Gabinetes de Imprensa na Igreja

Conferência do Pe. Federico Lombardi nas Jornadas das Comunicações Sociais

Antes de mais, muito obrigado por me terem convidado. Eu não posso viajar muito, porque estou condicionado a permanecer em Roma para cumprir as diversas tarefas que me estão confiadas. As minhas viagens são por isso sobretudo as que realizo para acompanhar o Santo Padre. Contudo, parece-me que um aspecto integrante do dever de responsável pelas comunicações da Santa Sé seja o de dar a conhecer e compreender, nos diferentes países, o serviço eclesial desenvolvido em Roma, de modo a favorecer a ligação e a colaboração entre aqueles que se ocupam das comunicações sociais na Igreja. Para esse fim, procuro não só acolher e conhecer todos os grupos de jornalistas que vêm a Roma visitar as nossas instituições, mas também participar, todos os anos, em dois ou três encontros de comunicadores sociais eclesiais, nos seus países. Assim, estive, por exemplo – nos últimos anos – em Toronto com os jornalistas católicos do Canadá e dos Estados Unidos; em Madrid e Salamanca, em Londres, Viena, na Bélgica, em Bratislava, etc.. Não podiam por isso faltar Fátima e Portugal.

Vou apresentar as minhas considerações – muito simples e práticas – em aproximadamente dez proposições, ou teses, que passo a desenvolver brevemente.

Em primeiro lugar, a quem servimos com o nosso serviço?

1. É, antes de mais, um serviço para o Evangelho de Jesus Cristo.

Pode parecer óbvio, mas julgo não ser inútil recordá-lo como ponto de referência essencial do nosso discurso. Nós não somos propagandistas políticos, defensores de interesses particulares, ou simples profissionais do jornalismo. Somos, em primeiro lugar, crentes e cristãos. O que mais nos interessa é que o Evangelho de Jesus Cristo seja conhecido e compreendido através da palavra e do testemunho da Igreja. Se isso não acontece, perdemos tempo.

Por conseguinte, devemos sempre preocupar-nos para que os conteúdos que nós comunicamos e o modo como os comunicamos sejam coerentes com este Evangelho, que estejam permeados pelo amor a Deus e às pessoas, pela procura do seu verdadeiro bem. Devemos estar absolutamente convictos de que somos servidores do bem dos nossos irmãos e irmãs e que, se por vezes defendemos posições que parecem ir contra corrente, fazemos isso apenas para o verdadeiro bem e a verdadeira felicidade das pessoas às quais a Igreja se dirige. Devemos também compreender que o modo de comunicar, a linguagem respeitosa e verdadeira, têm que reflectir o amor de Deus pelo mundo.

O magistério da Igreja sobre os instrumentos de comunicação social foi sempre positivo, desde o seu início; embora prudente e realístico quanto às possíveis ambiguidades e aos riscos, encarou-os sempre como instrumentos úteis para o anúncio do Evangelho em âmbitos muito vastos, superiores àqueles que cada um de nós pode alcançar através do contacto directo com as pessoas. Também nós devemos partilhar esta atitude e ajudar a comunidade eclesial a vivê-la.

A pessoa responsável por um Gabinete de comunicações sociais é sempre, por isso mesmo, um animador e promotor de comunicação, alguém que ajuda a estar atentos e a compreender a mudança da cultura e das tecnologias de comunicação para que o Evangelho possa chegar de modo novo às pessoas do nosso tempo.

2. É um serviço que se insere numa comunidade, que é a Igreja, encarnada em instituições e pessoas concretas – como a Conferência Episcopal, ou a Diocese, ou o Bispo, ou o Santuário… –, que nos encarregou de a representar.

Isto significa que se trata de uma tarefa que nos foi confiada e que nos pede que falemos em nome de alguém e não em nosso nome pessoal. Isto implica um verdadeiro exercício de atenção e de escuta em relação a quem devemos representar. Se se trata do Bispo, temos que nos manter em contacto com ele para compreender bem o seu pensamento, as suas intenções, até o próprio estilo de relação com a comunidade eclesial e com o público, de forma a interpretá-lo e não a traí-lo.

