Eugénio Fonseca diz que situação seria «mais dramática» sem a resposta da sociedade civil e das instituições sociais
Lisboa, 25 ago 2011 (Ecclesia) – O presidente da Caritas Portuguesa admitiu hoje que esperava uma ação mais efetiva da parte do Governo, no combate às situações de carência no país.
“Parece que tudo está voltado para responder às exigências da troika, em ordem ao pagamento da dívida externa. É importante cuidarmos desse compromisso, mas o Governo deve dar prioridade à proteção às pessoas, não carregá-las com mais austeridade”, sublinhou Eugénio Fonseca, em entrevista concedida à Agência ECCLESIA.
Aquele responsável realçou ainda que “até agora, se não fosse a sociedade civil, nas suas organizações, e a Igreja Católica porque tem sob a sua orientação o maior número de instituições em Portugal, a situação seria muito mais dramática”.
Críticas que surgiram no seguimento de uma análise ao primeiro ano de funcionamento do Fundo Social Solidário (FSS), criado pela Conferência Episcopal Portuguesa para “prestar ajudas de emergência a situações de maior gravidade”.
A partir da ação conjunta da Caritas Portuguesa, da Comissão Nacional Justiça e Paz, da Sociedade São Vicente de Paulo e da Comissão Justiça e Paz dos Institutos Religiosos, foi possível canalizar cerca de 323 mil euros para a resolução de necessidades básicas de mais de 3 mil pessoas e 1300 famílias.
No entanto, para Eugénio Fonseca, estes esforços revelam-se uma gota no oceano, já que “só em 2010 registou-se uma subida de 30 a 40 por cento no número de novos pedidos de ajuda”.
“Temos a Segurança Social sem recursos para este tipo de apoios mais diretos e portanto, tudo tem sido mais difícil”, realçou.
Há depois “casos que não têm muitas vezes a ver com falta de verbas, mas sim com burocracias incontornáveis, que complicam a solução dos problemas”, acrescentou.
Neste âmbito, uma das áreas mais difíceis de atender tem sido “o acolhimento a pessoas em situação de grande dependência, sobretudo na área da saúde mental”.
Segundo Eugénio Fonseca, “a crise tem vindo a acarretar dificuldades a muitas pessoas no campo psíquico, que têm dificuldades em aceitar a situação em que ficaram e facilmente caem na depressão”.
A Caritas Portuguesa arrancou mesmo com um “programa de inter-ajuda pessoal”, para que os mais atingidos possam fazer terapia de grupo, libertem tensões e busquem soluções para os seus problemas.
No atual contexto, o presidente daquele organismo teme mesmo que a pressão da crise, a juntar a uma falta de políticas efetivas, venha a revelar-se uma ameaça para a “convivência coletiva” no país.
“Um dos saldos desta crise terá de ser uma mudança de vida, e no caso concreto de Portugal, que vive mais das ajudas externas do que aquilo que é capaz de produzir, ainda mais”, concluiu.
JCP