Guarda: «Se começarmos a viver mais sinodalmente na Igreja, a maior participação de mulheres, dos leigos e os temas fraturantes acontecerão por acréscimo» – padre Jorge Castela

Desejo de participação, responsabilidade eclesial dos leigos, menos «autorreferencialidade» diálogo com a sociedade marcaram participação no processo sinodal na diocese da Guarda, que espera mudança de bispo

Foto: Diocese da Guarda

Guarda, 31 mai 2024 (Ecclesia) – O padre Jorge Castela, da equipa sinodal da Diocese da Guarda, afirmou que o Sínodo dos Bispos em curso sobre comunhão, participação e missão na Igreja é o “passo” mais próximo e “revolucionário” depois do Concílio Vaticano II.

“Estou convencido que, depois do Concílio Vaticano II, este sínodo é o passo que mais lhe equivale, é um momento da Igreja mais revolucionário, se pudermos chamar, mas eu também não estou à espera que haja grandes revoluções – uma das coisas que este sínodo nos pode trazer é um exame de consciência para perceber que a Igreja é muito mais do que a hierarquia, e que tem que estar em constante diálogo com o mundo, porque ela vive no mundo e vive para o mundo”, explica à Agência ECCLESIA.

“As pessoas estão na expectativa de que hajam revoluções no sentido da participação das mulheres, que eu também desejo, na participação dos leigos, que eu também desejo, no tratamento de assuntos fraturantes dentro da Igreja, que eu também desejo, mas não me foco aí. Porque eu acho que se nós começarmos a viver mais sinodalmente na Igreja, tudo isto virá por acréscimo”, acrescenta.

A equipa de acompanhamento sinodal na Diocese da Guarda foi instituída em outubro de 2021, no ano em que o Papa Francisco deu início ao processo.

“Nós tivemos a preocupação de chegar ao maior número de pessoas possível. É verdade que nós estamos numa Diocese que não tem, assim, tanta gente, mas tem gente e, quando D. Manuel Felício nomeou a comissão a que eu presidi, houve esta preocupação de montar uma estrutura que chegasse ao maior número de pessoas”, regista.

A diocese criou três propostas: um inquérito geral, outro dirigido a jovens e outro a crianças, apresentando ainda “uma proposta relacionada com criação de grupos sinodais de reflexão” procurando abrir “fóruns” para “núcleos e âmbitos da sociedade”.

“Temos consciência que a Igreja, este tal novo povo de Deus que caminha, como o próprio Sínodo nos diz, não se restringe apenas àquilo que é a Igreja propriamente dita para dentro. Nunca podemos ser um gueto, não podemos ser autorreferenciais, são palavras que o Papa também utiliza muitas vezes, e nessa perspetiva achámos que havia a necessidade de abrir esta reflexão a quem não está habitualmente na Igreja, ou que, mesmo estando na Igreja, tem uma perspetiva também fora dela”.

O responsável dá conta de uma “expectativa do que poderá acontecer depois”.

“Estou convencido que de tudo isto que se está a fazer na Igreja, a experiência sinodal em si, vai ser a parte mais positiva – que se perceba que é possível ouvirmo-nos, que se perceba que é possível conversarmos, confrontarmos ideias. Pessoalmente é das coisas que eu acho mais ricas neste processo”, sublinha.

O padre Jorge Castela regista cerca de 3500 respostas aos inquéritos, na primeira fase do processo, com a participação de “alguns jovens e bastantes crianças”.

As respostas foram marcadas pelo “desejo de participar”, por uma necessidade de “participação laical” e deste laicado “ser formado”, uma maior “responsabilidade eclesial dos leigos” através de ministérios, “menos autorreferencialidade” e de se “abraçar alguns temas fraturantes, ou, pelo menos, abrir a reflexão a alguns tipos de assuntos que interessam à Igreja refletir”.

“Houve um desejo de fazer uma Igreja mais participativa, mais aberta, mais inclusiva, mais acolhedora, mais dialogante”, sublinha.

O padre Jorge Castela assinala, no entanto, não esperar “grandes resoluções” ou alterações na Igreja, afirmando que as experiências do processo são “valiosas em si”.

“Estou convencido que o desejo do Papa, mais do que tirar grandes conclusões teóricas ou práticas de todo este processo, era que se fizesse a experiência da sinodalidade. E, na verdade, a partir do momento em que há uma comissão que se junta para refletir sobre o assunto, em que se criam grupos de reflexão, em que se encontram espaços em que as pessoas possam escutar e dialogar, para mim, acho que isto já é uma mais-valia. E provavelmente será a mais-valia de todo este processo, na minha opinião”, traduz.

Referindo-se à segunda fase do processo sinodal, correspondente à fase continental, em que as dioceses deveriam pronunciar-se sobre a reflexão ocorrida em outubro último, e enviar um relatório final até março, o responsável da Guarda assinala que a participação diminui bastante.

“Estamos numa fase de mudança de bispo, ele próprio terá outros assuntos importantes para tratar, e creio que isso também impediu o mesmo entusiasmo do início. Mas, ainda assim  fizemos um grande encontro de formação e foi muito positivo. Depois, houve reflexão, sobretudo nos Conselhos Presbiterais e no Conselho Pastoral da Diocese”, finaliza.

O processo sinodal na Diocese da Guarda vai estar em destaque no programa Ecclesia deste sábado, na Antena 1, pelas 06h00.

LS

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