Teólogo português elogia perspetivas da nova encíclica do Papa
Porto, 07 out 2020 (Ecclesia) – O padre Jorge Teixeira da Cunha, docente de Teologia na Universidade Católica Portuguesa (UCP), disse à Agência ECCLESIA que a nova encíclica do Papa vem “suprir” uma carência da ética social contemporânea, ao sublinhar o valor da fraternidade.
“A fraternidade é a grande esquecida do programa moderno de renovação social”, referiu o especialista, a respeito do documento ‘Fratelli Tutti’, publicado este domingo.
A terceira encíclica do pontificado – primeira em mais de cinco anos – tem como temas centrais a fraternidade e a amizade social.
A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão ‘Fratelli Tutti ‘ (todos irmãos) remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o pontífice argentino na escolha do seu nome.
Jorge Teixeira da Cunha destaca a “frescura, originalidade e caráter inédito da promoção da ética social”, tal como ela foi vivida e proposta por São Francisco de Assis.
“O próprio título é uma mensagem, digamos assim, um propósito”, assinala o teólogo.
O sacerdote sublinha a novidade de abordar o tema da amizade, situando a reflexão “antes da norma, voltando às coisas mais originárias” – a relação dos seres humanos, “uns com os outros e com todos os viventes”.
Para o docente da UCP, o “ideal moderno de renovação das sociedades, com o refrão da Revolução Francesa” – liberdade, igualdade, fraternidade – tem deixado de lado esta última dimensão.
Francisco, acrescenta, procura dar uma “substância de vida” e de ética à convivência cívica e política.
“O globalismo, como ele diz, cria proximidade, mas não cria fraternidade”, sublinha Jorge Teixeira da Cunha.
O entrevistado indica que a nova encíclica procura dar um sentido novo a todas as “formas de aproximação” da era global.
“Vamos fazer das redes sociais um veículo de aproximação, de aprofundamento da proximidade e da fraternidade do ser humano”, assinala.
O professor de Teologia comenta ainda a atenção dedicada às migrações forçadas, por motivos económicos ou políticos, que chegam à Europa, apresentando cada pessoa como “uma presença que interpela, um próximo”.
“O Papa diz que não devemos tratar esta questão apenas como um problema político, de geoestratégia, de contenção, de preservação da estabilidade”, precisa.
O Cristianismo é destinado a ser global, portanto, vamos incluir aquele que nos visita e que nos traz uma mensagem, para nos despertar”.
Para Jorge Teixeira da Cunha, o populismo – denunciado pelo Papa – é uma “tentativa de manipular” a “vida associada”, a que se contrapõe “uma sociedade de irmãos, capazes da autonomia, da participação”.
O especialista defende que a encíclica vem “inquietar” comunidades católicas que vivam em “circuito fechado”, propondo uma prática pastoral que tenha “interesse para o mundo”.
O sacerdote considera que o Papa é um “continuador” do Concílio Vaticano II (1962-1865), com o qual a Igreja quis “abrir as portas ao mundo”.
“A voz do Papa encontra um público, uma audiência que seria completamente inesperada”, conclui.
‘Fratelli Tutti’ foi assinada, simbolicamente, este sábado, em Assis, junto ao túmulo de São Francisco – e não “junto de São Pedro”, no Vaticano, como é tradição – sendo dirigida aos católicos e “todas as pessoas de boa vontade”.
CB/OC