Devemos também aproximar a instituição, ou a pessoa, que representamos do mundo da comunicação social, ajudá-las a exprimir-se de modo adequado, a fazer passar as suas mensagens através dos instrumentos apropriadas. E fazer tudo isto sem nunca darmos prioridade ao nosso pensamento pessoal, mas sim ao pensamento de quem servimos, porque é esta a finalidade da nossa tarefa.

E devemos fazer isso com alegria, amando a comunidade da Igreja e considerando que é uma honra servi-la, e que geralmente é mais útil transmitir aos outros o que lhes diz o Papa ou o Bispo do que aquilo que qualquer um de nós pode inventar pessoalmente.

Naturalmente, é importante a qualidade e a autoridade das tomadas de posição e das intervenções. Estar disponíveis não significa procurar ser omnipresentes nos media, dando a impressão de procurar a notoriedade. Os media podem ser traiçoeiros: criam facilmente os seus protagonistas  e depois desembaraçam-se deles em pouco tempo, ou tornam-nos prisioneiros do tipo de imagem que produziram deles. Por isso, é preciso saber bem o que se pretende comunicar e fazê-lo com medida, nos momentos importantes. O ideal é que sejamos nós a “conduzir o jogo” da comunicação, criando as ocasiões propícias e lançando as mensagens que temos a peito, e não nos tornarmos nós objecto do jogo dos media.

Frequentemente, no serviço da instituição é importante saber manter o carácter reservado de uma informação ou documento cultivar a virtude da discrição, para dizer as coisas quando devem ser ditas, resistindo à tentação de as antecipar. Parece-me oportuno fazer aqui esta observação: se houver coisas realmente confidenciais, que, por bons motivos, não devem ser postas em público, não se devem revelar, no limite, nem sequer aos amigos. No mundo actual, a discrição não existe ou não é considerada um valor, e não nos podemos queixar se circularem notícias que fomos nós próprios a dar. Creio que para se ser bons comunicadores é preciso saber observar os limites da comunicação, distinguir bem o que deve ser comunicado e o momento em que se deve comunicar, e o que não deve ser comunicado ou não deve ser ainda comunicado.

3. Trata-se  de um serviço aos colegas profissionais da comunicação e, por intermédio deles, ao público, que é o povo de Deus na Igreja, ou o povo, em sentido mais amplo, do nosso país, ou aquele que, de qualquer forma, pode ser alcançado.

Normalmente, quem trabalha num Gabinete para as comunicações sociais não tem de imediato, e em primeiro lugar, uma tarefa de comunicação destinada a um vasto público, mas um dever de comunicação para comunicadores sociais, que, por sua vez – por etapas sucessivas – atingem o público mais vasto. Por conseguinte, nós somos servidores de nossos colegas comunicadores e, por isso, devemos fazer todo o possível para os ajudar a realizarem bem o seu trabalho.

Aqui, normalmente, insisto numa atitude aberta e positiva, embora prudente e não ingénua. Não devemos partir do pressuposto que os jornalistas são insidiosos ou mal intencionados. Devemos ter consciência de que há jornalistas de todas as tendências e atitudes e que temos de procurar dar a cada um uma ajuda para ele dar um passo na direcção certa: da nossa parte, pô-los em condições de poderem fazer uma boa informação, se estiverem dispostos a isso. Alguns falarão sempre mal da Igreja, porque são pagos para isso, e, mesmo se quisessem, não poderiam fazer outra coisa; mas outros são responsáveis e tentam compreender, e têm condições para explicar as coisas boas que compreendem. Devemos encorajar cada um a fazer o melhor que for capaz.

Aqui, podemos falar de modo muito concreto: há a acessibilidade, a nossa disponibilidade pessoal para ajudar quem pede explicações, aprofundamentos, etc. Esta disponibilidade é por vezes muito apreciada.

