Bispo passa testemunho no próximo domingo, após 20 anos de serviço às comunidades locais

Guarda, 12 mar 2025 (Ecclesia) – D. Manuel Felício, administrador apostólico da Diocese da Guarda, considera que a responsabilização dos leigos na vida das comunidades católicos é um dos campos em que é preciso “avançar”, na Igreja local.
“Que os sacerdotes ocupem a sua função, os diáconos assumam as responsabilidades como estão a assumir, e haja leigos identificados na sua capacidade. Chamados, acompanhados, formados, para que assumam responsabilidades nos vários serviços diocesanos que temos. Estes são os pontos em que há que investir e há que não desistir deles”, refere o responsável, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O responsável católico passa em revista 20 anos ao serviço da diocese, a poucos dias de passar o testemunho a D. José Miguel Pereira, que vai ser ordenado bispo e tomar posse este domingo, na Catedral da Guarda.
Para D. Manuel Felício, além da Escola Teológica de Leigos, a diocese tem de apostar em “ministérios de serviços”, oferecendo formação para os serviços laicais.
Após duas décadas, a Diocese da Guarda passou de 150 sacerdotes para menos de 100, a que se somam agora 21 diáconos.
“Graças a Deus, temos muitos leigos espalhados pela Diocese que dão o melhor de si mesmos, para que os serviços paroquiais avancem. São dados novos que temos de acrescentar àqueles que vinham de trás”, indica o responsável.
O administrador apostólico admite que falta maturidade no compromisso dos leigos, para que possam “assumir responsabilidades” nas comunidades católicas.
“Um dos aspetos da nossa reorganização pastoral e diocesana é que cada pároco deve ter a sua equipa pastoral com a qual se reúne, que faz parte das decisões que se tomam”, explica.
Não progredimos o suficiente nestas orientações. Temos de progredir, porque aqui há toda uma mentalidade nova em que eu não sou apenas o chefe, mas faço-me assistir por aqueles que me podem ajudar. Isto é o cumprimento do desígnio sinodal em que tanto estamos a insistir”.
A 21 de dezembro de 2004, o Papa João Paulo II nomeou D. Manuel Felício como bispo coadjutor da Diocese da Guarda, que tomou posse a 16 de janeiro de 2005, passando no dia 1 de dezembro do mesmo ano a bispo diocesano, por aceitação da renúncia de D. António dos Santos.
“Foram 20 anos que tentei que fossem de serviço. Serviço dentro das minhas capacidades e limitações, mas serviço a todos, sem excluir ninguém, contando o mais possível com todos os colaboradores que Deus pôs à minha disposição”, refere o entrevistado.
O responsável identifica como “três momentos marcantes” das últimas décadas as duas Assembleias do Clero (2010 e 2012) e a Assembleia de Diocesana de Representantes (2017).
“Chegaram-se algumas conclusões que depois eu resumi numa carta pastoral, em 2018, que mandei à Diocese, com seis pontos essenciais onde devíamos investir. E, portanto, é a partir daí que nós, quer através dos serviços diocesanos constituídos, quer através do esforço de reorganização da própria Diocese, temos vindo a dar cumprimento a essas orientações”, observa D. Manuel Felício, em declarações emitidas hoje no Programa ECCLESIA (RTP2).
O responsável admite avanços nalguns pontos, como a reorganização pastoral da Diocese, e outros que “não têm pleno cumprimento”, com “muitos mais passos a dar”.
Para D. Manuel Felício, duas “prioridades” para o futuro da diocese são “a pastoral vocacional e a formação”, unindo-as à preocupação com a “pastoral familiar e juvenil”.
Questionado sobre o futuro, o bispo emérito diz estar ao dispor do seu sucessor. D. José Miguel Pereira.
“Sou desta diocese e não deixaria de o ser. Espero as ordens do novo bispo”, indica.
O programa ‘70×7’ do próximo domingo, com emissão às 07h30, na RTP2, vai ser dedicado à chegada do novo bispo à Diocese da Guarda.
PR/OC
Nascido a 6 de novembro de 1947, em Daire, Viseu, D. Manuel Felício frequentou os seminários de Fornos de Algodres e Viseu entre 1960 e 1968 e o Seminário de Cristo-Rei dos Olivais.
A ordenação sacerdotal aconteceu a 21 de outubro de 1973, na Igreja Matriz de Mangualde, na Diocese de Viseu, e nesse mesmo ano até 1988 integrou a equipa sacerdotal da paróquia de Mangualde. Depois, empenhou grande parte do tempo na vida académica, tendo-se licenciado em Teologia, em 1975, pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, com a tese “A Infalibilidade da Igreja ‘in credendo’ na “Lumen Gentium”. D.Manuel Felício trabalhou também no diálogo ecuménico e inter-religioso na Conferência Episcopal Portuguesa. Foi secretário da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé desde 1990, vice-reitor do Seminário Maior de Viseu até 2001, professor no polo de Viseu da UCP e também professor auxiliar da Faculdade de Letras desta mesma universidade, onde é membro efetivo do Conselho Científico. D. Manuel Felício desempenhou o cargo de coordenador do processo da extensão em Viseu do Instituto Universitário de Ciências Religiosas, sediado em Lisboa, e responsável do processo de filiação do Seminário Maior de Viseu na Faculdade de Teologia de Lisboa da Universidade Católica Portuguesa, entre 1992 e 1995. Dois anos depois tornou-se diretor do Instituto Superior de Teologia das dioceses da Guarda, Lamego e Viseu, que assumiu até 2001. Em 2002, completa o doutoramento em Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa com a tese “Portugal e a Definição Dogmática da Infalibilidade Pontifícia: Teologia, Magistério, Debate Público”. Entre os trabalhos publicados, contam-se “Ecumenismo. In Historia Religiosa de Portugal: Dicionário Temático” (2000), “Universidade Católica Portuguesa – Projecto com Identidade. Para uma leitura crítica dos seus estatutos” (1998), “Diálogo Ecuménico em Portugal. Elementos para a sua história” (1997), e “Para um Modelo Cristão de Desenvolvimento” (1992). Em outubro de 2002, é nomeado bispo auxiliar de Lisboa pelo Papa João Paulo II, acompanhando no Patriarcado as vigararias do Oeste e animado o diálogo inter-religioso. Ao serviço da Diocese da Guarda, D. Manuel Felício ocupou o cargo de bispo coadjutor e, depois, bispo diocesano. No dia 20 de dezembro de 2024, o Papa Francisco nomeou o cónego José Miguel Barata Pereira como bispo da Guarda, aceitando a renúncia de D. Manuel Felício que completou 75 anos em 2022. |