«O sindicalismo português parou no tempo, não se atualizou» – Susana Madureira Martins

Lisboa, 11 dez 2025 (Ecclesia) – Susana Madureira Martins, editora de Política da Rádio Renascença, lembrou hoje os dois milhões de pobres em Portugal, neste dia de Greve Geral, 11 de dezembro, motivada por “um anteprojeto do governo” pela revisão do Código de Trabalho.
“A verdade é que está a tentar-se flexibilizar e simplificar horários de trabalho, e também despedimentos, tendo os países do norte da Europa como exemplo, mas, a verdade, é que em Portugal os salários são de facto muito baixos, o salário mínimo está a ficar muito perto do salário médio”, assinalou a jornalista Susana Madureira Martins, em entrevista à Agência ECCLESIA.
A editora de Política da Rádio Renascença lembra que em Portugal existem “dois milhões de pobres”, o INE (Instituto Nacional de Estatística) vai “divulgar números mais atualizados”, muitos deles têm emprego e “alguns são sem-abrigo”, recebem um salário mensal, “mas não têm como pagar a renda de uma casa, e muita gente tem optado por viver na rua”.
“Há aqui um fosso entre o que está a acontecer economicamente, a economia está a crescer, não sei se é o melhor ritmo para as necessidades que o país tem, e depois há este lado social dramático de jovens, que mesmo tendo emprego, está a ser dito que há pleno emprego, mas o salário real é muito baixo”, desenvolveu a jornalista.
Esta semana começou com a notícia de Portugal a ser distinguido como a ‘economia do ano’ com melhor desempenho em 2025, entre 36 países maioritariamente desenvolvidos, pela revista britânica ‘The Economist’ para quem a economia portuguesa é “doce com um pastel de nata”.
“Há um problema social muito grave a par dessa beleza de que a ‘Economist’ vem falar. Há uma sombra por trás disso”, acrescentou Susana Madureira Martins, lembrando uma frase do atual primeiro-ministro português, Luís Montenegro, quando era ainda líder parlamentar do PSD (29 de junho 2011 a 19 de julho 2017), que “a economia está melhor, o país está melhor, mas que as pessoas ainda não sentem isso”.
Portugal vive uma greve geral, a primeira em mais de 12 anos, esta quinta-feira, 11 de dezembro, que foi convocada pelas duas centrais sindicais, para a editora de Política da Renascença o “sindicalismo português parou no tempo, não se atualizou”, e explica que “basta ir a uma manifestação de uma federação de sindicatos para perceber que nada daquela linguagem mudou”, enquanto “o mundo andou para a frente”.
“E os jovens, não sei até que ponto lhes diz alguma coisa a linguagem sindical de há 30 anos. Os jovens tendem a ter outro tipo de valorização sobre o trabalho que, eu acho, que o atual sindicalismo nem sequer está a ter em atenção”, desenvolveu, em entrevista no Programa ECCLESIA, desta quinta-feira, na RTP2.
A jornalista da emissora católica referiu também que esta greve geral contra a revisão do Código de Trabalho foi motivada por “um anteprojeto do governo”, que foi colocado “à consideração pública logo após o Orçamento do Estado, a votação final global”, e há “um conjunto de forças a lutarem tendo como pano de fundo as presidenciais”.
Para Susana Madureira Martins, editora de Política da Renascença, surgiu como “uma janela de oportunidade” para os sindicatos, “sobretudo os mais afetos ao Partido Comunista Português, a CGTP, marcar uma posição e dar uma almofada de argumentos ao candidato que o PCP apoia, António Filipe, mas também um pouco a toda a esquerda”.
A greve geral é apoiada, entre outros, pela Liga Operária Católica/Movimento de Trabalhadores Cristãos (LOC/MTC) e pela Juventude Operária Católica (JOC); a presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) defendeu a necessidade de “abertura” nas negociações laborais.
A Doutrina Social católica reconhece a legitimidade da greve quando se apresenta como “recurso inevitável, senão mesmo necessário”, tendo em vista um “benefício proporcionado”, como se pode ler no Catecismo da Igreja.
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