Actividades de ensino da língua portuguesa culminaram na criação de um centro de formação «Juntos pela Educação» Há cinco anos atrás jovens universitários do Porto rumaram às montanhas de Aileu, em Timor, com o desejo de ajudar a população no desenvolvimento local, tendo as áreas da educação e da saúde como principais caminhos de acção. 2008 assiste ao crescimento e maturação do projecto de ensino que o G.A.S. Porto desenvolve na ilha. Todas as actividades de ensino da língua portuguesa culminaram na criação de um centro de formação «Juntos pela Educação», inaugurado este ano. Habituados a projectos de dois meses, reservados para Agosto e Setembro, a evolução do trabalho ditou que a duração habitual do projecto evoluísse e “pela primeira vez contamos, desde Fevereiro, com dois voluntários por um ano”, dá conta à Agência ECCLESIA, Sérgio Silva, responsável pelo G.A.S. Porto. A Clarisse e o Rui (os dois voluntários de longa duração em Timor) vão acolher seis voluntários que partiram recentemente para o projecto de dois meses. “Duas pessoas vão ajudar em Aileu, as restantes vão iniciar outro projecto”. Sérgio Silva aponta uma nova intervenção para Tiber, junto a Dili, solicitada pelo Instituto Secular Irmãos e Irmãs Unidos em Cristo, com quem o G.A.S Porto trabalha. Em Outubro prevê-se a partida de mais três pessoas para trabalhar na área da saúde – um médico e duas enfermeiras. 95% da intervenção do G.A.S. Porto é na área do ensino. “Timor está em construção, um processo que precisa dos alicerces da educação e da formação”, explica o responsável português, fundamentando a aposta que o G.A.S Porto faz em crianças, jovens e professores. O projecto em Timor encontra-se uma fase de transição. Se no princípio eram os voluntários a ensinar, quer a leccionar aulas quer também em acções de formação para professores, desde há dois anos que apostam na formação de formadores, o que já permitiu que “este ano a formação de nível 1 estive sob a alçada dos timorenses”. Os cursos são de língua portuguesa, matemática e informática. Os voluntários portugueses mantêm-se responsáveis pela formação do nível 2 e 3. Uma longa aprendizagem de “calma e respeito pelo tempo certo” deu agora frutos. Na perspectiva de Sérgio Silva “não se consegue atingir resultados a curto prazo. Nem tão pouco é correcto”. Um processo que passa por “viver com as pessoas dia-a-dia, percebendo onde estão as suas necessidades”. Projectos de curta duração Os meses de Agosto e Setembro são uma altura “estratégica”, explica Sérgio Silva. Os voluntários estão de férias para partir e os professores em Timor disponíveis também para participar nas acções de formação. “São aulas muito intensas que se estendem durante dois meses onde se consegue formar pessoas que têm depois, um efeito multiplicador durante o ano”. As formações acontecem “não porque as consideramos necessárias, mas porque os professores nos pedem para organizar”. Sendo estes projectos de curta duração, são actividades que “cumprem os seus objectivos”. O responsável pelo G.A.S Porto explica que a instituição foi agindo sem “criar fogo de artifício”, mas optando pela calma. O Centro de Formação «Juntos pela Educação», que conta agora com os professores locais como responsáveis, é fruto desse mesmo trabalho. Cursos de português, explicações de matemática ministradas pelos melhores alunos, manuais distribuídos pelas escolas, criação de um jardim infantil são exemplos de alguns frutos que o trabalho de seis anos tem permitido desenvolver. Aliado ao dinamismo social “temos conseguido fazer um bom trabalho”, afirma o responsável pelo G.A.S. Porto. Os projectos nos dois meses insistiam na formação de líderes. Em 2007 o G.A.S. Porto iniciou uma equipa de formadores, mas “há outras necessidades”. Em dois meses, “quando bem planeado, com a comunidade local motivada, e com um planeamento