UCP homenageia Prof. Joaquim Carreira das Neves na sua Jubilação Uma vida dedicada ao serviço da Palavra, com mais de 40 anos de estudo, investigação e produção científica foi hoje alvo de homenagem na Universidade Católica Portuguesa (UCP), em Lisboa. A lição de Jubilação do Prof. Joaquim Carreira das Neves, professor catedrático da Faculdade de Teologia, na área da Teologia Bíblica, juntou, esta manhã, professores, alunos, antigos alunos, amigos e familiares num tributo sentido a um homem que se definiu como “guardião e estudioso deste livro admirável chamado Bíblia, por graça de Deus e da Igreja”. A figura deste religioso Franciscano que fez da exegese o seu ofício é conhecida muito para além do âmbito académico, em parte devido à presença habitual nos meios de comunicação social, muitas vezes no programa ECCLESIA. O Pe. Carreira das Neves tornou-se, assim, num “mestre” para católicos e mesmo não-católicos quando o assunto era a Bíblia. Hoje, no repleto auditório Cardeal Medeiros, o professor deixou uma lição sobre o tema teológico da sua predilecção de toda a sua carreira académica: Jesus Cristo, aquele que ao longo de 2 mil anos despertou e continua a despertar paixões, discussões acaloradas, estudos e abordagens das mais diversas. Ainda hoje, muitos fenómenos surgem em volta desta figura: obras como “O Código da Vinci” e a vaga do “New Age” fazem reviver correntes dos primeiros séculos do Cristianismo, como o docetismo, o gnosticismo e os “falsos profetas” de que falam as Cartas de São João. Para o Pe. Carreira das Neves é importante “estar atentos a este tipo de fenómenos, não para os destruir, mas para os interpretar”. Essa atenção foi a marca fundamental da sua vida académica, que se multiplicou em vários esforços e espaços de acção, marcados pela vontade de investigar, compreender e divulgar o valor da Palavra contida no Livro dos Livros. “A Bíblia não caiu do Céu, não foi Deus que a escreveu, mas a Igreja judaica e cristã”, disse na sua lição. A ideia pode parecer chocante para muitos, como o próprio admitiu, mas o biblicismo – como qualquer fundamentalismo – é um perigo a não ignorar, para que a Bíblia “não se torne uma tirania, à maneira do Alcorão de certos fundamentalistas islâmicos”. Mais tarde, em declarações aos jornalistas, o Pe. Carreira das Neves frisou que “a Bíblia é uma mediação, não um absoluto, mas um caminho para Deus e para Jesus Cristo”. É desse mesmo Jesus Cristo que os Evangelhos falam, não como relatos com finalidade histórica factual, mas como “uma Boa Nova de catequese cristã sobre o aparecimento histórico de Jesus”. “Se a Igreja, nas metáforas de ‘assembleia’, ‘corpo’ ou ‘construção’ é o objecto do querigma cristão, dinamizado pela força da história e do Jesus Ressuscitado e continuado no seu espírito, a tónica final, na dialéctica entre o Jesus da história, da fé e da Igreja, deve ser colocada no Jesus da Igreja”, conclui o exegeta, numa espécie de “testamento académico” que fez questão de repetir. “A pessoa de Jesus tem de se entender dentro da Igreja porque Ele não escreveu nada, nem mandou escrever nada, não deixou nenhum testamento escrito, apenas falou, conversou, pregou e pediu para pregar. Daí que é muito complicado falarmos do Jesus da História”, acrescentou em conversa com os jornalistas. Ao Sabor da Palavra A esta homenagem associou-se a Didaskalia, revista da Faculdade de Teologia, com um número especial intitulado “Ao Sabor da Palavra”. O Pe. José Tolentino de Mendonça, director da publicação, explicou que este título faz referência “a um encontro vital jubiloso” e que pode ser entendido como “um brinde ao sabor profundo dessa Palavra”. O volume nº 35 é o maior da história desta publicação, contando com artigos de 39 colaboradores e inaugurado com uma palavra de abertura de D. José Policarpo, Cardeal-Patriarca de Lisboa e Magno Chanceler da UCP, que sublinha “o papel lúcido e competente” de Joaquim Carreira das Neves. Os artigos vão desde a exegese e a cultura bíblicas aos campos da teologia, espiritualidade, moral, filosofia e história, como forma de vincar a “exemplaridade humana e científica” do homenageado. Manuel Braga da Cruz, Reitor da UCP, não quis deixar de celebrar o “papel do magistério” do Pe. Carreira das Neves, um dos “fundadores” da Universidade, que considerou “um mestre para todos”. “O seu nome figurará num lugar de honra quando se escrever a história da UCP, o que espero não demore muito”, concluiu Braga da Cruz. Nascido a 26 de Junho de 1934 na localidade de Caranguejeira (Leiria), Joaquim Carreira das Neves professou na Ordem Franciscana no ano de 1951, sendo ordenado sacerdote em 1958. No ano seguinte obtém a Licenciatura no “Antonianum” de Roma, para, em 1963, conclui a Licenciatura “in Re Biblica” no Pontifício Instituto Bíblico da capital italiana. O Doutoramento em Teologia Bíblica aconteceria em 1967, na Universidade Pontifícia de Salamanca. Da sua investigação ganham destaque os escritos sobre o Novo Testamento e a pessoa de Jesus. Como refere D. José Policarpo, na “Didaskalia”, “a sua obra escrita mostra que a exegese não lhe era alheia e que ele sabia ler o texto sagrado, pondo em relevo a sua convergência com a fé da Igreja”.