Gondomar: Capela destruída pelas chamas, há um ano, reaberta ao público no dia da festa anual

Reconstrução do templo em honra de Nossa Senhora da Aflição, no lugar de Branzelo, em Melres, resulta do «diálogo inter-religioso em ação» entre o Imamat Ismaili, a autarquia, a Igreja Católica e a família proprietária

Gondomar, 07 set 2025 (Ecclesia) – A Capela de Nossa Senhora da Aflição, no lugar de Branzelo, concelho de Gondomar, reabriu hoje ao público numa cerimónia de inauguração que contou com a presença do príncipe Aly Muhammad Aga Khan, a que se seguiu a Missa de bênção.

A Capela de Nossa Senhora da Aflição foi destruída durante o incêndio na região da freguesia de Melres, entre os dias 15 e 19 de setembro de 2024 e, um ano depois, foi reaberta ao culto, no dia da festa, que decorre habitualmente no primeiro domingo de setembro.

Para o príncipe Aly Muhammad Aga Khan, o restauro da Capela de Nossa Senhora da Aflição “não é apenas de grande importância para a comunidade local e para aqueles que aqui rezam, mas também simboliza a solidariedade entre os Imamat Ismaili e a Igreja Católica”, e comprova o compromisso comum “em trazer esperança e oportunidades a todos os povos, independentemente da fé ou da origem”.

“Tenho esperança de que esta capela continue a ser um lugar especial nos corações de seus devotos por muitos anos. Que permaneça como uma lembrança das ligações que nos unem e da responsabilidade que todos nós partilhamos para preservar a nossa herança plural e coletiva”, afirmou o representante do Imamat Ismaili, uma “entidade supranacional que representa a sucessão dos Imams desde a época do Profeta Maomé”, liderada pelo príncipe Aga Khan, através do Aga Khan Trust for Culture (AKTC),

A cerimónia de inauguração da Capela de Nossa Senhora da Aflição decorreu no interior do templo, na manhã deste domingo, e contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Gondomar, Luís Filipe Araújo, do príncipe Aly Muhammad Aga Khan, do secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, Silvério Regalado, do presidente da União de Freguesias Melres-Medas, José Paiva, e do conselheiro da Nunciatura Apostólica em Portugal, monsenhor José António Teixeira Alves, entre outros convidados.

Após a cerimónia de inauguração, o padre Luís Lencastre, chefe do Gabinete Episcopal da Diocese do Porto, presidiu à Missa da festa da Nossa Senhora da Aflição, que iniciou com a bênção do templo, a que se seguiu a procissão.

A recuperação da capela resultou de uma parceria entre a Câmara Municipal de Gondomar, o Imamat Ismaili, a União de Freguesias de Melres-Medas e a família da proprietária do terreno.

Foto Agência ECCLESIA/PR

“É com profundo sentimento de gratidão e emoção que me dirijo a todos nesta cerimónia tão significativa, a reabertura da Capela Nossa Senhora da Aflição, um espaço de fé, de memória e de identidade para a família e para a comunidade que nos envolve”, afirmou a representante da família proprietária.

Elvira Duarte recordou a aquisição do terreno, em 1952, pelo avô, que retomou as celebrações no primeiro domingo de setembro, e, “desde então, não voltaram a ser interrompidas”.

“A Capela tem sido um marco na nossa família, assumindo um papel central, não apenas como lugar de culto, mas como lugar de devoção e de encontro”, afirmou.

Para a proprietária, a Capela de Nossa Senhora da Aflição é um espaço onde se encontra a “paz nos momentos difíceis” e onde é celebrada a “fé nos momentos marcantes”, como “celebrações matrimoniais, encontros familiares e ocasiões de oração e recolhimento”.

“Represento, por isso, um património, não só físico, mas principalmente emocional e espiritual. Aprendi com os meus pais, fiéis depositários e verdadeiros curadores da Capela de Nossa Senhora da Aflição, a ter as portas abertas a toda a comunidade, proporcionando um refúgio espiritual a todos e para todos”, acrescentou.

Elvira Duarte agradeceu o apoio do Imamat Ismaili, da Câmara Municipal de Gondomar e da União de Freguesias Melres-Medas, e o “caminho de extraordinária solidariedade, de cooperação institucional, que uniu o desejo de ser possível reedificar a Capela com vontade de devolver à população a possibilidade de voltar a celebrar, no primeiro domingo de setembro, a festa em honra de Nossa Senhora da Aflição”.

O processo de restauro da Capela de Nossa Senhora da Aflição foi acompanhado pelo representante diplomático da Delegação do Imamat Ismaili em Portugal, Nazim Ahmad, que recordou em declarações à Agência ECCLESIA as imagens da destruição da Capela de Nossa Senhora da Aflição, nos incêndios de há um ano.

“Eu estava a ver a televisão e vejo, de repente, uma imagem da capela, da Nossa Senhora da Aflição, ser completamente ardida, e eu fiquei tão sensibilizado e preocupado que eu fiz questão de tirar uma fotografia”, recordou.

Nazim Ahmad evocou a “relação muito antiga” do Imamat Ismaili com a Igreja Católica e com o Estado Português, que se traduz em diferentes apoios, nomeadamente na sequências de incêndios, como aconteceu em 2017.

O representante diplomático do Imamat Ismaili em Portugal,  afirma que a inauguração da Capela de Nossa Senhora da Aflição “foi um sonho que ficou realizado” e que confirma “um diálogo inter-religioso em ação, em vez de ser em palavras”.

De acordo com a Câmara Municipal de Gondomar, o projeto resulta de um investimento de cerca de 500 mil euros e contou com um financiamento de 375 mil euros assegurado pelo Imamat Ismaili.

A autarquia de Gondomar “prestou apoio técnico na elaboração do projeto e durante a execução da obra”, assegurada pela empresa Belmiro Gomes & Filhos, e “o acompanhamento, a fiscalização e a coordenação de segurança”.

“Em articulação com a família proprietária da capela e com a União de Freguesias de Melres e Medas”, a autarquia garantiu ainda “a reposição do espólio interior do imóvel, nomeadamente o altar, as esculturas sacras e o mobiliário”, com execução da Casa Fânzeres – Arte Sacra.

PR

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