Fraternidade Humana: «Mundo está num caminho preocupante», seis anos após assinatura de documento em Abu Dhabi, afirma Rita Reino, da Rede «Cuidar da Casa Comum»

Associação vai promover o «Encontro da Fraternidade», no próximo sábado, para ouvir imigrantes do Paquistão, Eritreia, Angola e do Brasil e reagir a discursos de ódio

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 04 fev 2025 (Ecclesia) – Rita Reino, da Rede Cuidar da Casa Comum na Paróquia de Santa Isabel, em Lisboa, defendeu hoje que “o mundo está num caminho preocupante”, evocando as guerras em várias geografias do mundo e os discursos de ódio contra imigrantes.

“Acho que estamos a atravessar momentos muito difíceis e por isso é que é muito importante estarmos em alerta e mostrarmos que vale a pena seguir este caminho da fraternidade e da união”, afirmou, a propósito do 6º aniversário da assinatura da declaração sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, que uniu o Papa Francisco e o grande-imã de Al-Azhar, em Abu Dhabi, em 2019.

A mensagem do documento católico-islâmico – que convida à reconciliação e à fraternidade entre todos os crentes e pede que se deixem de usar as religiões para incitar ao ódio, ao extremismo e ao fanatismo cego – tem “toda” a atualidade, segundo Rita Reino, falando num “mundo dividido”, com “poucas vozes de união”.

“Nós cristãos, que somos tantos pelo mundo fora, como é que não nos conseguimos unir e fazer pressão a nível político para que estas guerras acabem e para que a fraternidade exista?”, questionou.

Rita Reino, que faz parte da Rede Cuidar da Casa Comum, considera que, a nível dos governos, “há pouca ação e pouca vontade” em colocar fim aos conflitos, apontando “jogos económicos e políticos”.

“Acho que na sociedade civil também há pouco essa vontade. E isso é que me espanta, como é que nós, na sociedade civil, não nos unimos verdadeiramente aos milhares e aos milhões” para “pressionar os governos a tomarem ações no caminho verdadeiro da paz?”, interrogou.

Para assinalar os seis anos da declaração sobre a Fraternidade Humana, a Rede “Cuidar da Casa Comum” em Santa Isabel, Lisboa, promove no próximo sábado um “Encontro da Fraternidade”, que vai decorrer no Centro Universitário Padre António Vieira (CUPAV), na capital, onde se vão escutar imigrantes.

Rita Reino explica que a iniciativa é uma resposta aos discursos de ódio contra imigrantes, para o exterior e interior da Igreja.

“Nós estamos muito preocupados”, expressou, revelando que, apesar de haver a consciência de que muitos imigrantes são acolhidos por organizações da Igreja, se começam a ouvir vozes de cristãos contra os valores que promovem a inclusão.

“Estamos muito preocupados com o discurso que se está a transformar em Portugal, que por um lado nos espanta, nós portugueses, porque também já fomos emigrantes, e preocupados porque dentro da Igreja, no comum, nos esquecemos da fraternidade”, enfatizou.

Rita Reino rejeita que atualmente se vive um clima de insegurança, referindo que “se o sistema de imigração, de legalização fosse rápido, justo, que as máfias”, e quem vem para Portugal para o mal, não teriam tanto “cabimento”.

“Acho que estamos num tempo de viragem e isso preocupa-me muito. Acho que temos que ter um papel fundamental a tirar este mito de que os imigrantes vêm para prejudicar, que os imigrantes vêm para fazer mal, porque o mal de Portugal é dos imigrantes, acho que é muito perigoso”, sublinhou.

A integrante da Rede “Cuidar da Casa Comum” considera que é “muito perigoso” estar a “criar o medo” em torno da chegada de imigrantes, acrescentando que se está a perder um bocadinho a essência do “acolhimento português”.

O encontro no CUPAV, que vai decorrer entre as 14h30 e as 17h30, promove a escuta de quatro imigrantes – do Paquistão (2), da Eritreia, de Angola e do Brasil – que vieram viver para Portugal, com histórias muito diferentes, e depois os participantes vão ser divididos em pequenos grupos, para uma partilha com o método sinodal, e no final um relator vai partilhar os sentimentos e os pensamentos do grupo.

O encontro termina com a construção de um painel sobre a fraternidade, idealizado e desenhado por Ana Cordovil, que vai ficar exposto na Paróquia de Santa Isabel, Lisboa.

No dia 4 de fevereiro de 2019, o Papa Francisco e o Imã Ahmad Al-Tayyeb assinaram em Abu Dhabi o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum.

Na sequência desse texto que ficou conhecido como a Declaração de Abu Dhabi, a Assembleia-Geral das Nações Unidas proclamou o dia 4 de fevereiro como Dia Internacional da Fraternidade Humana.

LJ/PR

Lisboa: Encontro da Fraternidade vai promover a escuta de imigrantes

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