedade de tradições religiosas como outro dos motivos.

Ainda assim, D. José Ornelas realça que “as recentes sondagens de opinião, credíveis, tanto em Portugal como na Europa, dão também conta de que há uma sede e uma busca de espiritualidade e de religiosidade”.

“Só que depois isso agora se alarga e temos muitas visões”, observa.

O bispo de Leiria-Fátima enfatiza que é necessário apresentar a mensagem do Evangelho “com linguagem que seja credível e que seja apetecível para aqueles a quem se dirige”.

“Isto é o desafio em cada tempo e em cada seu lugar, e que a Igreja foi fazendo ao longo dos séculos. Não vivemos, eu se olho para o passado, não vejo outro tempo em que me apetecesse melhor viver do que aquele de hoje, embora com todos os desafios que nós temos”, expressou.

Para D. José Ornelas, “falar de um mundo secularizado significa um mundo que está respirando com outras perspetivas, que se abre a uma multiculturalidade já presente”.

“Não precisamos de mudar de continente para ir à procura da interculturalidade, ela fez-se pela própria evolução do continente e daqueles que vieram integrar esse continente”, referiu.

Tal, segundo o bispo, “não é a catástrofe com que muitos querem lidar manipulando os medos daquilo que é desconhecido e daquilo que é uma nova realidade”.

A Assembleia Plenária do CCEE de 2025 encerra-se hoje.

OC/LJ

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