Guarda: Bispo apresenta mensagem de Natal e defende resposta «fraterna» da Igreja à imigração

D. José Pereira refletiu também sobre o significado desta quadra, cuja origem considera estar esquecida

Guarda, 12 dez 2025 (Ecclesia) – O bispo da Guarda, D. José Pereira, apresentou hoje, no paço episcopal da cidade, a mensagem de Natal 2025, defendendo uma resposta “fraterna” da Igreja à imigração.

“Nós cristãos temos de oferecer uma resposta que não caia apenas na disputa, se é portas abertas, ou se é regulada, ou se é não sei o quê, mas que seja, de facto, fraterna”, afirmou o bispo diocesano, em declarações aos jornalistas.

Na primeira mensagem escrita para esta quadra enquanto bispo diocesano, D. José Pereira apontou que “o Natal traz um novo olhar e uma nova possibilidade às questões da imigração, das polarizações sociais e políticas, da fraternidade nas relações”.

Questionado sobre a diferença entre a questão migratória em Lisboa e na Guarda, D. José Pereira constata que na capital é mais aguda, mas que também no território diocesano são necessárias algumas atenções, que exigem o “cuidado das pessoas concretas, que possam estar em situação de menor integração, de maior indigência, de maior transição”.

O bispo considera que o Natal está esquecido da sua origem e, por isso, decidiu incluir três vezes a Sagrada Escritura no texto.

Porque não saímos deste ‘eterno retorno’ que parece manter o Natal confinado a esta fase final do ano e transição para o ano novo? Talvez porque nos tenhamos esquecido do que é o Natal, e da sua força transformadora e recriadora para o mundo”, escreveu.

Segundo D. José Pereira, se a fonte que dá raiz sólida e que cria capacidades de abrir novas oportunidades se perde, todos ficam sujeitos “aos interesses de maioria”, “de quem tem força”, “das perspetivas culturais de cada época”.

Foto: Diocese da Guarda

“O Natal é a decisão e o efeito de Deus ter vindo habitar no meio de nós; assumiu a nossa condição humana, a cultura de um povo, a sua língua, usos e costumes, sem deixar nada do que era”, realçou.

“E para nos enriquecer com o que trazia, sem com isso constituir qualquer ameaça, antes uma renovação. Refez os laços entre diferentes grupos em Israel e tornou irmãos, judeus e gentios”, acrescentou o bispo.

D. José Pereira fez referência também à perpetuação de conflitos e guerras, perseguições religiosas (como na Nigéria) e à intensificação de uma dialética maniqueísta dos maus contra os bons, aos quais todos assistem “impotentes”.

“O Natal oferece outra possibilidade de relações, fundadas numa autoridade diferente: a força da aliança e da paz sobre a inimizade e o ódio; o direito e a justiça como promoção do bem comum sobre a lógica de facção ou de grupo”, ressaltou.

No final do texto, o bispo convida a não esvaziar o Natal “para que possa impulsionar e abrir, de novo, os caminhos que o mundo necessita para os desafios que enfrenta”.

Foto: Diocese da Guarda

Entre os temas das questões dos jornalistas, após a leitura da mensagem, esteve a greve geral cotra o pacote laboral do Governo, que se realizou esta quinta-feira.

O bispo diocesano defende que a Igreja tem que se preocupar com “a situação dos mais frágeis”, isto é, “daqueles que possam ficar em situações de precariedade” e “encontrar mecanismos para que isso não aconteça”.

“Eu espero que as negociações sejam capazes de encontrar soluções para isso, creio que também é um problema, e nós sabemos que temos que aumentar a produtividade, e às vezes precisamos de alguma elasticidade, de algumas formas do mercado de trabalho funcionar”, referiu.

O responsável católico entende que a legislação laboral não pode “ficar cristalizada”, nem pode, de repente, “fazer uma revolução que perturbe a paz social, a coesão social e a harmonia nas relações entre quem contrata e quem é contratado”.

Ordenado bispo da Guarda a 16 de março de 2025, D, José Pereira está à frente da diocese há quase nove meses e admitiu que já sentiu os efeitos da interioridade.

“Sobretudo no verão, a questão dos incêndios, eu acho que é flagrante. Por isso eu falo aqui das questões do desenvolvimento regional, da organização do território, da floresta e do fogo”, salientou.

Na mensagem para esta quadra, D. José Pereira destacou que “o Natal mostra que as respostas têm de articular os centros principais e as periferias, a resposta local e todo o povo”, seja “nas grandes questões como a paz e o clima, como nas mais imediatas como o desenvolvimento regional, a organização territorial, a floresta e o fogo”.

D. José Pereira abordou também a conjugação de esforços entre as várias paróquias, dando conta que a implementação de unidades pastorais é um assunto que estará em cima da mesa no plano pastoral para os próximos anos.

“Nós temos que reconfigurar aqui o funcionamento das nossas paróquias, porque precisamos por um lado, que os cristãos nas diferentes vocações, não apenas os padres, assumam a missão de serem responsáveis da evangelização e da construção comunitária e do cuidado uns dos outros”.

LJ/PR

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