Organismo católico comenta temas principais da nova encíclica, da guerra às migrações, passando pela economia
Lisboa, 04 out 2020 (Ecclesia) – A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJ), organismo da Igreja Católica em Portugal, publicou uma nota sobre a nova encíclica do Papa, na qual destaca os alertas do Papa contra o ressurgimento de nacionalismos e populismos.
“O apelo à abertura universal da fraternidade confronta-se hoje com o reforço, um pouco por todo o lado, de correntes inspiradas num nacionalismo de exclusão”, refere o texto enviado hoje à Agência ECCLESIA.
‘Fratelli Tutti’ foi assinada, simbolicamente, este sábado, em Assis, junto ao túmulo de São Francisco – e não “junto de São Pedro”, no Vaticano, como é tradição – sendo dirigida aos católicos e “todas as pessoas de boa vontade”.
A CNJP assinala a afirmação do “respeito do fundamento da fraternidade”, pela fé num Deus que é Pai, e o fundamento bíblico da abertura universal, “desfazendo receios de que ela leva à perda das identidades nacionais diante de uma globalização uniformizadora”.
A nota realça a reflexão do Papa sobre o rumo que deveria seguir a globalização, rejeitando uma “única forma cultural imperante”, a questão das migrações e o “princípio do destino universal dos bens”.
É verdade que o ideal seria que a emigração não fosse necessária, mas enquanto não houver sérios progressos no sentido do desenvolvimento dos países pobres, há que reconhecer o direito de cada pessoa a encontrar um lugar onde não só possa satisfazer necessidades básicas”.
A respeito do funcionamento da economia, observa a CNJP, “são criticadas as posições que do mercado esperam a solução de todos os problemas” e convida-se a superar a pobreza através da criação de emprego.
“Salienta-se, assim, a dimensão social e política da caridade, porque é caridade acompanhar a pessoa que sofre, mas também modificar as condições sociais que provocam o seu sofrimento”, precisa o organismo da Igreja Católica.
“A missão do empresário é enaltecida na medida em que cria oportunidades de trabalho para outros (e assim contribui para o destino universal dos bens)”, acrescenta a nota.
Sobre as várias formas de diálogo, a CNJP indica que as mesmas são propostas sem “relativismo” e com referências a valores universais.
“A ética e a política não podem assemelhar-se à física, como se não existissem o bem e o mal em si mesmos, mas apenas cálculos de vantagens e desvantagens”, refere o texto.
A comissão de leigos católicos ligada à Conferência Episcopal Portuguesa reflete ainda sobre as posições apresentadas por Francisco sobre rejeição da guerra e pena de morte, destacando a “continuidade com o magistério de São João Paulo II”.
“O cerne da oposição à pena de morte reside, porém, na distinção entre o crime e a dignidade pessoal do criminoso, que nunca se perde, nem num autor do crime mais grave, nem em qualquer outra pessoa”, precisa a CNJP.
A fraternidade universal é “associada ao diálogo e amizade entre fiéis de diferentes religiões”, levando à rejeição da violência e do terrorismo.
“Para os católicos, trata-se de um documento a estudar com afinco e a viver com coerência. Mas muitas outras pessoas, cristãos de outras denominações, fiéis de outras religiões e todos os que aderem a ideais de fraternidade, podem dela colher, de uma ou de outra forma, inspiração. Fazemos votos de que tenha, por isso ampla difusão”, conclui a CNJP no comentário à encíclica ‘Fratelli Tutti’.
OC