Gaza: Pároco questiona o futuro dos refugiados «se o sacerdote, o religioso, a religiosa não estivesse» com eles

«As pessoas continuam a morrer, as pessoas continuam feridas, e estão em movimento» – Padre Gabriel Romanelli

Gaza, 28 ago 2025 (Ecclesia) – O pároco da Sagrada Família de Gaza afirmou que “a incerteza” é uma das coisas que “reina na população” sobre o final da guerra, e explicou que vão continuar na igreja pelos refugiados que acolhem, “por quem são”.

“Vendo os refugiados que há aqui, não somente a quantidade, mas quem são os refugiados – muitos velhos, muitos doentes, pessoas incapacitadas, meninos das irmãs da Madre Teresa -, temos muitas pessoas e, como servimos a Cristo na Eucaristia, queremos servi-Lo sempre nos necessitados. Esta gente, o que seria deles se o sacerdote, se o religioso, se a religiosa não estivesse”, disse frei Gabriel Romanelli, esta quarta-feira, numa declaração no seu canal no Youtube.

A igreja da Sagrada Família é a sede da única paróquia católica em Gaza, esta cidade palestiniana recebeu ordem de evacuação de Israel, e o sacerdote acrescenta que “a situação é muito grave”.

O padre Gabriel Romanelli destaca a declaração conjunta dos patriarcas cristãos de Jerusalém, “sobre um tema tão complicado, tão complexo”, o que “manifesta a gravidade da situação”, os dois responsáveis religiosos pedem à comunidade internacional “que se ponha fim a tudo isso”.

“Uma das coisas que reina na população de Gaza é a incerteza, porque, por um lado, é como se tudo dirigisse para que esta guerra continue. Há quem, entre as personalidades de nível mundial, diga que antes de 2026, em algumas semanas, vai chegar um acordo, mas, entretanto, as pessoas continuam a morrer, as pessoas continuam feridas, as pessoas estão em movimento”, desenvolveu o sacerdote argentino há mais de 27 anos no Médio Oriente.

O patriarca Grego-Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III, e o patriarca Latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, numa declaração conjunta reafirmam que “não pode haver futuro baseado no cativeiro, na deslocação de palestinianos ou na vingança”, pedem o “fim à guerra e prioridade ao bem comum do povo”, para além de informarem que o clero e as freiras das suas Igrejas “decidiram permanecer” em Gaza, com as pessoas que acolhem.

“Em consciência, temos visto que, de forma muito simples, muito humilde, que Deus nos pediu de ficar para ajudar quem esteja no prédio”,  acrescentou o responsável da única paróquia católica no enclave palestiniano.

Esta quarta-feira, aos jornalistas, o secretário de Estado do Vaticano destacou que “cada um poderá decidir o que fazer, a escolha de permanecer é corajosa”, mas não se sabe como poderá ser concretizada “se há essa ordem de evacuação, controle total, em terra, do território”; e lamentou que interesses de natureza “política”, “económica”, “de poder” e “de hegemonia” impedem “uma solução humana para esta tragédia”.

“Espero o que o Papa pediu, ou seja, que haja um cessar-fogo, que haja acesso seguro à ajuda humanitária, que se respeite o direito internacional humanitário – isso é fundamental – e que se evite uma punição coletiva”, acrescentou o cardeal Pietro Parolin, na Basílica de Santo Agostinho em Campo Marzio, em Roma, em referência ao apelo de Leão XIV na audiência pública dessa manhã, no Vaticano.

Na cidade de Gaza, a Paróquia de São Porfírio (Igreja Greco-Ortodoxa) e a Paróquia da Sagrada Família (Igreja Católica) têm sido “um refúgio para centenas de civis”, desde o início da guerra.

No complexo da igreja católica vai continuar o pároco, com os religiosos do Instituto do Verbo Encarnado, as freiras e consagradas desta família religiosa, e as Missionárias da Caridade, a irmãs de Madre Teresa de Calcutá, santa que visitou visitou Gaza há 52 anos, em 1973, que há muitos anos cuidam de “pessoas com deficiência”.

Os espaços da Paróquia da Sagrada Família já foram atingidos pelos ataques das forças militares israelitas, mo mais recente, no dia 17 de julho, três pessoas morreram e várias ficaram feridas, incluindo o pároco, no ataque no dia 16 de dezembro de 2023, morreram duas mulheres – mãe e filha.

O padre Gabriel Romanelli, que pode orações, explicou que estão a realizar a novena a Madre Teresa de Calcutá, a sua festa litúrgica é no dia 5 de setembro, a quem rezam também pela saúde do jovem Najib,“que está numa cadeira de rodas”, já foi operado a um pulmão e realiza fisioterapia, depois de ter ficado ferido nesse ataque de 17 de julho.

CB/PR

Partilhar:
Scroll to Top