Guerra: «Auschwitz passou a ser um laboratório de aprendizagem ao pé do que estamos a ver hoje», afirma arcebispo de Évora

D. Francisco Senra Coelho acredita que «estratégias diplomáticas» e «armamentos mais sofisticados» não contribuirão para uma «paz duradoura», mas para «períodos ilusórios de paz»

Foto: Lusa/EPA

Évora, 29 jun 2025 (Ecclesia) – O arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, afirmou esta sexta-feira que é “muito doloroso” assistir ao cenário internacional marcado por guerras, que são “consequência de um mundo sem amor”.

“Afinal, Auschwitz passou a ser um laboratório de aprendizagem ao pé do que estamos a ver hoje. A fome, a miséria de pratos, de tigelas, enfim, de bacias a reclamar por um pedaço de massa cozida”, afirmou, em declarações à Agência ECCLESIA, na passada sexta-feira, evocando os campos de concentração nazi, na Polónia.

“Já não temos direito, já não temos direito a olhar para Auschwitz com uma atitude de acusação, porque a nossa geração está a fazer pior”, considerou o arcebispo de Évora.

D. Francisco Senra Coelho olha para os diversos conflitos mundiais como “o vazio do amor de Deus”, entendendo que se está a acolher aquilo que foi semeado, isto é, a “morte de Deus”.

“A morte de Deus é a morte do amor. A morte da paternidade. Esquecemo-nos de construir esse amor e deixámo-nos de ser irmãos, desaprendemos a fraternidade. O que nós estamos a viver é um avesso da vida. Não a vida às direitas na beleza, mas o avesso da vida que é a morte”, sublinhou.

O entrevistado acredita que “não são estratégias diplomáticas, que não são armamentos mais sofisticados que contribuirão para uma paz duradoura, uma paz progressiva, uma paz em desenvolvimento”.

“Penso que poderá originar períodos ilusórios de paz. Mas aquilo que gera a paz é o coração humano. Só no coração humano pode nascer a paz. E é necessário que chegue ao coração humano este dom imenso da paz, que é um dom que brota de um Deus que nos ama e que nos faz instrumentos do seu amor”, referiu.

O arcebispo de Évora não vê “uma possibilidade de uma paz meramente marcada pelas estratégias humanas”, indicando que esta “tem que brotar da conversão dos corações humanos”.

Fica esta pergunta: ‘Onde é que nós estamos? Onde estão os cristãos? Onde estão os construtores da paz? Onde estão os diplomatas? Onde é que nós estamos, afinal? […] Não temos grande resposta”, constatou.

Apesar de “tantas estruturas académicas, de tanto desenvolvimento universitário, estudos profundos de política, de diplomacia”, o responsável católico lamenta que não se consiga “resolver” guerras.

“As situações agudizam-se e nós percebemos que a paz é um dom. E é um dom que precisa de Deus. Porque a paz passa pelo coração e só Deus chega ao nosso coração”, referiu.

Para o arcebispo de Évora, “as guerras são a troca de valorização”, realçando que “em vez de se valorizar o homem e a pessoa humana, valoriza-se a matéria, na ganância”.

“Valoriza-se a matéria na ambição máxima do poder e aí acontece o que nós vemos”, assinalou.

No entender de D. Francisco Senra Coelho, “o dinheiro que leva ao poder” e “esta economia que mata, como diz o Papa Francisco, tem que ser convertida numa economia ao serviço da pessoa humana”.

LJ/OC

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