Governar a cidade

Jerusalém era mais que uma cidade. Era uma mãe. Onde os filhos sentiam a ternura, a abundância, a dádiva, a insígnia de todos os sonhos. Bem edificada, pedra angular, arca da Aliança, cofre do Templo, conheceu a infidelidade e a destruição, com seus filhos deportados e vestidos de saco. No exílio foi a referência e a esperança no sonho do reencontro.”Fique presa a minha língua se de ti me não lembrar”. Foi antecipação da cidade celeste, protótipo do lugar em que Deus habita com os homens. A cidade tornou-se mais que um espaço físico. É imagem do habitar, receber, criar, respirar a vida. Jerusalém ganhou asas na simbólica da humanidade por ser plena de luz do nascer ao por do sol como orgulho para todos os seus filhos, protótipo da harmonia e da universalidade, onde as grandes religiões mono-teístas encontram espaços profundamente marcados pelo sagrado. É símbolo e património da humanidade. Lisboa anda inquieta, cidade de sete colinas, com lugares históricos únicos, monumentos e memórias de Portugal dos seus tempos de grandeza e glória. Continua a ser de todo um país, pequeno, carregado de aventura, desaires, praça maior de tantos povos que hoje, no regresso das caravelas aportam ao cais donde partimos para muitos pontos do mundo. São homens e mulheres que governam a cidade, recebem esta herança, celebram o tempo, edificam a metrópole dos tempos novos, muito para além de preservar as marcas da história. A cidade define-se, hoje, como um espaço a que todos têm direito, a oportunidade de respirar a urbe, em cada casa, no conforto, no transporte, no ambiente, na saúde, na convi-vialidade, na cultura, na fé. Governar a cidade não é ocupar um pelouro de vaidades ou pergaminhos pessoais. Hoje, o cidadão não perdoa, não cala, não aceita a sua cidade ocupada por amadores circunstanciais do bem comum. A causa da comunidade é mais forte e urgente que todos os interesses conjugados de partidos ou movimentos. A cidade continua a ser um símbolo sagrado. Património comum de todos. Não pode ser usurpada por ninguém. António Rego

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