«Fratelli Tutti»: Presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz fala em documento orientador para «reconstrução» da sociedade pós-pandemia (c/vídeo)

Pedro Vaz Patto destaca a importância da «fraternidade» e do «diálogo» no novo documento do Papa

Lisboa, 14 out 2020 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) afirmou à Agência ECCLESIA que a nova encíclica ‘Fratelli Tutti’, do Papa Francisco, oferece “linhas” orientadoras para a reconstrução da sociedade no pós-pandemia.

“Há uma ocasião para repensar esses alicerces, não para perder o que é bom, da globalização, por exemplo, mas que as insuficiências, em relação às desigualdades, e que a pandemia veio por em evidência, se aproveite para corrigir esses aspetos”, disse Pedro Vaz Patto em entrevista transmitido hoje no programa ECCLESIA (RTP 2).

O presidente da CNJP, organismo da Conferência Episcopal Portuguesa, destacou a importância da “fraternidade” e do “diálogo” na nova encíclica, inspirada na figura de São Francisco de Assis.

“Salientaria um aspeto que é o fundamento desta fraternidade, e o Papa é claro, que é esta abertura a um pai comum que dá este fundamento mais sólido, mais estável, à noção de fraternidade. Não quer dizer que só os crentes possam vivê-la, há esta abertura a 360 graus a todas as pessoas, todas as religiões, crentes e não crentes, podem viver esta fraternidade”, desenvolveu.

Pedro Vaz Patto sublinha que o “acentuar” do fundamento da fraternidade na “fé cristã é importante” e, a partir de uma expressão da encíclica, que se se acredita que “Deus ama de uma forma infinita cada pessoa, a dignidade dessa pessoa também é infinita”.

Estamos num contexto em que se coloca em oposição a identidade, as identidades nacionais, às vezes, de uma forma agressiva. O Papa é muito claro ao condenar o chamado nacionalismo de exclusão em nome da identidade”.

O presidente da CNJP salienta também a “abertura a outras culturas, a outras nações”, algo que enriquece cada uma delas, porque “uma cultura saudável é acolhedora e aberta”, como refere o Papa.

“As identidades nacionais enriquecem-se com o contributo de outras e não devem temer o convívio com outras pessoas, com outras culturas”, realça, adiantando que esta posição do Papa coloca-o “nalguns contextos contra a corrente, uma corrente de hostilidade em relação à migração, com outras culturas” e que, “às vezes, até se evoca a identidade cristã das culturas para essa rejeição, o que é contraditório”.

Para Pedro Vaz Patto, outro tema central da encíclica ‘Fratelli Tutti’ é o do diálogo, no qual se parte “do princípio que o outro tem alguma coisa para ensinar” e “ninguém é inútil”.

“Não é como às vezes se confunde com monólogos recíprocos em que cada um quer afirmar a sua ideia. O Papa também é claro ao salientar que o diálogo não significa relativismo, todos, e em conjunto, buscamos uma verdade que nos é superior, que não somos nós que criamos, há verdades que já existiam antes de nós, e continuarão a existir”, desenvolveu.

A Comissão Nacional Justiça e Paz publicou hoje uma nota, acompanhada por uma reflexão, onde afirma que cuidar dos idosos é “dever e responsabilidade de todos” e “não pode ser tarefa exclusiva do Estado”, lembrando que a pandemia do coronavírus Covid-19 “afeta de modo particular a geração dos mais velhos”.

O tema do isolamento e abandono dos idosos também está presente na encíclica ‘Fratelli Tutti’ (Todos Irmãos) que foi assinada pelo Papa Francisco junto ao túmulo de São Francisco de Assis a 3 de outubro, e publicado no dia seguinte, na festa litúrgica do santo italiano fundador da ordem religiosa Franciscana.

PR/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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