Futebol: Campanha da seleção nacional no Europeu é reflexo de Portugal, diz professor universitário

«O valor de alguém não pode ser idolatrado, mas deve antes ser enquadrado no contexto de uma equipa», considera Fernando Micael Pereira

Lisboa, 19 jun 2012 (Ecclesia) – A campanha da seleção nacional de futebol no campeonato da Europa, que decorre na Polónia e Ucrânia, reflete a realidade de Portugal, considera Fernando Micael Pereira, especialista em ciências sociais.

A participação, “diferente” da registada em 2004, quando Portugal acolheu o torneio, “espelha e responde igualmente à vida, às atitudes e às necessidades atuais da sociedade portuguesa”, considera o professor universitário em artigo de opinião publicado na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA.

O futebol ensina de “modo fácil de compreender e de assimilar” o que Portugal deve fazer, escreve o autor, que justifica a sua posição com as “regras”, a “ética da competição”, a “rapidez da aplicação da justiça em campo” e do “escrutínio por vezes até excessivo” a que está sujeita.

“A campanha tem mostrado o mérito do esforço sistemático, sem facilitações indevidas, embora mantendo dentro e fora de campo, no treino e no campeonato, as paragens e até as festas que se impõem, a ação e o descanso, as alternâncias que constituem a base de qualquer ação humana, sobretudo se esforçada”, observa.

O artigo realça a valorização do coletivo: “A participação da seleção tem-nos igualmente transmitido que o valor de alguém não pode ser idolatrado, mas deve antes ser enquadrado no contexto de uma equipa”.

“Nem a estrela trabalha para si, nem a equipa se deve deixar perder em competições mesquinhas e secundárias que a nada conduzem; todos precisam de manter a eficiência e a elegância de favorecerem reciprocamente as suas oportunidades”, frisa.

O futebol é um fenómeno que inspira os portugueses para além do jogo: “Nós que somos pouco expansivos, não só então nos entusiasmamos com as realizações da Seleção, como as vivemos em clima de aventura e de projeto”.

O investigador nota que a função do chamado ‘desporto-rei’ “está muito longe de ser a da alienação que tantos proclamaram durante decénios”, embora possa conduzir a “dimensões indesejáveis”, “despesas escandalosas e faraónicas” e a “conluios obscuros”.

Em 2004 “foi magnífico” o modo como o campeonato uniu a população em torno de Portugal, “na explosão de bandeiras e em outros símbolos demonstrados por toda a parte”.

Hoje, “à medida que o campeonato avança, lá vão aparecendo algumas tímidas bandeiras, surgem os lenços e os cachecóis, vai aumentando a confiança e com ela a esperança que afinal estava lá bem resguardada”.

“É este o Portugal de agora, mais austero e mais capaz, mas ainda muito pouco seguro de si próprio”, conclui.

RJM

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