estratégico para um efeito multiplicador, consegue-se fazer muita coisa”. No entanto, a instituição sentiu recentemente a necessidade e também a possibilidade de ter voluntários durante o ano. Sérgio acredita que com voluntários de longa duração “vamos fazer coisas diferentes, nem melhor nem pior”. O responsável manifesta que “não foi fácil encontrar disponibilidade de voluntários para partir durante um ano”, mas acredita que com “motivação e com a qualidade dos projectos se consegue”. Viver Timor Seis anos conferem a Sérgio Silva legitimidade para afirmar que o povo timorense é muito forte. “É um povo com imensa coragem, muita força e que não desiste”. O responsável recorda os últimos incidentes no país, a 11 de Fevereiro, quando um atentado quase vitimou mortalmente o Presidente Ramos Horta. O responsável pelo G.A.S Porto considera no entanto que o povo timorense é “um povo afectado pela intervenção humanitária pesada e descaracterizadora da cultura”. Esta ajuda foi “essencial, mas a presença tão grande e repentina de muitas organizações estrangeiras, ONGD, das Nações Unidas criaram alguma dependência, em especial nos jovens”. Sérgio aponta uma faixa de “crianças, jovens e adultos pouco dinâmicas, devido à forte presença de ajuda, que, de repente, foi embora”. Os voluntários do G.A.S. Porto recordam a instabilidade que os próprios sentiam durante o desenrolar dos projectos. Em 2007, Sérgio Silva “recorda que se sentia uma «bomba relógio» e que a qualquer momento poderia acontecer alguma coisa”. Em Aileu, na noite em que o Major Reinado fugiu e dormiu nessa mesma localidade “sentia-se um clima de tensão”. Quando se planeava alguma coisa “de repente surgia uma manifestação em Díli e as pessoas deslocavam-se para a cidade”. Em contraste Sérgio Silva recorda que “as pessoas mais velhas não se deixavam afectar pela instabilidade e tinham a certeza da chegada da paz”. Trabalhar e confiar O ponto de equilíbrio entre trabalhar e não causar dependências é “difícil de reconhecer”. Se por um lado os projectos pretendem ajudar, por outro “não querem criar dependência”. Sérgio Silva aponta ser preciso “ler os acontecimentos”, em especial “ler os passos dos timorenses, que podem ser lentos, mas que se desenrolam e é sintoma de não dependência”. Da mesma forma, Sérgio Silva explica que o G.A.S Porto “não está dependente de Timor”, apesar de reconhecer que “temos aprendido muito”. O responsável regista muitas necessidades naquele país, dai optarem por intervir em Timor, mas sublinha que o G.A.S Porto intervém também em Moçambique, concretamente em Massia. Escola de Vida Mas não é só no estrangeiro que o G.A.S Porto desenvolve projectos. Em território português as áreas educativas e de saúde são também as prioridades. Para as crianças e jovens, o G.A.S Porto orienta o acompanhamento escolar e de actividades de tempos livres, apoio estendido também a jovens com “problemas sociais”. Mas os voluntários trabalham também em lares no apoio à terceira idade ou a deficientes. Seis anos depois, o G.A.S Porto abre caminhos para os adultos. “Com o crescimento novas necessidades foram encontradas, mas também novas capacidades”, explica Sérgio Silva. Actualmente a entidade desdobrou-se em dois núcleos. Aos jovens universitários que dão corpo ao voluntariado no Porto durante o ano e a projectos de missão em Timor e Moçambique durante o Verão, junta-se agora o G.A.S Porto Abrigo constituído por 10 pessoas profissionalmente activas, com capacidade de intervenção junto dos sem abrigo no Porto e que demonstra “outra disponibilidade para projectos de longa duração no estrangeiro”. Servir socialmente e estar com quem precisa é o mote do G.A.S Porto. Aos 27 anos, Sérgio Silva aponta a “escola de vida e o crescimento que este trabalho oferece”, sendo uma mais-valia na dinâmica social em território nacional ou internacional.