Edição especial das «Conversas na Ecclesia» aborda mensagens essenciais da encíclica publicada em tempos de pandemia
Lisboa, 03 out 2021 (Ecclesia) – Teresa Bartolomei, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (UCP), disse à Agência ECCLESIA que a encíclica ‘Fratelli Tutti’, assinada pelo Papa há um ano, denuncia a “crise radical das comunidades”.
A investigadora, uma das participantes na edição especial das ‘Conversa nas Ecclesia’ para assinala este aniversário, destaca que Francisco identifica duas “patologias comunitárias”, o individualismo e o soberanismo, deixando a proposta de uma “antropologia universal renovada”.
Perante meses em que a pandemia destapou uma “fragilidade fundamental” da humanidade, indica Teresa Bartolomei, a fraternidade proposta pelo Papa “não é um ponto de partida, mas um ponto de chegada”.
A convidada indica que a ‘Laudato Si’, encíclica ecológica e social de 2015, e a ‘Fratelli Tutti’ (2020) identificam dois problemas centrais da humanidade contemporânea, a crise ecológica e a crise “política/antropológica” numa sociedade cada vez mais globalizada, mas sem “rumo comum”.
Joana Silva, economista e docente da UCP, elogia as chamadas de atenção de Francisco para os problemas da pobreza e desigualdade, num mundo em que ainda há 750 milhões de pessoas em pobreza extrema.
“A pobreza é muito difícil de ultrapassar”, admite a especialista, para quem é preciso encontrar respostas para os impactos da pandemia em Portugal e no mundo.
Para a convidada, o Papa sublinha a necessidade de modificar as “condições sociais” que provocam o sofrimento de tantas pessoas, com políticas públicas adequadas.
Joana Silva aponta ainda à importância de “avaliar” os impactos destas políticas e confrontar “o objetivo do programa com o que se está a atingir”.
A encíclica ‘Fratelli Tutti’ destaca o papel das religiões na construção da fraternidade e na rejeição do extremismo.
Khalid Jamal, dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa, elogia um documento “extremamente importante”, com grande impacto na relação com outras comunidades religiosas.
“O Papa é um observador atento da realidade do mundo” e procura apresentar soluções “globais”, promovendo “mais a união do que a divergência”, aponta.
O convidado indica que Francisco propõe uma “reforma de valores, assente na nobreza das pessoas e das profissões”, para resistir à “conveniência do momento” e à “progressiva desumanização da sociedade”.
O Papa publicou a 4 de outubro de 2020 a sua encíclica ‘Fratelli Tutti’ (Todos Irmãos), na qual denuncia o que qualifica como “globalismo” do mercado de capitais, que responsabiliza pelo aumento de desigualdades e injustiças sociais.
O texto dedicado à “fraternidade e amizade social” apela a uma “globalização dos direitos humanos mais essenciais” e propõe a redescoberta de uma “dimensão universal capaz de ultrapassar todos os preconceitos, todas as barreiras históricas ou culturais, todos os interesses mesquinhos”.
A encíclica é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão ‘Fratelli Tutti’ (todos irmãos) remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o pontífice argentino na escolha do seu nome.
OC