Além disso, sabemos bem que os nossos colegas são muito sensíveis a um tratamento igual em relação a todos eles, pelo menos na medida do possível. Não deixar-se levar por simpatias: dar a todos o mesmo texto, ao mesmo tempo, manifestando para com todos eles o mesmo respeito pelo seu trabalho. Isto é muito importante para manter a autoridade no nosso trabalho.

Existe também a dimensão humana das relações com as pessoas, a compreensão das suas situações e dificuldades profissionais pessoais: vê-los como homens e mulheres, e compreendê-los. Frequentemente, no seu trabalho, são pesadamente condicionados pelos seus chefes e têm que escrever coisas que não gostariam de escrever. A participação nos momentos mais importantes da sua vida – partilhando as alegrias e o sofrimento – é essencial para construir a comunidade dos comunicadores. Às vezes, podem ser criadas boas ocasiões de encontro também com o Bispo, momentos de festa e, para os crentes, até mesmo de oração comum, por exemplo por ocasião do Dia das Comunicações Sociais, ou da Festa do Patrono, S. Francisco de Sales. Em resumo, deveríamos conseguir viver o nosso serviço aos colegas comunicadores também como um serviço pastoral, humano e espiritual, embora com a devida discrição.

4. Trata-se de um serviço que não parte apenas no sentido da instituição que representamos para o exterior, mas também do mundo envolvente para esta instituição. Por outras palavras, é um serviço “bidireccional”, para o diálogo entre a Igreja e o mundo.

Geralmente, falo da Sala de Imprensa na qual trabalho como de uma “porta aberta”, através da qual existe um fluxo comunicativo de informações, mensagens, respostas… que partem, mas há também um fluxo de perguntas, opiniões, reacções… que entram, e que manifesta expectativas, necessidades, problemas que interpelam a Igreja, e dos quais nós nos devemos fazer intérpretes para obter e apresentar as respostas possíveis ou oportunas.

Este serviço de mediação que permite um diálogo entre a Igreja e o mundo exterior realiza-se de muitos modos diferentes. Tradicionalmente, não existe apenas a resposta a pedidos individuais de informações e entrevistas, mas também a revista de imprensa para fazer chegar aos nossos superiores, ou a outras pessoas eventualmente interessadas. Hoje, à revista de imprensa tradicional devemos acrescentar a monitorização da rede, que se torna cada vez mais importante e urgente, e sobre a qual temos ainda muito que aprender. Na realidade, o mundo da comunicação social está-se a deslocar rapidamente dos media tradicionais – imprensa, rádio, televisão – para a rede, e nós não podemos deixar de ter isso em conta.

Um outro aspecto do nosso serviço – se para isso tivermos forças, tempo e capacidades – pode ser não só o de responder às solicitações daqueles que vêm ter connosco, mas também estabelecer um conjunto de contactos com responsáveis e operadores da comunicação social na área da nossa competência, que nos permita intervir também a nível mais alto, por exemplo a directores, para fazermos chegar mensagens, despertar interesse e atenção relativamente a eventos importantes, etc.

5. À luz do que acabo de dizer, isto é, da nossa atenção às perguntas que são colocadas à Igreja, o nosso pode tornar-se um serviço para a boa formulação da resposta da Igreja. Em muitos casos, pode ser nosso dever propor ao Bispo ou à instituição que representamos o momento oportuno ou a formulação apropriada para lhes dar resposta.

Se virmos que é urgente dizer algo, porque está a crescer uma onda de perguntas na rede, cabe-nos transmitir essa informação à autoridade competente, possivelmente já com uma proposta concreta de resposta, que depois pode obviamente ser aceite ou não, modificada ou não, pelos superiores. Mas, geralmente, os superiores agradecem as propostas razoáveis que recebem. Esta é uma forma importante de colaboração que esperam de nós.

