Futuro de Portugal precisa dos mais velhos

D. Manuel Clemente propõe criação de «Senado» para avaliar medidas e projetos

Lisboa, 15 set 2012 (Ecclesia) – O bispo do Porto defendeu esta sexta-feira a necessidade de integrar o contributo dos mais velhos na construção da sociedade portuguesa e apelou a uma “uma nova pedagogia cultural e social”.

“Não seria demais, por exemplo, constituir a vários níveis uma espécie de ‘senado’, em que os mais velhos e experientes se pronunciassem preventivamente sobre medidas e projetos dos responsáveis ativos, mesmo que só a título consultivo”, disse D. Manuel Clemente, numa intervenção hoje divulgada pelo site da diocese portuense.

O também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) falava no encontro ‘Presente No Futuro – Os Portugueses Em 2030’, organizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, que decorre no Centro Cultural de Belém, Lisboa.

Segundo o bispo e historiador, o alargamento da faixa populacional mais velha da sociedade portuguesa tem “virtualidades” que ainda não foram totalmente consideradas.

“Em primeiro lugar, traduz um dos melhores sucessos das nossas últimas décadas, a saber, o considerável aumento da esperança de vida e da respetiva qualidade física e mental”, observou, antes de sublinhar a urgência de “repensar a tripartição habitual da existência – formação, atividade e reforma – num sentido geral, sucessivo e quase estanque entre cada fase”.

D. Manuel Clemente elogiou, a este respeito, a disponibilidade dos mais velhos para acompanharem filhos e netos, “transformando a idade da reforma numa nova forma da idade, com novos papéis familiares e educativos”.

Este responsável admitiu que não se pode considerar como um bem a diminuição da população jovem, “mais por razões sociais e económicas do que propiamente culturais”.

Neste contexto, o bispo do Porto alertou para um “certo individualismo” que “retrai a constituição de laços conjugais e parentais, com as respetivas interdependências, que normalmente geram vida”.

“Também não creio que a valorização prática do papel da família por parte do Estado seja um dado adquirido”, acrescentou.

O vice-presidente da CEP aludiu a razões sociais e económicas que tornam difícil a constituição e a manutenção das famílias, “por carências de emprego e estabilidade que inibem a geração de filhos, até em número suficiente para a simples continuidade intergeracional”.

O prelado deixou votos de que nas próximas décadas seja possível “conjugar conhecimento e sabedoria, em termos novos, muito novos até”.

“Sabedoria é saber de experiência feito, ou experiência decantada, assimilada e transformada em vida”, explicou, e “induz um conjunto de qualidades e virtudes que não estão hoje em alta: prudência, ponderação, memória histórica, considerações humanistas em geral”.

Em conclusão, D. Manuel Clemente sustentou que Portugal e outros países europeus “não sobreviverão sem incluir populações jovens doutros continentes” e que não haverá futuro “fora de uma verdadeira ecologia, tanto da natureza como do espírito”.

OC

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