Músico agnóstico pede que Igreja Católica continue rumo de «proximidade, tolerância e atenção aos mais fracos»

Porto, 21 abr 2025 (Ecclesia) – O músico Pedro Abrunhosa disse hoje que o Francisco se “cumpriu”, e apelou para que a Igreja prossiga o “rumo de tolerância, proximidade, atenção aos mais fracos” que o Papa viveu e cujo caminho mostrou.
“Temos aqui a noção perfeita de um ser humano que se cumpriu plenamente, e que nos ajudou a nós próprios a encontrar também um caminho, essa reconciliação com a Igreja, se quiser, também com Deus, para quem tem dúvidas, para quem não acredita, para quem precisa da proximidade, e o Papa Francisco era isso, era a imagem da existência divina”, afirmou o músico à Agência ECCLESIA.
“O Papa Francisco representa um caminho que, penso, precisa ser continuado e que, apelo aos mais altos órgãos eclesiásticos para manter neste rumo, que é um rumo de tolerância, de proximidade, de atenção aos mais fracos. O papel da Igreja sempre foi esse, mas houve papas que fizeram melhor, esse magistério, e eu creio que o Papa Francisco deixa marca”, acrescentou.
O músico agnóstico, que esteve com Francisco em junho de 2023 num encontro com artistas, sublinha a palavra «esperança» e afirma esperar da Igreja católica, “esta imensa e importantíssima instituição”, a palavra “esperança” para que “o mundo encontre o seu lugar de reconciliação e de paz, de harmonia também social e espiritual”.
“As últimas palavras do Papa foram de apelo à paz em Gaza. O Papa é perentório na reprovação de genocídio, e usa a palavra genocídio e não a usa em vão, perante o que está a ocorrer em Gaza. É preciso que nós saiamos desta situação, em que aceitamos as coisas por mais violentas que sejam. Este momento em que o Papa parte, é um momento de profunda consternação do mundo, mas também para olharmos para o que ele escreveu, para o que ele falou, quando se referiu aos fracos, aos loucos, aos doentes, aos cansados, aos velhos, aos prostitutos e aos migrantes”, recorda.
O músico lamenta a crise em que o mundo se encontra – “uma crise espiritual, existencial, mas também, de ordem social, política e económica” e destaca a “fortíssima liderança” do Papa que surge como “sinal de caminho a seguir”.
“O Papa Francisco que acolhe – e o gesto em Lampedusa é disso que fala – acolhe o que foge às bombas, à guerra, à perseguição, à destruição, à ignorância, ao analfabetismo, e que não tem necessariamente que professar a mesma fé, nem que ter a mesma cor de pele, nem que ter a mesma orientação sexual, não. ‘Todos, todos, todos’ é exatamente isso que significa”, avança.
Em Francisco, indica o músico agnóstico, “não havia qualquer distância entre a palavra e os gestos”.
“Estamos órfãos desta noção clara de verticalidade, de hombridade, de dignidade, estamos órfãos deste homem que é simultaneamente Papa Francisco, mas é também, em certa medida, o Papá Francisco, se quiser”, reconhece.
Pedro Abrunhosa recorda, na Capela Sistina, em junho de 2023, o encontro do Papa com os artistas e a proximidade física com Francisco que permitiu ao músico português “olhá-lo” e perceber um “parente próximo”.
“Hoje é um dia triste mas é também um dia de elevação, porque se existe um caminho antes e depois de Cristo, porque existe uma palavra que é substantivada nesta ajuda aos fracos, e depois é prosseguida, então este Papa é claramente um dos Papas que respondem a esse apelo e que faz permanecer essa palavra de ajuda, de interajuda, de bondade e de esperança”, finaliza.
O Papa faleceu hoje, na Casa de Santa Marta, onde se encontrava em convalescença desde 23 de março, após um internamento de 38 dias no Hospital Gemelli, devido a problemas respiratórios.
O anúncio foi feito pelo cardeal camerlengo, D. Kevin Farrell: “Queridos irmãos e irmãs, é com profunda dor que devo anunciar a morte do nosso Santo Padre Francisco. Às 07h35 desta manhã, o Bispo de Roma Francisco regressou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”.
LS