Que características o deve ter o nosso serviço?
6. Em primeiro lugar, nunca devemos deixar de insistir no uso de uma linguagem clara, simples e compreensível, não demasiado abstracta e complicada, ou técnica. Às vezes, é verdade que os conteúdos são complexos e os discursos devem ser articulados, mas, no fim de contas, se queremos que a mensagem “passe” e fique na memória de quem nos escuta, devemos ser capazes de mostrar com simplicidade e clareza o seu núcleo central; caso contrário, não nos podemos queixar se depois forem feitas apresentações ou interpretações parciais ou desviadas. Deste modo, se fizermos a apresentação de um documento, é necessário saber apresentar uma síntese, um breve comunicado, uma frase inspiradora, remetendo embora o aprofundamento para a leitura integral do documento.

(Apresento um exemplo do meu trabalho – a apresentação na Sala de Imprensa de um Documento importante da Santa Sé. Tratava-se de um documento que tinha várias dezenas de páginas. Por sua vez, a apresentação foi feita com duas intervenções profundas, mas muito longas e amplas, e os jornalistas não tiveram a possibilidade, nem tempo suficiente para compreender e sintetizar, devendo ao mesmo tempo publicar rapidamente os primeiros artigos ou fazer as suas intervenções: se as suas apresentações não fossem satisfatórias, neste caso a culpa era nossa, não deles).

Quando nos são colocadas perguntas que merecem uma resposta, é preciso dá-la sem fazer esperar muito tempo. É oportuno estar disponíveis e responder – pessoalmente ou através de uma pessoa delegada – quando nos procuram pelo telefone ou por e-mail. Esta disponibilidade produz credibilidade e confiança, ao passo que a indisponibilidade e a reticência geram desconfiança e suspeição. Responder com brevidade também é importante para impedir que se criem ondas de nervosismo, ou se difundam informações falsas, ou inexactas, que é difícil depois rectificar. É preciso ter em conta que os jornalistas têm que escrever notícias – é esse o seu trabalho, frequentemente são mesmo forçados a isso quando surge algum problema do qual se fala – e, então, se não tiverem respostas seguras, tendem naturalmente a desenvolver hipóteses ou a fazer conjecturas, ou a dar as suas explicações. É preciso também pensar que hoje a informação é um fluxo contínuo que circula através da Internet e os sites, em tempo real, e não há um dia de tempo para responder, até serem impressos os jornais do dia seguinte. Por isso, quanto mais cedo se der a resposta ou a informação correcta, melhor. Em geral, se formos capazes, é melhor sermos nós a orientar a informação, dando-a nós primeiro, do que correr atrás de uma informação incorrecta.

De um ponto de vista organizacional, tudo isto pressupõe naturalmente que saibamos organizar modos ágeis e rápidos de difusão da informação, das declarações e comunicados, dos textos, o que hoje é normalmente mais fácil graças à comunicação electrónica. 

7. Além disso, é sempre preciso ser verdadeiros e sinceros. Talvez seja supérfluo recordá-lo, mas não creio. É preciso dizer sempre a verdade, mesmo quando nos são colocadas perguntas difíceis. Caso contrário, mais cedo ou mais tarde acabaremos por nos contradizer, e seremos acusados disso sem piedade, e o mal será mais grave. A consciência tranquila que deriva de se dizer sempre a verdade é a premissa fundamental para enfrentar serenamente cada situação, mesmo as mais difíceis. Isto não significa que devemos dizer sempre tudo: poderá haver justos motivos para a reserva; mas tudo o que se disser deve ser verdade, devemos poder assumir a responsabilidade por aquilo que dizemos. A verdade é um princípio fundamental, particularmente na chamada “comunicação de crises”, quando somos atacados devido a escândalos ou erros. Nada pior do que pensar que podemos melhorar a situação negando a verdade.

Uma observação específica, que considero importante, diz respeito precisamente à chamada “comunicação de crise”, isto é, às situações nas quais a Igreja acaba por se encontrar em dificuldade devido a escândalos ou acusações graves, e fica sujeita a críticas ou ataques também no campo dos media. Podemos pensar nas recentes situações relacionadas com abusos sexuais. É necessário preparar-se para tais eventualidades.

