Governo Regional da Madeira aposta no restauro da Sé do Funchal

A Direcção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) vai investir cerca de 2,6 milhões de euros nos próximos cinco anos (2006-2010) no restauro e conservação da Sé do Funchal, disse ontem à agência Lusa o responsável por este departamento. João Henrique Silva, falando sobre o programa regional que comemora hoje o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, justificou este investimento ao realçar que a «catedral é um símbolo do património edificado da Região Autónoma da Madeira pelo seu carácter monumental e memorial histórico-cultural». O director regional dos Assuntos Culturais adiantou que durante o Verão deverá ser adjudicada a obra de reparação dos telhados da Sé, um projecto que custará cerca de 600 mil euros. Também no Verão deverá ser assinado um protocolo entre o Governo Regional, através da Secretaria Regional do Turismo e Cultura e da DRAC, com a World Monument Foud-Portugal e a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, visando o restauro e conservação de toda a cantaria daquele templo, acrescentou. Este projecto que será executado em três fases, com início em 2007 e previsível conclusão em 2010, representará um investimento de dois milhões de euros e não implicará o encerramento da igreja, disse ainda João Henrique Silva. A primeira intervenção será na fachada da catedral funchalense, um edifício mandado erigir por ordem de D. Manuel I, em meados do século XVI, sendo instituída em bispado em 1514, por bula de Leão X. Em simultâneo será desencadeado um outro estudo com vista à elaboração de um caderno de encargos para o restauro do tecto mudéjar (estilo árabe), o retábulo da capela-mor e todo o acervo de pintura, escultura e talha existente no interior daquele monumento, anunciou. Sobre a comemoração do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, João Henrique Silva considerou que «é uma celebração importante que vai permitir dar uma maior visibilidade ao trabalho realizado nos últimos tempos e ao programa de intervenção a efectuar nos próximos cinco anos». Este dia é assinalado com um seminário onde serão abordados aspectos diferentes relacionados com a Sé do Funchal, no auditório do Arquivo Regional e um concerto de órgão naquela catedral, às 19h00, com interpretação de obras de Haendel, Bach e Pedro Araújo, entre outros, que terá como organista João Vaz. A construção A Sé do Funchal é a mais emblemática obra do período manuelino edificada na Ilha da Madeira. Em 1493 iniciaram-se os trabalhos de construção, tendo sido concluídos no primeiro quartel do século XVI. A 12 de Junho de 1514, apesar de terem ficado por terminar alguns acabamentos, foi benzida e elevada a Sé Catedral, sendo então instituído o bispado do Funchal pelo Papa Leão X. Os trabalhos de construção foram executados por dois mestres, Pero Annes, mestre carpinteiro e Gil Enes, pedreiro mestre, os quais edificaram um monumento com estrutura filiada no gótico mendicante, de planta em cruz latina de três naves escalonadas e com transepto saliente, cobertas por tecto de madeira. A nave central, a mais alta, prolonga-se até ao arco triunfal da capela-mor. Assim como as capelas, de Nossa Senhora dos Varadouros e de Nossa Senhora de Lourdes, as naves possuem um tecto de gosto mudejar, de influência islâmica em cedro branco da Ilha, sendo considerados os exemplares mais bem trabalhados existentes em território nacional. A Sé do Funchal é composta pela Capela de Nossa Senhora dos Varadouros, (séc XIX), Capela de Nossa Senhora de Lourdes, (séc XVIII/XX), Altar-mor, (séc XVI), Altar do Santíssimo, (séc. XVIII), Altar de Santo António, (séc. XVII), Laterais, (séc XVII / XIX), Pia Baptismal, (séc XVI), Sacristia, (séc. XVIII) e Confraria do Santíssimo, (séc. XVIII). Este é um dos poucos monumentos nacionais que preserva a originalidade das suas composições manuelinas, tendo sido classificada como Monumento Nacional em 1910. Até ao presente foram feitas diversas intervenções de restauro na Sé do Funchal. Entidades como a Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, a Diocese ou o Governo Regional, através da Direcção Regional dos Assuntos Culturais têm contribuído para a manutenção desde exemplar único do nosso património. Estão previstas, ainda no decorrer deste ano, as obras de reabilitação das cantarias e a recuperação das coberturas. Esta intervenção permitirá o restauro do interior da igreja. Tesouros escondidos Desde a ourivesaria sacra passando pelas pratas da Confraria do Santíssimo da Sé até à pintura, escultura ou cerâmica, ao entrarmos na Sé do Funchal, estamos perante um conjunto de tesouros escondidos, de beleza ímpar e valor histórico inestimável. Bons exemplos de toda uma riqueza artística são o Tecto de Alfarge, que à complexidade do desenho junta-se a beleza da decoração; o Cadeiral, que se conserva no local de origem ou a Cruz Processional. Logo à entrada da Sé, coberta por um coro que foi construído no ano de 1794 temos um importante órgão de tubos de origem inglesa que foi comprado à Igreja Anglicana do Funchal por ordem do bispo, em 1937, e foi colocado no coro alto. Foi construído por vários organeiros, segundo inscrição existente por cima do segundo teclado, sob a orientação do mestre organeiro T. A. Samuel. Segundo os entendidos, este órgão foi construído no ano de 1884. É totalmente mecânico de origem e do tipo orquestal, romântico, mas com uma base tradicionalmente sólida. Foi restaurado pelo mestre organeiro Dinarte Machado entre 1995 e 1996. De destacar, na área da pintura, de entre um vasto conjunto de belíssimos exemplares os retábulos de São Francisco Xavier e da Sé do Funchal de princípios do século XVI, localizado no altar-mor. É de referir ainda os azulejos que decoram a Sé do Funchal. Começando pela Sala da Confraria do Santíssimo Sacramento, temos as paredes laterais que são revestidas por um conjunto de azulejos do século XVIII. Temos ainda os painéis da Capela do Amparo, adquiridos entre 1731 e 1735, desenhados em estilo «D. João V». Apesar de passarem despercebidos, o coruchéu da torre da Sé é revestido a azulejos azuis, vermelhos, verdes e brancos do primeiro quartel do século XVI e princípios do século XVII. Gaspar Frutuoso, no livro «Saudades da Terra» refere-se a estes azulejos dizendo: «quando lhe dá o raio do Sol, parecem prata e ouro».

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