Futebol procura nova ética

Em entrevista à Agência ECCLESIA, D. Januário Torgal Ferreira, adepto confesso do futebol, fala das suas perspectivas para o Mundial da Alemanha e avalia o estado do fenómeno desportivo Agência ECCLESIA (AE) – Quais as expectativas para a presença de Portugal no Mundial de 2006? D. Januário Torgal Ferreira (JTF) – Não estou tão entusiasmado como estive no Europeu de 2004, realizado no nosso país. Nessa altura tive a oportunidade de ver alguns jogos e notava outra dinâmica na nossa selecção. Num encontro, que tive em França, falei da nossa selecção e todos apontam o Brasil e a Alemanha como favoritos. Em relação a Portugal, citavam apenas o Cristiano Ronaldo e o Figo. Falando sinceramente não acredito na vitória de Portugal. AE – Apesar desse pessimismo acredita que ficamos em primeiro lugar no nosso grupo? JTF – Era um escândalo Portugal não passar à primeira fase. Se chegarmos às meias-finais já é bom. AE – Os seus eleitos correspondem aos escolhidos por Scolari? JTF – Compreendo o Scolari e as suas escolhas. Ele é inteligente porque criou um balneário que, na linguagem militar corresponde ao espírito de corpo. Neste aspecto tem razão mas na prática gerou um certo tipo de incoerência. Não acredito que o Hélder Postiga seja um elemento de mais valia para a selecção portuguesa. Também não acredito que o Costinha possa estar na melhor forma e tenho dúvidas na condição física do Nuno Valente. Não digo que o Quaresma deveria estar na selecção dos AA mas tenho muita pena que um jogador da sua valia não fosse escolhido. O Nuno Gomes que não fez as últimas partidas pelo Benfica vai e o Quaresma que foi considerado, unanimemente, o melhor jogador da Liga não vai. AE – No conjunto dos convocados quem merece ser titular? JTF – Ricardo, Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Petit, Maniche, Simão, Cristiano Ronaldo, Deco e Pauleta. Tenho dúvidas entre o Nuno Valente e o Caneira. E o Figo… é o peso da tradição. Tem um passado glorioso mas, este ano, a sua produtividade no campeonato italiano não foi a melhor. É capaz de merecer o lugar porque é uma espécie de patrão e pai. Vejo nele, o futuro treinador da selecção nacional. AE – Esta euforia dos portugueses não é desmedida? JTF – Os portugueses são uns exagerados. A maior parte das pessoas não apreciam o futebol mas entram na construção da bandeira nacional, no estádio do Jamor. Cria-se um clima psicológico porque o que está a dar são os gritos. O português deixa-se levar pela onda. AE – Esta onda foi trazida por Scolari basta recordar o episódio das bandeiras nas varandas e janelas. JTF – O Scolari foi um mestre na criação da psicologia das massas mas se começarmos a afundar perdemos o ânimo todo. Em termos de desporto, o português é do clube do bairro. Todos os clubes portugueses são de bairro. Nós transportamos o nosso gosto de bairro. AE – Um desporto de multidões mas onde a moral muitas vezes não habita? JTF – Há um esforço de renovação mas o jogo rasteiro é tão forte que o dinheiro é capaz de comprar tudo. Compra a honra e compra a alma. O dinheiro é muito forte e basta ver o caso do comércio sexual no país anfitrião. A cultura de diálogo entre raças e países deveria predominar mas a exploração das pessoas ganhou terreno. AE – O evento desportivo deu lugar ao evento comercial? JTF – Apesar de continuar a acreditar que há uma forma lúdica e cultural no desporto, infelizmente o que domina são os interesses comerciais. AE – Quem será a equipa revelação no Mundial? JTF – Estou convencido que, finalmente, o Brasil irá apresentar uma grande equipa. AE – E o jogador que sobressairá? JTF – O Thierry Henry. O Deco e o Cristiano Ronaldo também serão duas figuras de proa. Eventualmente, o Lampard também irá mostrar os seus dotes futebolísticos.

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