O assunto foi objecto de estudos aprofundados (por exemplo, em Santiago de la Cerva, “A comunicação de crise na Igreja”, EDUSC)[1]. Mas pareceu-me necessário, pelo menos, evocá-lo aqui, e convidar-vos a ter presentes algumas sugestões elementares:

– As únicas medidas verdadeiramente eficazes consistem em antecipar os problemas, reduzir os riscos antes que se tornem crises e preparar-se para o pior.

– As percepções do público são tão importantes como a verdade dos factos: deve-se olhar para o problema com o olhar do público (há um “tribunal da opinião pública”), se as pessoas pensam que há crise, a crise existe mesmo.

– É necessário determinar bem qual será a mensagem da instituição, identificar o público ao qual pretendemos dirigir-nos, escolher o porta-voz (ponderar se devemos ser nós próprios em todos os casos, ou se convém delegar noutra pessoa o caso específico) e os canais de comunicação apropriados.

– É necessário falar com uma só voz e transmitir mensagens coerentes, claras, simples, repetidas. As vozes contraditórias entre si destroem a confiança dos ouvintes.

– Não pensar apenas no público “externo”, mas, ainda antes no “interior” da própria Igreja, para manter a sua confiança. Pensar nas vítimas: o público julgará como foram tratadas as pessoas às quais – voluntariamente ou não – se causaram danos.

– É necessário tentar recuperar a iniciativa, tornar-se fonte informativa, colaborar com as autoridades, responder aos media.

– Como já disse, a palavra chave é “credibilidade”: dizer sempre e só a verdade. Nunca se deve mentir, esconder a verdade ou afirmar coisas não confirmadas. Uma única mentira é suficiente para destruir a credibilidade.

– As más notícias devem ser ditas o mais cedo possível e de uma só vez (não pouco a pouco); se tiver havido erros, deve-se pedir desculpa. Só assim é possível ser-se perdoado.

– Relativamente a “pedir desculpas” é preciso também ter cuidado com as implicações jurídicas, para que não sejam atribuídas responsabilidades que não existem. Consultar um assessor jurídico, nos casos mais críticos, é importante.

Isto é importante e eu recordo a viagem do Papa quando ele falou dos abusos sexuais. O Papa participava na dor e na necessidade de prevenir o problema. Todos o acusavam e queriam envolver as instituições no problema. Nos casos de responsabilidade, um porta-voz é importante.

Na comunicação, além de se ser verdadeiros, é importante ser-se “autênticos” (“ser si mesmos”). Cada um tem a sua personalidade diferente de comunicador. Bento XVI é diferente de João Paulo II, mas também ele – como vemos cada vez melhor – é capaz de comunicar, com o seu estilo próprio. Há quem seja mais brilhante e quem é mais austero, etc. Mas é importante que se veja que quem comunica é uma pessoa sincera, que “entra em jogo”, pessoalmente, naquilo que diz, que é capaz de transmitir convicções e emoções para além de uma linguagem fria e burocrática, “clerical”, no sentido negativo do termo. Devemos recordar que o testemunho, a experiência vivida, são geralmente mensagens bastante mais eficazes do que os raciocínios conceptuais, ou longos discursos: é oportuno que também a nossa comunicação tenha em si elementos e aspectos desta natureza sem cinísmos.

 8. No nosso serviço, devemos também procurar servir a seriedade e o aprofundamento da informação.

Hoje, muitas vezes, a comunicação é demasiado breve, rápida e superficial. Difundem-se muito facilmente “chavões”  incorrectos e perde-se o gosto por compreender com maior profundidade o significado das mensagens mais exigentes, ou a complexidade das situações, ou as verdadeiras motivações das posições da Igreja no seu magistério e na sua pastoral. Embora seja difícil, não devemos abdicar do esforço de fornecer aos nossos colegas comunicadores os instrumentos para eles poderem compreender e aprofundar, assim como estimulá-los a tentar fazer isso. Isto significa não só proporcionar ocasiões de encontros de aprofundamento, como são as tradicionais conferências de imprensa, mas também organizar encontros com pessoas competentes, para alargar o background de certos problemas, e oferecer sistematicamente, além dos comunicados breves e essenciais, também materiais de documentação mais desenvolvidos (com a advertência que não sejam demasiado extensos, para não desencorajar, ao fim, a sua leitura…). Por outras palavras, não devemos ceder demasiado facilmente à ideia de que a informação deva ser sempre superficial e simplista.

