Gaza: «A guerra continua, infelizmente, o seu curso. Há mortos por toda a parte» – Pároco da Sagrada Família

Frei Gabriel Romanelli dá conta que dois jovens feridos «estão melhores», com «vidas fora de perigo»

Foto: Patriarcado Latino Jerusalém

Gaza, Faixa de Gaza, Palestina, 22 jul 2025 (Ecclesia) – O pároco da Sagrada Família, a única paróquia católica de Gaza, na Palestina, afirma que a “guerra continua, infelizmente, há mortos por toda a parte”, num vídeo partilhado esta segunda-feira, 22 de julho, na reflexão ‘Morrer sim, sofrer não!’.

“A guerra continua, infelizmente, o seu curso. Há mortos por toda a parte. Só Deus sabe se ela vai parar ou não. Esperemos que pare, que pare em breve, que ouçam o apelo do Santo Padre, o Papa Leão que pediu um cessar-fogo imediato no final da guerra, e de muitas pessoas”, disse frei Gabriel Romanelli.

A igreja da Sagrada Família, sede da única paróquia católica de Gaza, foi atingida por militares israelitas, no dia 17 julho, a ultima quinta-feira, três pessoas morreram e várias outras ficaram feridas, incluindo o pároco.

O sacerdote argentino, há mais de 27 anos no Médio Oriente, assinala que “o sofrimento da população é extremo”, no vídeo diário que publicou na sua conta no canal Youtube, e lembrou que “as bombas não discriminam, a guerra não discrimina, não distingue, e mata um após outro”.

A Cáritas Internacional divulgou que os mortos no ataque dos militares israelitas foram o zelador da paróquia, Saad Salameh, de 60 anos, no pátio, a Sra. Fumayya Ayyad, de 84 anos, que recebia apoio numa tenda psicossocial da Cáritas, e Najwa Abu Daoud, de 69 anos, que estava sentada perto de Fumayya Ayyad.

O padre Gabriel Romanelli, do Instituto do Verbo Encarnado, partilhou que “dois jovens feridos estão melhores”, o Sohel e o Najib vão ter de “ser pacientes” na recuperação, mas as suas “vidas estão fora de perigo”.

“Continuemos a rezar pelo fim desta guerra. Agradeço a todos mais uma vez a proximidade, as orações e a ajuda, e que Deus vos abençoe de Gaza”, pediu o pároco da única paróquia católica do enclave palestiniano, agradecendo a uma série de personalidades, bispos, cardeais, padres, freiras, leigos, cristãos, pessoas de outras religiões – judeus, muçulmanos -, pessoas sem religião que os contactaram, “aqueles que são fiéis e elevam as suas súplicas a Deus”.

A reflexão do padre Gabriel Romanelli partiu da frase ‘Morrer sim, sofrer não’, que leu num livro sobre a história de vida do padre espanhol Manuel Díaz Martínez, que morreu jovem e tinha a “saudável obsessão” de “oferecer tudo pela santificação e pelos padres e seminaristas”.

“No mundo de hoje, é incompreensível por causa do hedonismo predominante. É incompreensível que alguém possa estar disposto a sofrer e querer sofrer quando Deus pede; seria mais fácil estar disposto a morrer, e, no entanto, Nosso Senhor Jesus Cristo mostrou-nos que o sofrimento é o que prepara o ato supremo de entrega, a morte”, acrescentou, salientando que, como missionários em Gaza, querem “servir a Cristo”, estão dispostos a “servir todas as pessoas”.

No dia seguinte ao ataque, o patriarca Latino de Jerusalém, cardeal Pierbattista Pizzaballa, e o patriarca Grego-Ortodoxo de Jerusalém, Teófilo III, visitaram Gaza para manifestar “solicitude pastoral” pelas Igrejas da Terra Santa e pela comunidade cristã.

O cardeal Pierbattista Pizzaballa, neste visita esteve três dias em Gaza, afirmou que “as imagens ficaram na memória”, em comparação com as passagens anteriores destaca “as enormes extensões de tendas”, antes estavam todos no sul do enclave, “havia o corredor Netzarim que fechava”.

“Eles voltaram, agora há mais de um milhão de pessoas sem ter onde morar. Sobretudo ao longo do mar, há longas extensões de tendas, onde as pessoas vivem em condições de extrema precariedade, tanto do ponto de vista higiénico como sob qualquer outro perfil. E depois, a outra imagem é a do hospital: crianças mutiladas, cegas devido às consequências dos bombardeamentos”, acrescentou, na informação publicada hoje pelo portal ‘Vatican News’.

O patriarca Latino de Jerusalém lembrou que as “poucas centenas de pessoas” que encontrou na paróquia católica em Gaza “é verdade, são muito protegidas, mas não estão isentas dos mesmos problemas”, como a “falta de comida, há meses não veem verduras, não veem carne, como todos os outros”.

“Vejo, mesmo nas crianças, certamente o cansaço, mas também a vitalidade, o desejo. Enquanto há uma pessoa que tem o desejo de fazer algo, de mudar, significa que ainda há vida nelas, e isso eu notei”, realçou o cardeal que tem a certeza que “não haverá transferências de populações, não haverá rivieras em Gaza”.

“Gostaria de esclarecer uma coisa: não temos nada contra o mundo judaico e não queremos de forma alguma parecer aqueles que vão contra a sociedade israelense e contra o judaísmo, mas temos o dever moral de expressar com absoluta clareza e franqueza nossa crítica à política que este governo está adotando em Gaza; outra coisa muito importante a dizer é que nunca nos dedicamos apenas aos cristãos.”

Foto: FG/CTS

Esta segunda-feira, 21 de julho, tomou posse o novo Custódio da Terra Santa – Jerusalém, Israel e Palestina, Síria, Líbano, Jordânia, Egito, Chipre e Rodes (Grécia) –, o padre Francesco Ielpo (franciscano), que fez a entrada solene na igreja de São Salvador, em Jerusalém.

Esta segunda-feira, Leão XIV renovou o apelo ao “pleno respeito do Direito Internacional Humanitário”, e a “obrigação de proteger os civis e os lugares santos”, numa conversa telefónica com o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas; o Papa, no próprio dia do ataque militar ao complexo da única paróquia católica em Gaza (17), recebeu um telefonema do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.

No dia 16 de dezembro de 2023, duas mulheres – mãe e filha – morreram num ataque à Paróquia da Sagrada Família, segundo o Patriarcado Latino de Jerusalém, entidade responsável pela paróquia católica, num tiro de um atirador das Forças de Defesa de Israel (IDF).

A guerra em Gaza foi desencadeada por um ataque liderado pelo Hamas no sul de Israel, a 7 de outubro de 2023, que provocou cerca de 1.200 mortos e 250 reféns, segundo as autoridades israelitas; Israel lançou em seguida uma ofensiva militar em grande escala na Faixa de Gaza, que continua com milhares de mortos, destruição de infraestruturas e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas, de acordo com o Governo do Hamas, que controla o enclave palestiniano, desde 2007.

CB/PR

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