Guarda: Bispo insurge-se contra políticas familiares

Baixos índices de natalidade «envergonham» Portugal, diz D. Manuel Felício

Guarda, 28 Mar (Ecclesia) – O bispo da Guarda insurgiu-se este domingo contra as políticas educativas e laborais que têm reflexos negativos nos agregados familiares, tendo defendido a sua renovação.

“Na hora em que está aberto o processo para repensar a sociedade portuguesa, é bom não esquecer, mas colocar na primeira linha das nossas preocupações a necessidade de reformar as nossas leis e políticas de família”, frisou D. Manuel Felício na homilia da missa celebrada em Celorico da Beira, a que a Agência ECCLESIA teve acesso.

O prelado criticou o peso que a dimensão económica ocupa na dinâmica familiar: “As famílias não são em primeiro lugar unidades de produção e consumo material. São sim, primeiro de tudo, santuários de amor e de vida, onde, no diálogo fraterno e entre gerações, se lançam as bases de uma sociedade renovada”.

A imposição de “formas de vida em que o emprego ou a actividade da produção material” ocupam todas as energias das famílias contribui para “empobrecer” a sociedade, acentuou Manuel Felício, para quem não é possível “continuar com a clamorosa falta de condições sociais” para os agregados familiares.

“Os baixos índices de natalidade que nos envergonham, mesmo dentro desta Europa envelhecida, que começa a dar alguns sinais de querer acordar, não podem deixar-nos dormir tranquilos”, afirmou o bispo da Guarda, assinalando que as famílias estão impedidas de “cumprir a sua principal responsabilidade que é oferecer à Sociedade os cidadãos bem formados que ela precisa”.

Referindo-se à influência do Estado na educação, o prelado disse que “convém pensar seriamente em devolver à sociedade civil e em particular às famílias o direito fundamental que lhes assiste de serem os protagonistas dos projectos educativos que devem ser propostos aos seus filhos”.

O responsável da Igreja Católica em Portugal pela doutrina da fé considera que “o Estado é a pessoa menos indicada para fazer projectos educativos”, dado que “é neutro e laico e os valores, a começar pelos mais nobres, não podem faltar” nesses programas.

Portugal está “a desperdiçar o capital mais importante que é o capital humano”, referiu Manuel Felício, que denunciou os sistemas educativos que “roubam” os filhos aos pais para decidirem os seus projectos pedagógicos, e “ainda por cima lhes transmitirem a mensagem de que esta é a melhor ajuda para as famílias”.

“Convém não esquecermos que pretender educar as novas gerações fora das suas famílias é experiência desastrosa já comprovada em larga escala em outros ambientes e países e temos obrigação de abrir os olhos para não repetirmos os mesmos erros”, declarou o prelado, acrescentando que não se pode “marginalizar as famílias do processo da educação, como infelizmente tem estado a acontecer”.

A missa foi celebrada no dia em que a Igreja assinalou o dia nacional da Caritas, motivo pelo qual as ofertas reunidas nas celebrações referentes a este domingo reverteram para aquela instituição católica de apoio social.

“Queremos lembrar a cada um de nós, às nossas comunidades cristãs e mesmo a toda a sociedade o dever de sermos solidários, levando a sério o princípio indiscutível do destino universal dos bens, criados para todos”, indicou Manuel Felício.

RM

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