Leonor Escórcio recorda crescimento na ilha de Porto Santo e indica marcas de partilha social que estrutura as comunidades
Vila Baleira, Madeira, 13 dez 2024 (Ecclesia) – A celebração das Missas do Parto, na ilha de Porto Santo, “constroem e fortalecem” o sentido comunitário”, são ocasião de “partilha”, e preparam os participantes para o sentido do Natal, aparecendo como uma “expressão viva das tradições”.
“As missas do parto têm um papel único na construção e fortalecimento do sentido de comunidade. São uma oportunidade extraordinária para estarmos todos juntos, uma oportunidade de partilha de fé, que une os diversos quadrantes que pertencem à comunidade. Elas não são apenas um momento de oração e de preparação espiritual para o Natal, são também uma expressão viva das tradições, da identidade e geram um sentido de família, um espírito de Natal entre as pessoas também”, explica à Agência ECCLESIA Leonor Escórcio, funcionária na Camara Municipal de Porto Santo.
A partir do dia 16, e até ao dia 24, as duas paróquias da ilha de Porto Santo, a paróquia de Nossa Senhora da Piedade e a paróquia do Espírito Santo, vão, alternadamente, receber a celebração da Missa do Parto, convidando, a cada manhã, uma coletividade ou associação, a organizar a celebração.
“Há alguns anos, as celebrações eram espalhadas pelos diferentes locais da ilha – a mobilidade era outra e cada sítio organizava a sua celebração. Atualmente toda a comunidade é chamada a participar e as entidades que fazem parte da vida na ilha, entram no espirito das missas do parto”, explica.
As primeiras memórias da participação de Leonor Escórcio nas missas do parto eram acompanhadas pela sua avó, hoje com 93 anos, que recorda ainda o chamar pelo búzio soprado, que de madrugada soava, convidando as pessoas a uma peregrinação até à igreja.
“Quando o búzio tocava, era a hora de depois sair para ir à Missa do Parto. Vinham a pé, a cantar e a tocar, em romaria até a igreja, com cânticos preparados para as celebrações, chamados ‘as novenas da missa do parto’, onde o último cântico é sempre o hino à Virgem do Parto”, explica.
As celebrações, que têm início pelas 06h00 da manhã, são marcadas também pelo som dos sinos que tocam e pelo convívio que se estabelece no final da celebração, no adro da igreja, onde se partilha “o cacau, a canja e os licores que se preparam para esta época natalícia”.
Leonor Escórcio, que trabalha na área da Reserva da Biosfera, apresenta as Missas do Parto como momentos de oração, uma “expressão vida das tradições”, que procuram acolher quem chega numa partilha espiritual mas também social.
“A pobreza marcou gerações na ilha, a vida era muito dura, havia falta de recursos, escassez de água, as dificuldades no cultivo da terra, a ausência de bens básicos, obrigavam as pessoas a viver com muito pouco. Mas isso também deixou marcas na vida comunitárias, porque moldou um forte sentido de entreajuda entre as pessoas, que ainda hoje reconhecemos como um dos valores mais intrínsecos das pessoas daqui do Porto Santo. A minha avó dizia sempre que não havia luxo, mas havia coração”, lembra.
A tradição, indica Leonor Escórcio, perdura pelo contágio entre gerações mais novas mas também na diáspora: “Onde há um madeirense ou porto-santense há, com certeza, uma missa do parto”.
“É muito comum nestas Missas ver os avós, os pais e os filhos lado a lado, a partilhar estas mesmas experiências e que se vão perpetuando nos costumes e valores que nos definem também como povo. O espírito de continuidade e de pertença nestas celebrações tornam-se importantes e, portanto, não fica só aquele compromisso de cumprir um ritual religioso, mas também de vivenciar um momento de encontro, de fé e de identidade que fortalece a nossa comunidade e que, no fundo, nos prepara também para viver o verdadeiro significado do Natal”, traduz.
A conversa com Leonor Escórcio pode ser acompanhada este sábado, no programa ECCLESIA, emitido na Antena 1 pelas 06h00.
LS