A ligação e a colaboração no nosso serviço
9. O nosso é um serviço que não fazemos sozinhos, mas essencialmente em colaboração e em ligação com outros, e é fundamental para a construção da comunidade eclesial na comunhão.

Os instrumentos de comunicação social católicos são instrumentos fundamentais para a construção da comunidade cristã e da comunidade humana, em sentido mais amplo. Por isso, devemos animar e encorajar o uso e o desenvolvimento dos instrumentos de comunicação social no campo que nos for confiado.

Se houver publicações de imprensa, rádio ou televisões, de carácter diocesano ou com cobertura mais vasta, devem ser encorajadas, embora seja oportuno avaliar a sua qualidade e utilidade e os recursos que absorvem; é necessário, às vezes, lançar novas iniciativas: por exemplo, hoje é indispensável garantir uma presença eficaz da realidade diocesana na Internet. Mas é sempre preciso recordar que a comunicação – especialmente na Igreja – é um valor que exige energias e envolve custos, mas dificilmente gera receitas económicas. Com paciência e constância, temos que ajudar os nossos superiores a terem uma visão alargada, a considerarem que há retornos e resultados apostólicos e culturais que não se podem avaliar em termos monetários, mas que são importantes, em relação aos quais vale a pena investir e gastar. Será muitas vezes necessário dedicar recursos económicos, ou procurá-los, para ajudar a comunicação, não só do ponto de vista da disponibilidade dos instrumentos materiais, mas também, e ainda antes, do ponto de vista da formação de operadores qualificados e capazes.

“Comunicação para a comunhão” tornou-se para mim, com o tempo, um lema insistente que inspira constantemente todo o meu trabalho de comunicador e que considero fundamental para transmitir aos meus colaboradores inspiração e orientação no seu trabalho de serviço eclesial como comunicadores. É um lema bastante mais concreto do que se pode imaginar à primeira vista: orienta as escolhas da linguagem, da atitude de escuta e de benevolência para com todos os interlocutores, o gosto para criar ocasiões de diálogo e compreensão mútua, também no campo ecuménico, inter-religioso, etc. É uma atitude decidida: quero falar sempre e só para unir, e não para dividir. É uma atitude que se traduz sempre em comportamentos concretos de disponibilidade para colaborar e para ajudar todas as instituições e as componentes eclesiais e sociais, a fim de que possam dar-se a conhecer, fazer-se compreender, dialogar entre si e com a Igreja e a sociedade, de modo construtivo. Penso que todos devemos ter consciência de que a comunicação é a via poderosa e eficaz para construir a comunhão eclesial: é esta a condição para tomar decisões concretas capazes de a sustentar e promover com todo o coração.

 

10. O discurso da comunicação para a comunhão coloca-se naturalmente a diferentes níveis: na Diocese, mas também para além das suas fronteiras, de modo a abrir-se aos horizontes da região, do país, do Continente, da Igreja universal. A comunicação social é na realidade precisamente a via principal para unir todos os dias os fiéis à comunidade mais ampla da Igreja, inserida no mundo.

Este é um tema em que me empenho muito, porque acredito que alimentar a dimensão da união da Igreja universal através da comunicação, construindo pontes entre as Igrejas locais e Roma, constitui precisamente a missão principal dos media da Santa Sé, nos quais trabalho desde há 18 anos.

Convenci-me cada vez mais que a boa comunicação na Igreja requer a integração de diferentes níveis de comunicação, todos são necessários, mas complementares entre si: o nível local (paroquiano ou diocesano), o nível intermédio (normalmente nacional), e o nível universal. O Bispo, a Conferência Episcopal, o Papa devem estar presentes no horizonte da comunidade católica e de cada um dos fiéis, para que estes se sintam membros da Igreja.

