Responsável do Patriarcado e dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa abordam diálogo entre católicos e muçulmanos
Lisboa, 03 fev 2021 (Ecclesia) – O padre Peter Stilwell, diretor do Departamento para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa, defende que o projeto de “fraternidade humana”, proposto pelo Papa, é ainda mais importante face à pandemia.
“A pandemia revelou a dimensão global das relações humanas, hoje em dia”, disse o sacerdote, em entrevista à Agência ECCLESIA por ocasião do primeiro Dia Internacional da Fraternidade Humana, instituído pela ONU, que se celebra esta quinta-feira.
O responsável do Patriarcado de Lisboa fala da importância de um projeto que ainda está por concretizar, como acontece atualmente com a distribuição das novas vacinas.
O padre Peter Stilwell e Khalid Sacoor Jamal, dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa, comentaram em conjunto a celebração do Dia Internacional da Fraternidade Humana e a importância da assinatura da declaração católico-islâmica para a paz mundial e a convivência comum, em 2019, pelo Papa Francisco e o grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb.
“A declaração é um sinal muito profético: antecedeu a pandemia, mas veio tocar no problema central”, destacou o responsável católico.
O diretor do Departamento para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa deixa um alerta contra extremismos, integralismos, “que são um risco em todas as religiões” e também na política, com “atitudes xenófobas, contrárias à fraternidade humana”
Khalid Sacoor Jamal elogia a “amizade genuína” entre o Papa e o grande imã de Al-Azhar, com um propósito de valorizar mais o que une as grandes religiões do que as suas divergências.
O dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa evoca os 800 anos do encontro entre São Francisco de Assis e o sultão al-Malil al-Kamil, do Egito, e o percurso percorrido desde então.
“Embora haja diferenças insanáveis, que sabemos quais são, as religiões e os crentes unem-se em torno de um propósito comum, que é essencialmente a fraternidade e a compaixão”, assume.
Khalid Sacoor Jamal estava em Abu Dhabi, no dia da assinatura da declaração conjunta sobre a Fraternidade Humana, a 4 de fevereiro 2019, e fala de um momento “muito especial, muito mágico”.
No dia seguinte, acompanha a primeira Missa ao ar livre celebrada nos Emirados, durante a visita inédita do Papa Francisco à Península Arábica.
O entrevistado fala num “sinal de fé e é demonstrador de uma enorme esperança para a humanidade”.
Sobre o documento assinado em 2019, destaca o à “união” e aos valores de paz, das religiões, com a preocupação de alargar à humanidade em geral, rejeitando o terrorismo e a perseguição contra crentes de outras confissões.
Khalid Sacoor Jamal destaca a necessidade de ir encontro das “dificuldades do próximo” e ver no perdão uma “via” para “aproximar os corações”.
O padre Peter Stilwell estava em Macau, em fevereiro de 2019, e olhava então para o diálogo Ocidente-Oriente, assumido nos Emirados Árabes Unidos, como um diálogo com o “Médio Oriente”, distante da Índia ou da China, por exemplo.
“O documento alarga-se a todos os crentes e não-crentes, é um apelo a todas as pessoas de boa vontade. Talvez se possa compreender melhor a preocupação do Papa, com a sua recente encíclica”, ‘Fratelli Tutti’, observa o sacerdote.
Francisco vai assinalar esta quinta-feira o primeiro Dia Internacional da Fraternidade Humana, instituído pela ONU, num evento online promovido pelo xeque Mohammed bin Zayed em Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos.
A celebração vai ter a participação de Ahmad Al-Tayyeb e do secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres.
O padre Peter Stilwell recorda a importância dos últimos pontificados para esta aproximação, desde a primeira viagem de João Paulo II a Marrocos (1985) e ao Egito (2000) ao próprio discurso de Bento XVI em Ratisbona, na Alemanha, em 2006, que “desencadeou” o que viria a ser a declaração de Abu Dhabi, em 2019, porque “provocou uma reação por parte de dirigentes do mundo intelectual” muçulmano, a que se seguiram encontros entre delegações.
“Há um processo de amadurecimento, entre as duas grandes comunidades que são a Igreja Católica e o mundo sunita”, realça.
PR/OC