Teóloga espanhola convocada pelo Papa para a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos sublinha que processo sinodal tem de continuar: «Já não precisamos que ninguém nos diga ou que alguém nos dê ordens para fazer ou não fazer»

Lisboa, 21 abr 2025 (Ecclesia) – Cristina Inogés Sanz, teóloga espanhola convocada pelo Papa para a última Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, disse hoje que o pontificado de Francisco fica marcado pelas palavras “margens, periferia e sinodalidade”.
“As margens, as periferias e a sinodalidade – elas não fazem sentido se o Evangelho não for colocado no centro. E isso marcou-me muito e foi uma convicção dele, mas de Jorge Mario, que depois se tornou Francisco – a verdade é que não o podes mostrar de uma forma tão natural se não tiver sido a tua vida normalmente”, refere à Agência ECCLESIA.
Na hora da morte de Francisco, a teóloga afirma o dever de “transformar a dor em esperança” e recorda o legado da “sinodalidade – a parte mais forte da sua mensagem”.
“Ensinou-nos a admirar as periferias e as margens. E temos de continuar a fazê-lo, já não precisamos que ninguém nos diga ou que alguém nos dê ordens para fazer ou não fazer”, traduz.
A teóloga indica que Francisco deixou “uma orientação muito clara do que deve ser a Igreja sinodal do terceiro milénio”.
“A carta publicada a 15 de março, que é assinada pelo Cardeal Mario Greix, o secretário-geral do Sínodo, mas cada palavra é de Francisco, porque se vê no estilo – e creio que Francisco sabia que não viveria muito tempo – penso que, neste momento, é algo como o seu testamento. Ele diz: «Deixo-vos isto, mas têm de ser todos vós, não têm de esperar que alguém o diga. Não podemos esperar mais. Nós, povo de Deus, já temos a capacidade de percorrer este caminho sinodal que nos ensinou a trabalhar e a fazer”, sublinha.
Cristina Inogés Sanz convida a manter a “misericórdia” que Francisco demonstrava “desde o início do pontificado”, a olhar “sempre” para as periferias e para as margens.
“Olhar sempre para as periferias e para as margens porque são o centro da Igreja, porque é aí que Cristo está, e a partir daí devemos seguir este caminho de tornar a Igreja sinodal uma realidade, todos juntos, como deve ser, não pode ser de outra forma. E penso que isto é algo que tivemos de aprender durante este tempo do Sínodo e que não devemos abandonar agora”, afirma.
A teóloga espanhola foi a única mulher leiga que participou na Assembleia do Sínodo dos Bispos, desde que o Papa Francisco convocou a Igreja para viver o processo sinodal, em 2021; esta nomeação do Papa foi direta e Cristina assume a “grande surpresa” porque não sabia o porquê de o Papa a contactar.
“Eu nunca me tinha destacado, não ensinava em nenhuma universidade que tivesse nome e fama. Falando com ele depois, descobri que ele tinha lido alguns dos meus livros e dos meus artigos na Vida Nueva. Foi então que decidiu telefonar-me e convidar-me para partilhar este momento maravilhoso”, recorda.
“Foi um período muito intenso com ele, porque tivemos um contacto muito direto e muito próximo. E a verdade é que para mim foi uma dádiva poder conhecê-lo tão de perto, e sobretudo conhecer o Papa, mas sobretudo conhecer Jorge Mário. Isso era o mais importante para mim”, conta.
A teóloga recorda que a facilidade com que as pessoas se sentiam “à vontade” junto de Francisco, o clima de “proximidade” que se instalava, porque, assume”, “ele era assim”.
“Ele tinha muita facilidade em fazer-nos sentir à vontade, em fazer-nos sentir bem, criava um clima de proximidade e isso porque ele era assim. Não se aprende isso, ou se é assim ou não se é. E depois aquela naturalidade com que falava e aquela visão de sempre, aquela centralidade de colocar Cristo no centro e com Cristo os pobres e os marginalizados”, conta.
“O dia foi terrível, porque, evidentemente, a fé não tira a dor, mas pensar que Francisco morreu é automaticamente pensar que ele ressuscitou. É essa esperança, essa fé que a dor não tira”, finaliza.
O Papa faleceu hoje, na Casa de Santa Marta, onde se encontrava em convalescença desde 23 de março, após um internamento de 38 dias no Hospital Gemelli, devido a problemas respiratórios.
O anúncio foi feito pelo cardeal camerlengo, D. Kevin Farrell: “Queridos irmãos e irmãs, é com profunda dor que devo anunciar a morte do nosso Santo Padre Francisco. Às 07h35 desta manhã, o Bispo de Roma Francisco regressou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”.
LS