Penso que se devem procurar, nos respectivos países, as formas mais eficazes de colaboração no campo das comunicações sociais para garantir ao mesmo tempo a vitalidade da comunicação local e a dimensão mais ampla, que forma para o sentido da universalidade e da união da Igreja universal. Em muitos Países, esta é a direcção já tomada, ou que se vai tomando, e é natural que isso aconteça.

Neste sentido, a função dos media do Vaticano deve ser encarada como um serviço que pretende integrar o compromisso comunicativo imprescindível das Igrejas locais. Não nos consideramos absolutamente capazes de esgotar a comunicação na Igreja, mas sim o nó central de uma enorme rede difundida capilarmente no mundo inteiro.

Posso falar mais directamente da Rádio Vaticano, que prepara precisamente programas em muitas línguas diferentes que são cada vez mais eficazmente inseridos na programação das rádios católicas que crescem no mundo inteiro e que os recebem regularmente, por satélite ou pela Internet, ao passo que a difusão directa em Ondas Curtas serve sobretudo os Países onde não existem, ou não podem existir, rádios católicas locais.

Algo semelhante acontece com o Centro Televisivo Vaticano, que coloca à disposição das Televisões de todo o tipo – e, por conseguinte, também das católicas as imagens das actividades do Papa, que constituem um ponto precioso e importante da sua programação. Além disso, agora, que se desenvolvem rapidamente as televisões pela Internet, menos caras e mais flexíveis, empreendemos a produção de breves videonews sobre a actividade diária do Papa e colaboramos com outras agências católicas de televisão para produzir e difundir informação facilmente acessível desta forma.

Um olhar conclusivo
Para terminar, diria que o nosso é um tempo muito dinâmico, que abre à comunicação eclesial muitas possibilidades e que deve ser vivido com serenidade e entusiasmo.

É verdade que existem enormes poderes informativos perante os quais nos sentimos pequenos e pobres.

Mas também é verdade que a Igreja tem uma grande vitalidade e está muito próxima da vida real das pessoas.

Não devemos ter uma visão demasiado centralista da Igreja: devemos equilibrar a universalidade com a capacidade criativa local. Devemos ser capazes de encorajar as iniciativas locais, saber fazer circular as experiências positivas e partilhá-las, procurar coordenar e integrar as contribuições para a comunicação dos diferentes níveis, mas valorizando as contribuições informativas e comunicativas que a Igreja universal nos oferece.

Devemos ter confiança, o Espírito actua. Quero recordar as palavras do parágrafo conclusivo da última Carta Apostólica de João Paulo II, de 2005, dedicada precisamente ao “Rápido desenvolvimento dos meios de comunicação social”:

“Aos trabalhadores da comunicação, e principalmente aos crentes comprometidos neste importante âmbito da sociedade, repito o convite que, desde o início do meu ministério de Pastor da Igreja Universal, quis fazer ao mundo inteiro: “Não tenhais medo!”.

Não tenhais medo das novas tecnologias! Elas incluem-se entre as coisas maravilhosas” – “inter mirifica” – que Deus pôs à nossa disposição para as descobrirmos, usarmos, difundir a verdade, também a verdade acerca do nosso destino de seus filhos, e herdeiros do seu Reino eterno.

Não tenhais medo da oposição do mundo! Jesus disse-nos: “Eu venci o mundo!”

Não tenhais medo nem sequer das vossas fraquezas e da vossa inaptidão! O Mestre divino disse: “Eu estarei sempre convosco, todos os dias, até ao fim do mundo”.

Comunicai a mensagem de esperança, de graça e de amor de Cristo, mantendo sempre viva, neste mundo passageiro, a eterna perspectiva do Céu…” (n. 14).

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 Pe. Federico Lombardi, Director da Sala de Imprensa da Santa Sé

 


[1]              Edições da Universidade da Santa Cruz.

Cf. http://www.chiesacattolica.it/pls/cci_new_v3/v3_s2ew_consultazione.mostra_paginat0?id_pagina=4715.

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