Responsável pela Associação Zero indica «Laudato Si» como encíclica «consequente» e lamenta que a voz do Papa se se faça «ainda sentir como seria desejável e necessário»

Lisboa, 21 abr 2025 (Ecclesia) – Francisco Ferreira, da associação Zero, disse hoje que o Papa Francisco foi uma voz inconveniente” com “orientações rigorosas”, e “pôs o dedo na ferida” quando abordou o respeito pelo ambiente e o cuidado com a Casa Comum.
“As orientações rigorosas em termos técnicos, científicos, mas acima de tudo humanos naquilo que deve ser a mudança necessária de uma sociedade que, sem os princípios de Francisco, terá cada vez maiores problemas para garantir o bem-estar e a qualidade de vida de todos”, afirmou à Agência ECCLESIA.
O responsável, ligado à ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, fala de um Papa que fez “toda a diferença” a colocar “a sustentabilidade em cima da mesa” e nos apelos que fez “não apenas aos católicos, mas a todo o mundo” e “aos políticos para mudarem um planeta que está obviamente a sofrer e onde os mais protegidos são os mais afetados”.
“É um Papa que pôs o dedo na ferida, na lista de atualidades, que é uma das componentes fundamentais da sustentabilidade, da dimensão social, que não teve medo de identificar uma economia predadora dos recursos e das pessoas, que é a outra dimensão da sustentabilidade onde precisamos de atuar, e depois o ambiente como aquilo que é crucial, o cuidar da nossa casa comum, que é realmente uma missão essencial para a sobrevivência da própria humanidade. Ele diz mesmo ser um dever de cada um dos cidadãos”, traduz.
Francisco Ferreira assinala os 10 anos da encíclica «Laudato Si», no próximo dia 24 de maio, e que o seu ator “não ficou pelas encíclicas”.
O responsável fala numa voz “inconveniente” que no seu pontificado fez “apelos aos governantes”, protegeu os jovens que se “indignavam contra quem punha o futuro em causa pela forma como se estava a lidar com o planeta e as várias crises”.
“Era uma voz muito inconveniente, mas que tinha por trás todo o conhecimento. Ele reconhece a lutas de muitos movimentos ao longo dos anos para garantir um caminho mais sustentável para o planeta. Ele quer na encíclica de «Laudato si», quer no dia-a-dia das suas intervenções, não tinha meias palavras para identificar o que era preciso mudar”, sublinha.
A encíclica «Laudato Si» foi publicada em 2015; no mesmo ano foram aprovados os Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris, no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, durante a 21ª Conferência das Partes (COP21).
Foi um ano decisivo, foi um Papa decisivo, pena é que o eco da sua voz ainda não se faça sentir como seria desejável e necessário”, finaliza.
O Papa faleceu hoje, na Casa de Santa Marta, onde se encontrava em convalescença desde 23 de março, após um internamento de 38 dias no Hospital Gemelli, devido a problemas respiratórios.
O anúncio foi feito pelo cardeal camerlengo, D. Kevin Farrell: “Queridos irmãos e irmãs, é com profunda dor que devo anunciar a morte do nosso Santo Padre Francisco. Às 07h35 desta manhã, o Bispo de Roma Francisco regressou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”.
LS
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