Papa aborda relações com Israel, China e EUA, em entrevista que integra livro biográfico

Cidade do Vaticano, 18 set 2025 (Ecclesia) – O Papa alertou para o risco de indiferença perante o arrastar do conflito em Gaza, pedindo que os cristãos se mobilizem para pedir “mudança”.
“É tão horrível ver as imagens na televisão, espero que algo mude essa situação. Espero que não nos tornemos insensíveis, porque não se pode suportar tanta dor”, disse em entrevista ao ‘Crux’, portal de informação religiosa dos EUA, publicada hoje no livro biográfico ‘Leão XIV: cidadão do mundo, missionário do século XXI’.
“Como seres humanos e como [cristãos], não podemos tornar-nos insensíveis e não podemos ignorar isto. De alguma forma, temos de continuar a pressionar para tentar conseguir uma mudança”, acrescenta o pontífice.
A conversa com a jornalista norte-americana Elise Ann Allen faz parte de uma biografia publicada pela editora ‘Penguin’ no Peru, país onde Robert Francis Prevost foi missionário, enquanto religioso agostiniano, e depois bispo, por nomeação de Francisco.
Segundo Leão XIV, até ao momento “não houve uma resposta clara em termos de encontrar formas eficazes de aliviar o sofrimento das pessoas em Gaza, e isso é uma grande preocupação”.
“Algumas pessoas, especialmente as crianças, quando sofrem não apenas privação [de alimentos], mas fome real, o simples facto de receber comida não resolve o problema imediatamente. Vão precisar de muita assistência médica, além de ajuda humanitária, para realmente mudar essa situação, e neste momento ainda parece muito grave”, denuncia.
O Papa sublinha que, do ponto de vista oficial, a Santa Sé evita definir como “genocídio” a atuação de Israel na Faixa de Gaza, mas assinala que “a palavra está a ser cada vez mais utilizada”.
“É importante fazer algumas distinções, que os próprios fazem, em relação ao que o Governo de Israel está a fazer e quem são os membros da comunidade judaica”, sustenta.
Questionado sobre as relações com Pequim, Leão XIV diz estar a “tentar obter uma compreensão mais clara de como a Igreja pode continuar a sua missão, respeitando tanto a cultura como os problemas políticos” na China.
O Papa alude, em particular, a “um grupo significativo de católicos chineses que, durante muitos anos, viveram algum tipo de opressão ou dificuldade para viver a sua fé livremente e sem escolher lados”, numa referência à chamada Igreja “clandestina”, que recusou o controlo estatal.
O primeiro pontífice norte-americano fala da sua relação com os EUA, rejeitando qualquer envolvimento em “política partidária”.
“As pessoas não podem dizer, como disseram sobre Francisco, ‘ele não compreende os Estados Unidos, simplesmente não vê o que está a acontecer’. Isso é significativo neste caso”, aponta.
Leão XIV recorda uma conversa com J. D. Vance, vice-presidente dos Estados Unidos, com quem falou sobre como “é importante para todas as pessoas, independentemente de onde nasceram, encontrar formas de respeitar os seres humanos”.
“Não vejo que o meu papel principal seja tentar ser o solucionador dos problemas do mundo. Não vejo o meu papel dessa forma, embora acredite que a Igreja tem uma voz, uma mensagem que precisa de continuar a ser pregada, falada e proclamada em voz alta”, indica.
O Papa admite que há correntes ideológicas que procuram “usar o Evangelho”.
“Isso é parte do problema da polarização. Se caímos na ideologia, já não estamos a falar da verdadeira essência, dos valores. Encerramo-nos em algo que, como ideologia, se apodera do verdadeiro significado”, adverte.
OC