Funchal: Paróquia da Sagrada Família ajuda à integração de luso-descendentes que regressaram da Venezuela

Abriu curso intensivo de língua portuguesa para facilitar a integração e busca de emprego

Funchal, 31 ago 2018 (Ecclesia) – A Paróquia da Sagrada Família do Funchal, na Ilha da Madeira, está a promover um curso intensivo de língua portuguesa para pessoas luso-descendentes vindas da Venezuela, e que buscam retomar as suas vidas na terra natal dos seus pais e avós.

Em entrevista hoje à Agência ECCLESIA, o padre Nélio Mendonça, pároco da Sagrada Família, salienta que este projeto, que começou no mês de agosto, apoia sobretudo venezuelanos com ligações “de segunda e terceira geração” a Portugal, e que têm aqui as suas raízes.

Pessoas que tiveram de sair da Venezuela devido à “situação catastrófica” que o país enfrenta, “que falam sobretudo espanhol e que têm de aprender português para poderem regressar ao mercado de trabalho, encontrar um emprego, seja na Madeira ou no Continente”.

“Muitas vieram para a Madeira devido ao apoio que aqui ainda encontram, algumas têm casa própria, outras ficam em casa de familiares. Há situações melhores e outras de maior dificuldade. Sei de pessoas que estão à espera na Venezuela que a família aqui reúna as verbas necessárias para eles apanharem o avião”, conta o sacerdote.

Este curso intensivo de português para luso-descendentes está a decorrer nas instalações da Paróquia da Sagrada Família, na Cruz de Carvalho, junto ao Hospital Central do Funchal, com alunos essencialmente mais jovens, “abaixo dos 40 anos”, e tem um custo de inscrição de 20 euros por mês.

As aulas têm lugar duas vezes por semana, em horário pós-laboral, e são orientadas por Aura Rodrigues, também ela regressada da Venezuela, com formação feita no Instituto Camões em Caracas, e que é a atual responsável na Madeira pela Associação Venexos.

Um organismo que presta auxílio aos emigrantes venezuelanos em Portugal e também às comunidades da Venezuela.

“A procura do curso tem vindo a aumentar, por isso estamos a preparar a abertura de uma segunda edição do projeto, já a partir de setembro, com outro horário e em outros dias. Vamos sempre procurar adaptar-nos às necessidades e à procura das pessoas”, frisa o padre Nélio Mendonça, que traça “um balanço positivo” da iniciativa, até este momento.

“O problema nestas situações é sempre quando as pessoas se sentem isoladas e sem perspetivas, e nestas aulas elas sentem que estão em casa, que de alguma forma há um sentimento comum. Haver fóruns ou espaços onde as pessoas se possam encontrar, seja para aprender uma língua ou para partilhar experiências, isso é sempre positivo”, realça o pároco.

Para várias destas pessoas, a busca de emprego tem esbarrado num outro obstáculo: a obrigatoriedade de verem reconhecidas as suas habilitações literárias e profissionais.

“Estas pessoas procuram equivalência para os estudos que tiveram, 12.º ano ou ensino superior. Em algumas situações é mais fácil, em outras nem tanto. E é preciso trazer os documentos certificados, com o carimbo da respetiva Faculdade ou Escola que frequentaram, porque sem isso é muito mais difícil”, sublinha o sacerdote, que já teve conhecimento de várias situações deste género.

“Sei de casos de pessoas que vieram numa saída apressada e não trouxeram essa documentação. E conheço também um caso ou outro em que regressaram novamente à Venezuela para trazer essas certificações”, adianta o sacerdote.

De acordo com dados estatísticos da Associação Venexos, cerca de quatro mil venezuelanos e luso-descendentes estão neste momento a residir na Madeira.

O padre Nélio Mendonça mostra-se confiante no futuro destas comunidades, pois “tratam-se de pessoas muito proativas, muito dinâmicas e empreendedoras”, algo que “é uma mais-valia quer para a Madeira, quer para o país, quer inclusivamente para a Igreja”.

“Acontece muito os nossos emigrantes, sobretudo na Venezuela, preservarem muito mais a fé que levaram daqui dos seus pais. São uma comunidade católica muito ativa e trazem essa componente religiosa bastante afirmativa, o que é de salientar”, enaltece aquele responsável.

A grave crise social, política e económica que tomou conta da Venezuela está a levar cada vez mais emigrantes portugueses e luso-descendentes a regressarem a Portugal ou a rumarem para outros países.

O padre Nélio Mendonça espera, a partir do projeto deste curso, poder continuar a apoiar quem mais precisa, e deixa o desafio também às populações madeirenses, para que ajudem as comunidades da Venezuela, recorrendo por exemplo à Associação Venexos.

“Pior do que aqueles que regressam, que têm um suporte familiar no exterior, estão aqueles que gostariam de sair e que é completamente impossível. Os cidadãos naturais da venezuela estão numa situação muito difícil, e quase ninguém fala neles”, lamenta o pároco da Sagrada Família, no Funchal.

Quem quiser participar no curso intensivo de língua portuguesa para luso-descendentes, aberto por esta paróquia madeirense, pode encontrar mais pormenores e contactos através da página do organismo na rede social facebook.

 

JCP

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