Missionário Redentorista alerta para impactos da «polarização e da ignorância tornada opinião pública»
Porto, 04 fev 2024 (Ecclesia) – O padre Rui Santiago, Missionário Redentorista, disse à Agência ECCLESIA que há sinais “preocupantes” no espaço público, quanto à intolerância religiosa e à xenofobia, com pessoas a defender que o espaço que habitam “é pequeno demais para todos”.
O religioso falava a respeito do quinto aniversário da assinatura da Declaração sobre a Fraternidade Humana, firmada pelo Papa Francisco e o grande imã de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyeb, a 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos).
Apesar de o documento pedir “a todos” que deixem de usar as religiões para “incitar o ódio, a violência, o extremismo e o fanatismo cego, e que se abstenham de usar o nome de Deus para justificar atos de assassinato, exílio, terrorismo e opressão”, continuam a verificar-se fenómenos que “são mais graves do que já se viveu”, sobretudo aqueles “da polarização e da ignorância tornada opinião pública”.
O padre Rui Santiago sublinha, como sinais de alerta, a guerra entre Israel e o Hamas ou, a nível nacional, a manifestação “contra a islamização da Europa”, em Lisboa.
Uma centena de manifestantes de extrema-direita juntou-se este sábado no Largo Camões, em Lisboa, num protesto contra aquilo que diz ser a islamização da Europa e com críticas ao Governo português.
“Os sinais não são animadores”, lamentou o sacerdote, superior provincial dos Redentoristas.
Ao olhar para a capital portuguesa, o padre Rui Santiago reconhece que Lisboa é uma “cidade tolerante e que tem uma história e uma dívida também com a tradição islâmica”.
A cultura do diálogo, sustenta, “deve ser a conduta, o comportamento e o conhecimento recíproco ser o método e o critério para o modo de estar”.
Sublinhando o “bem inquestionável da liberdade de expressão”, o religioso alerta para o que denomina como “discurso mais troglodita”, cuja ampliação representa um canal “apropriado para extremismos, polarizações e, sobretudo, para a grande vitória da ignorância”.
“Isto é arriscado, grave e claramente perigoso. Não são as redes sociais que têm culpa, mas é a ignorância a fazer o que sempre fez, mas hoje tem um lugar de altifalante que nunca teve”.
As potencialidades da técnica possibilitam que as pessoas “tenham voz”, mas colocam riscos devido “às opiniões infundadas num universo de fake news”, acrescenta.
Observando que a ignorância “sempre foi atrevida”, o religioso adverte que, com a importância das redes sociais, ela pode colocar-se a si mesma “num lugar de influencers”.
“Isto é arriscado, é grave, é perigoso, claramente perigoso. Não são as redes sociais que têm culpa, mas é a ignorância a fazer o que sempre fez, mas hoje tem um lugar de altifalante que nunca teve”, conclui.
O padre Rui Santiago é um dos três participantes no encontro comemorativo do 5.º aniversário da assinatura da Declaração sobre a Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da Convivência Comum, que decorre hoje no Porto, Rua da Firmeza n.º 163, pelas 15h00, com representes das três religiões abraâmicas.
LFS/OC