Graça Alves, diretora do Museu de Arte Sacra da Diocese do Funchal, e José Eduardo Franco, historiador madeirense, lembram o bispo que foi «professor de português» do Papa polaco
Lisboa, 25 ago 2025 (Ecclesia) – O historiador José Eduardo Franco e Graça Alves, do Museu da Arte Sacra do Funchal, recordaram do episcopado de D. Teodoro de Faria a atenção ao património, equipamentos e comunidades, e a visita de João Paulo II à Madeira.
“Houve um momento muito significativo do episcopado, e que até foi atribuído a D. Teodoro de Faria, que foi garantir, na grande visita do Papa João Paulo II, a mais demorada, que o Papa João Paulo II fizesse uma visita à Madeira”, destacou José Eduardo Franco, hoje, em declarações à Agência ECCLESIA.
São João Paulo II visitou a Madeira, no dia 12 de maio de 1991, e este “desejo dos madeirenses”, e também de D. Teodoro de Faria, “foi um momento extraordinário”; a Diocese do Funchal ainda tem o papamóvel que transportou o Papa polaco e, todos os anos, coloca-o à frente da catedral para recordar essa visita.

“O facto de ter sido o bispo que trouxe à Região Autónoma da Madeira, uma rocha no meio do mar, o Papa João Paulo II, foi de tal forma marcante para a vida da nossa Igreja, que se fosse só por este momento teria valido a pena”, destacou a diretora do Museu da Arte Sacra do Funchal, Graça Alves, à Agência ECCLESIA, também esta segunda-feira, 25 de agosto.
José Eduardo Franco explicou que o bispo madeirense “foi professor de português do Papa João Paulo II, e isso criou entre eles uma relação mais próxima”, que deu origem ao “momento mais alto do episcopado do D. Teodoro de Faria”, e “grande relevância” nacional e internacional à diocese.
D. Teodoro de Faria faleceu este sábado, na Madeira, a um dia de completar 95 anos de vida; foi bispo do Funchal, entre os anos de 1982 e 2007, após ter estudado Sagrada Escritura, e ter trabalhado em Roma, como vice-reitor e como reitor do Colégio Pontifício Português.
O bispo madeirense, observou o historiador, teve “um longo episcopado e “foi um período de estabilidade”, com a “valorização do património da Igreja”, o “restauro de património artístico e arquitetónico muito importante”, e a criação de uma rede de centros sociais bem equipados, para “garantir um serviço mais adequado da Igreja às populações”, em colaboração com o Governo, o equipamento das paróquias, da construção de igrejas.
Segundo José Eduardo Franco, D. Teodoro de Faria exerceu um “episcopado de estabilização das relações entre a Igreja e o Governo Regional”, que coincidiu com “o período áureo” do então presidente Alberto João Jardim, “também muito carismático”, e com “um período de grandes obras na Madeira”, e uma “consolidação da autonomia”.
O entrevistado, que foi o presidente da comissão organizadora do congresso internacional ‘Diocese do Funchal, a Primeira Diocese Global – História, Cultura e Espiritualidades” (2024), lembra que este “tempo de estabilidade e até de grande harmonia” com o Governo Regional “gerou na Igreja alguns movimentos de crítica e de contestação”, como “a questão do padre Martins Júnior, um padre dissidente”, e um “movimento de contestação de jovens padres que criticou a relação entre a Igreja e o governo, defendendo o maior distanciamento crítico”.
À Agência ECCLESIA, em entrevista publicada a 17 de maio de 2007 (‘Bispo da cultura e de casos fracturantes’), nas vésperas de dar lugar ao novo bispo do Funchal, D. Teodoro de Faria explicou que “se fazia uma guerra ao Governo Regional, perdia o povo todo”, a ideia que tinha é a que “se fizesse uma oposição contínua ao Dr. Alberto João – o que era injusto – não era ele” que caía, antes o próprio bispo.

A diretora do Museu da Arte Sacra recorda de D. Teodoro de Faria o “cuidado com as comunidades”, a “importância muito grande” de acompanhar e estar presente, “à visita e à participação dos madeirenses dispersos pelo mundo”.
“Era um homem conhecedor da Sagrada Escritura e que sabia, e fê-lo muito bem, relacionar sobretudo com os lugares santos. Eu penso que foi das pessoas que mais acompanhou, aqui na Madeira, peregrinos aos lugares santos, dando-lhe sempre todo o conteúdo que aqueles lugares representam para a nossa vida cristã”, desenvolveu Graça Alves, deste “bispo peregrino”.
D. Teodoro de Faria “era homem da cultura, sabia o valor do património que Diocese do Funchal guardava”, e teve “uma importância muito grande na construção e na transformação” do Museu da Arte Sacra do Funchal, que inaugurou, em janeiro de 2024, um núcleo expositivo com uma coleção de ícones ortodoxos, oferecidos por si à diocese.
“O D. Teodoro teve muita importância aqui, teve muita importância como homem do mundo, como homem da cultura e como homem com uma visão para além do seu tempo” – Graça Alves
As cerimónias fúnebres de D. Teodoro de Faria decorrem esta segunda e terça-feira, na Catedral do Funchal: hoje vai ser celebrada uma Missa às 17h30, após a oração do terço às 17h00, e, às 20h00, tem início uma vigília de oração; esta terça-feira, às 11h00, D. Nuno Brás preside à Missa Exequial e depois o vai ser sepultado no jazigo da diocese, no cemitério de São Martinho.
PR/CB