Gerir as esmolas

Testemunho da Cáritas de Vila Viçosa A Cáritas de Vila Viçosa desenvolve um conjunto de actividades, possíveis graças à gestão que fazem dos donativos que chegam aos serviços da Cáritas, monetários ou em géneros. A gestão desses recursos é aqui descrita pela Presidente da Caritas Paroquial de Vila Viçosa. Gerir as Esmolas, tarefa bastante complexa para todos os profissionais que têm a seu cargo gerir os escassos recursos disponíveis, face aos inúmeros pedidos de ajuda. Diariamente, rostos destroçados solicitam directamente apoio na Instituição, ou para aqui são encaminhados por outras entidades locais, por situações de endividamento, resultantes do aumento crescente da taxa de desemprego, dos fracos recursos económicos de muitas famílias, e das baixas pensões dos idosos da nossa região (consequentes da sua actividade profissional no sector agrícola), como de outros factos estruturais que caracterizam a actual sociedade, sobejamente conhecidos de todos, cuja enumeração não passariam de lugares comuns . Que tipo de esmolas gerimos? Alimentos, provenientes do Programa Comunitário de Ajuda Alimentar a Caren-ciados e do Banco Alimentar, Mobiliário ,vestuário, calçado e brinquedos, oriundos de donativos de particulares; Numerário, do peditório anual que a Cáritas realiza e do Projecto Actos 2000, que sendo um montante bastante reduzido, é direccionado para a realização de pequenos melhoramentos habitacionais em casas de particulares , e para despesas de saúde (medicamentos e consultas médicas); a prestação gratuita de serviços , quer de apoio domiciliário, como de creche ou actividades de tempos livres. Por último, a capacidade de escutar, compreender , dialogar. Esmolas fundamentais nos nossos dias, pois é imprescindível saber acolher o próximo, quem não sabe escutar, nem sequer pode falar em sentido pleno e sem um sincero espírito de acolhimento, o diálogo não é possível. Quantos profissionais por rotina diária nos seus atendimentos a indivíduos com características comuns, muitos já estereotipados, pela abordagem das mesmas problemáticas, perderam a capacidade de escutar, e tudo se resume a um monólogo frio, de acusações ou de não soluções para os seus problemas? Saibamos pois gerir estas esmolas, para que quando mais não tenhamos para dar, pelo menos o sentimento de tristeza, solidão, revolta, angústia daquele que nos procura, seja apaziguado , e não percam a vontade de viver e de amar. Se estas últimas esmolas dependem unicamente de uma atitude mais evangélica de serviço aos outros, as outras necessitam de outra forma de gestão distinta. Assim, após a recepção dos vários géneros, tudo é devidamente armazenado e inventariado . Face aos inúmeros processos familiares que a Instituição tem, e que transitam de ano para ano, de agregados familiares que recorrem ao apoio da Instituição, sobretudo de géneros alimentares, estamos sempre receptivos a novas solicitações, que requerem a mesma abordagem e tratamento . O primeiro passo é a entrevista com a técnica de serviço social, para abertura do processo onde é elaborada toda a caracterização económico social do agregado, devidamente justificada pela apresentação de uma série de documentação comprovativa, e actualizada sempre que se verificar uma alteração dos dados iniciais. A identificação dos problemas/vulnerabilidades individuais e familiares é fundamental nesta etapa, para que possamos delinear um plano de intervenção, de acordo não só com as respostas da Instituição, mas com todas as potencialidades locais. É importante aqui abordar o importante trabalho de parceria que desenvolvemos com todas as entidades locais, de forma a rentabilizar todos os recursos disponíveis, como também o cruzamento de informação , o que nos permite confirmar a veracidade dos dados fornecidos pelo utente. Destacamos, a articulação com a Segurança Social / Serviço Local, Câmara Municipal, Juntas de Freguesia, Estabelecimentos de Ensino, Centro de Saúde, Instituto de Emprego e Formação Profissional – Centro de Emprego de Estremoz, entre outras. Somente com a articulação de esforços, tem sido possível uma intervenção eficaz em determinadas problemáticas, nomeadamente na execução de pequenas obras de recuperação e limpeza de algumas habitações, no fornecimento gratuito de refeições, no encaminhamento para outro tipo de apoios, como Rendimento Social de Inserção, Formação Profissional, integração na Empresa de Inserção, no apoio / acompanhamento a crianças em risco, por profissionais especializados, etc. A nossa participação no Núcleo Local de Inserção, na Rede Social, na Equipa de Intervenção Precoce, são sem dúvida alguma mais valias no nosso trabalho de gestão dos recursos disponíveis na Comunidade Local. Para uma gestão eficaz, também procedemos à realização de visitas domiciliárias junto dos agregados familiares que apoiamos. As quais têm como principal objectivo não só confirmar a veracidade dos dados recolhidos , para também dar-lhes o acompanhamento necessário, que mais não seja para apoia-los , encaminha-los e orientá-los neste processo de mudança. A fase de avaliação (revisão do plano mudanças observadas/factores que as influenciaram; análise dos prós e contras das acções desenvolvidas, planeamento de acções para problemas que ainda persistam) é também de extrema importância na gestão, não digo das esmolas, mas dos recursos disponíveis. Nesta fase, como nas demais, a participação de todos os intervenientes é fundamental. Assim trabalhamos nessa Instituição, onde pode faltar muito para dar, mas onde a vontade de servir e amar o próximo permanece nos nossos corações. Cremilde Vermelho, Presidente da Cáritas Paroquial de Vila Viçosa

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top