Francisco: Papa foi «exemplo personificado da forma como nos devemos relacionar com a deficiência» – Carmo Diniz

Diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência recorda contributo de Francisco na área da inclusão

Foto: JMJ Lisboa 2023

Lisboa, 25 abr 2025 (Ecclesia) – Carmo Diniz, diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), da Conferência Episcopal Portuguesa, destacou a atenção do Papa Francisco às pessoas com deficiência durante o pontificado, visível através de atitudes.

“O Papa mostrava uma alegria e uma ternura tão grande quando se encontrava com a pessoa com deficiência, que é o verdadeiro exemplo personificado da forma como nos devemos relacionar com a deficiência”, afirmou Carmo Diniz, em entrevista ao Programa Ecclesia, transmitido este domingo na Antena 1.

Segundo a responsável, Francisco foi exemplo através de “gestos”, da “ternura” e da “alegria do encontro que tinha”.

Carmo Diniz identifica “uma verdadeira mudança na abordagem” da inclusão das pessoas com deficiência na Igreja, indicando que há um momento em que Francisco “deixa de falar tanto” no assunto, mas dá um “exemplo forte” e “muito sólido” de como lidar com o tema.

A responsável lembra que passaram a “ser as próprias pessoas com deficiência a ter voz na Igreja”, através da redação de documentos, como “A Igreja é a nossa casa”, e da participação no Sínodo.

Também o próprio Papa, ao assumir a fragilidade ao longo do pontificado, foi um sinal forte para a Igreja e para a sociedade, considera Carmo Diniz.

Na encíclica ‘Laudato Si’, publicada em junho de 2015, Francisco alertou para as consequências das alterações climáticas e sinalizou a necessidade de repensar a relação do ser humano com o outro e com o mundo que, de acordo com a responsável, é uma mensagem que “persiste” e “não vai desaparecer”.

“[Papa] parece que vem dizer a mesma coisa que nós já sabíamos. […] E o que é a grande inovação? É trazer para a teologia e para as nossas vidas este conceito que nós já temos há tantos anos com a ciência”, assinala.

Na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, Carmo Diniz foi a coordenadora das áreas da inclusão e da sustentabilidade e recorda que aí percebeu que a formação em Biologia e a atenção à deficiência se juntavam naquela missão.

“De repente faz tudo sentido. Tal como muito mais sentido faz todas as encíclicas do Papa”, indica.

Do pontificado de Francisco, a diretora do SPPD recorda também a alegria e a esperança, que o Papa “não largou” em momento algum.

“Nós vemos que desde o princípio que é um Papa cheio de esperança. E que nos deixa um testamento, uma mensagem de esperança para a frente”, destaca.

Carmo Diniz realça a necessidade de dar continuidade a todos os processos que Francisco iniciou, como o Sínodo, que foi “profundamente transformador”.

“Temos muitos sinais de esperança e estes processos, quando se vê com atenção estes anos de pontificado, vê-se que as coisas de facto mudaram. A sociedade mudou muito. A sociedade mudou muito nos últimos anos por variadíssimas razões”, referiu.

Carmo Diniz fala em Francisco como “um peregrino da esperança” e um exemplo de “Igreja em saída”.

“[Papa] não estava sentado à espera que as pessoas viessem ter. Levanta-se e sai, sai do sítio onde está, do seu conforto, da sua segurança. Muitas vezes até vai ter com as pessoas para resolver problemas em concreto”, ressalta, lembrando a assinatura da declaração sobre a fraternidade humana, em fevereiro de 2019.

Francisco faleceu esta segunda-feira, aos 88 anos de idade e após mais de 12 anos de pontificado, na sequência de um AVC; o Papa esteve internado entre 14 de fevereiro e 23 de março, a hospitalização mais longa do pontificado, devido a uma infeção respiratória que se agravou para uma pneumonia bilateral.

Segundo a responsável, Francisco “deu colo a tanta gente, a tanta gente, que nem imaginava que precisava do colo de Francisco”.

“É muito impressionante ver estas expressões tão globais, tão variadas, de tantos sítios que nós não imaginamos, de pessoas que se sentiam acompanhadas, que se sentiam queridas”, destaca.

A entrevista com Carmo Diniz vai estar em destaque na emissão deste domingo do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública (06h00).

OC/LJ

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