«Fratelli Tutti»: Bispo do Porto fala em encíclica «profundíssima» que desafia Igreja e sociedade (c/vídeo)

D. Manuel Linda sublinha convicção de que, sem fraternidade, liberdade e igualdade «são ideologias»

Foto: Lusa/EPA

Porto, 07 out 2020 (Ecclesia) – O bispo do Porto elogiou a nova encíclica ‘Fratelli Tutti’, do Papa Francisco, falando numa reflexão “profundíssima” apresentada numa “linguagem que toda a gente entende”.

“O Papa em chamar a atenção que só os regimes, só a politica, não conseguiram construir a fraternidade, temos de entrar todos, e porventura as religiões: O cristianismo, o judaísmo, o islamismo, as religiões orientais, todas, senão conseguirmos dar as mãos a fraternidade continuará a eterna desconhecida, continuará o princípio acabrunhado”, disse D. Manuel Linda em declarações à Agência ECCLESIA, esta terça-feira.

O bispo do Porto destacou que as religiões têm “uma base comum para se encontrarem, para solidificarem os laços da sua união e para intervirem no mundo transformando-o como fermento”.

“É a esse nível que nós nos podemos encontrar com outras perspetivas religiosas. Não é sobre o mistério de Deus, uno e trino, que aí o diálogo é pouco, o possível. Agora, a preferência da vida em relação à morte, a preferência da justiça em relação à injustiça, a preferência do amor em relação à guerra, estamos de acordo”, acrescentou.

D. Manuel Linda realça que na nova encíclica ‘Fratelli Tutti’, sobre a fraternidade e a amizade social, o Papa Francisco chama “a atenção que sem a fraternidade, quer a liberdade, quer a igualdade são ideologias”.

O responsável católico contextualiza que “há duas datas” da história contemporânea, da modernidade, que não podem ser esquecidas na Europa, com impacto neste tema.

A primeira, a Revolução Francesa em 1789, “guilhotinou a fraternidade” e, “ao longo de 200 anos, a liberdade competiu com a igualdade.

A segunda, em 1989, a queda do Muro de Berlim, com “dois blocos em contenda” – “o bloco de leste daí o igualitarismo da revolução soviética e o bloco do ocidente libertário”.

“Como ganhou o do Ocidente, a igualdade não contava nada, a justiça social não conta nada, e ficou apenas uma liberdade vaga”, acrescentou.

Foto João Lopes Cardoso/Diocese do Porto, D. Manuel Linda

A encíclica ‘Fratelli Tutti’, que para o bispo do Porto “é um desafio”, foi assinada pelo Papa, simbolicamente, este sábado, em Assis, junto ao túmulo de São Francisco, sendo dirigida aos católicos e “todas as pessoas de boa vontade”.

Na página online da Diocese do Porto, D. Manuel Linda publicou um comentário em que destaca as consequências do “processo de globalização financeira”, promotor de um “paradigma antropológico do homem-consumidor”.

“Neste ciclo não cabe a dimensão fraterna, alegre, respeitadora da natureza e simples do viver em comum”, lamenta o responsável católico, o qual acredita que as religiões têm um papel de “recuperação da fraternidade” e criou no dia 2 de outubro uma Comissão Diocesana para o Diálogo Inter-Religioso do Porto.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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