Guarda: Bispo reflete sobre o silêncio em procissão no Domingo de Ramos

D. José Miguel Pereira presidiu ao cortejo, no início da Semana Santa

Guarda, 14 abr 2025 (Ecclesia) – O bispo da Guarda refletiu sobre o silêncio, na procissão que presidiu entre a Igreja da Misericórdia e a Sé da cidade, no Domingo de Ramos.

Partindo do Evangelho de São Lucas, da passagem “Eu vos digo: se eles se calarem, clamarão as pedras”, D. José Miguel Pereira abordou o silêncio a partir de quatro figuras: Pilatos, Herodes, Jesus e Deus.

“Somos hoje confrontados com as palavras e os silêncios, as aclamações e as alienações deixamos entrar na nossa vida”, afirmou o bispo diocesano, começando por contextualizar o silêncio de Pilatos.

Segundo o bispo da Guarda, “este é o silêncio cobarde pelo que poderá acontecer”, o “silêncio interesseiro para manter uma paz podre e conseguir benefícios no futuro”.

Ao mesmo tempo, assinala D. José Miguel Pereira, é o “silêncio de descompromisso de quem foge às responsabilidades, de quem não decidiu a tempo e fica refém da situação” e o “silêncio de transferência para não ter de decidir”.

Por seu lado, o silêncio de Herodes contempla a “desilusão e o desrespeito porque não pôde manipular a seu interesse”.

“[É o] silêncio de quem devolve à procedência, indiferente ao que sabe ir acontecer”, referiu.

Abordando o silêncio de Jesus, o bispo diocesano associou-o “ao silêncio de Iavé que permanece firme diante da rejeição, fiel e inteiro até ao fim, na entrega que alenta os abatidos, sustenta os vacilantes e salva os pecadores”.

Além disso, destaca D. José Miguel Pereira, é o “silêncio do abaixamento, que assume a condição do mais pequeno e desconsiderado para o elevar e renascer”, indicando que “a vida acontece sem fazer barulho”.

“Silêncio do último lugar, do menor, do servo que dá vida. Silêncio pacificador, que recusa as contendas e a espada (fica e da palavra que fere) e a quem basta o testemunho do amor do Pai, a fidelidade à vontade do Pai. Silêncio da oração, fiel mesmo no desconforto, de quem se alimenta da intimidade com o Pai”, desenvolveu.

O silêncio de Jesus é também “o silêncio do olhar fito sobre aquele que Ele ama, capaz de tocar fundo, iluminar a infidelidade e provocar uma torrente de lágrimas que põe em marcha o recomeço” e dos “milagres feitos para satisfazer os desejos de quem os pede, pois estão apenas ao serviço do anúncio do Reino”, declarou.

“Silêncio do último suspiro, testemunho do justo que nos justifica porque não assumiu o caminho sem desistência que nos abriu lugar para nós. Silêncio do repouso no sepulcro onde o estar em Deus se torna lugar de vitória e possibilidade de entrar na vida renovada/ressuscitada”, disse.

Por último, D. José Miguel Pereira caracterizou o silêncio de Deus: “o silêncio do aparente abandono do Seu Filho à morte”.

“Na realidade, nele está maximamente presente a ação amorosa e salvadora de Deus que supera a desconfiança e a morte em que os seus filhos estavam reféns, resgatando-nos”, explicou.

O bispo diocesano defendeu que em todos estes silêncios Deus fala, clarificando as contradições de cada um, “abrindo caminhos que só Ele podia”, tornando todos “possível ir por estes seus caminhos” e sustentando todos nos “novos caminhos por ele abertos”.

A Igreja Católica inicia, com a celebração dos Ramos, a Semana Santa, momento central do ano litúrgico, que recorda os dias da prisão, julgamento e execução de Jesus, culminando com a Páscoa, que assinala a ressurreição de Cristo, a mais importante festa do calendário católico.

LJ/OC

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