Francisco: «Que a memória do Papa seja uma bênção», como diz a comunidade judaica, refere Padre Peter Stilwell

Sacerdote destaca que o Papa Francisco teve o «talento de tocar as pessoas» pelo seu ministério

Padre Peter Stilwell
Foto: Agência ECCLESIA/LFS

Lisboa, 26 abr 2025 (Ecclesia) – O diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa assinalou hoje que o Papa Francisco levou da “sua experiência na Argentina” o ir ao encontro dos outros irmãos na fé.

“Aprendemos muito com os outros, tenho trabalhado nesta área há uns anos e posso dizer que aprendi a valorizar coisas da minha tradição católica a partir daquilo que foi o conhecer mais a fundo aquilo que são as tradições dos outros. Aquilo que tenho de distintivo, de especial, e aquilo que tenho e partilho com outros”, disse o padre Peter Stilwell, este sábado, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa lembrou que o Papa Francisco, em Jacarta (Indonésia), onde esteve de 3 a 6 de setembro de 2024, dizia para “olhar em profundidade”, e perceber que os outros também são peregrinos, também estão à procura dessa transcendência a que uns dão um nome, outros dão outro.

“Somos todos diferentes e devemos valorizar essa diferença, a nossa, defendemo-la, e está relacionada com a pessoa de Jesus Cristo, o que acreditamos é que em Jesus Cristo presenciamos o carinho, o cuidado e o amor que Deus tem com a humanidade”, indicou.

Segundo o padre Peter Stilwell, o talento de tocar as pessoas é qualquer coisa que “o Papa Francisco evocou pelo seu ministério”, e partilhou a mensagem que recebeu de um amigo, “que não gasta muito da prática religiosa”: ‘morreu um homem em que eu, na minha curta vida, senti a presença de Jesus’.

“Este sentido de tocar os outros, pegar nas crianças, de abraçar o doente, de visitar as prisões, beijar os pés daqueles que estão em guerra, estes gestos falam muito, e é um talento que Jesus tinha, e se calhar o nome Francisco evoca isso”, acrescentou, lembrando a “frase célebre” de São Francisco “evangelizar sempre, e às vezes com palavras”.

O Papa Francisco faleceu aos 88 anos de idade, na segunda-feira, dia 21 de abril, após mais de 12 anos de pontificado, na sequência de um AVC, quando se encontrava em convalescença na Casa de Santa Marta, no Vaticano; a “Missa exequial pelo Romano Pontífice Francisco” realizou-se na manhã deste dia 26 de abril, concelebrada pelos cardeais e patriarcas das Igrejas Orientais Católicas, na Praça de São Pedro, no Vaticano.

D. Jorge Mario Bergoglio, cardeal de Buenos Aires, foi eleito Papa em março de 2013, o padre PeterStilwell destaca que foi da Argentina que levou “a experiência” de ir ao encontro dos outros irmãos na fé, “aliás foi visitado muito cedo, depois da sua eleição por um rabino e um imã, que eram seus amigos”.

No âmbito do papado, o diretor do Departamento das Relações Ecuménicas e do Diálogo Inter-religioso do Patriarcado de Lisboa recorda que “havia esse laço humano e havia um caminho trilhado a começar por João Paulo II”, que aproveitou uma abertura iniciada no Concílio Vaticano II, “de perceber que as outras religiões também têm uma marca do divino, porque tudo foi criado por Deus”, e na perspetiva cristã “não há nada que esteja fora das mãos de Deus”, as outras religiões também têm “essas sementes, essas marcas do verbo”.

“Como diz a comunidade judaica: ‘que a memória do Papa seja uma bênção’”, conclui o padre Peter Stilwell.

Segundo dados das autoridades locais, citadas pelo Vaticano, “cerca de 250 mil pessoas assistiram ao funeral”; após a celebração, o caixão regressou ao interior da Basílica de São Pedro, e foi transportado pelas ruas de Roma, em carro aberto, para a Basílica de Santa Maria Maior, onde o Francisco escolheu ser sepultado.

HM/CB/PR

Partilhar:
Scroll to Top