D. Nuno Almeida lembra que Francisco «desencadeou a «originária energia evangélica, e desafiou à conversão e à reforma»
Bragança, 21 abr 2025 (Ecclesia) – O bispo de Bragança-Miranda, D. Nuno Almeida, destacou a marca de proximidade que o Papa Francisco, que morreu hoje, deixou ao longo do pontificado, que “procurava cultivar, por todos os meios”.
“Para ele não se tratava somente de um conceito, ou de gestos esporádicos, mas de um modo se ser e de exercitar o seu ministério. O Papa
Francisco gostava do contacto direto com as pessoas, sobretudo com os mais vulneráveis ou frágeis”, escreveu D. Nuno Almeida, no texto enviado hoje à Agência ECCLESIA.
Segundo o bispo diocesano, “parecia até que ao aparecer em público, [o Papa] dava mais importância a estes gestos do que aos discursos que devia pronunciar”.
“Com o seu magistério feito de palavras, de gestos e ainda mais de um estilo novo, [Francisco] desencadeou a originária energia evangélica, e desafiou à conversão e à reforma”, salientou.
O responsável católico lembra que precisamente num tempo, como o que se vive atualmente, “em que a ‘fraternidade’ não é compreendida como óbvia”, fica, “como legado, no pensamento e ação do Papa Francisco, a sua dimensão mística ou contemplativa”.
D. Nuno Almeida ressalta que “o Papa Francisco não se cansou de alertar para a necessidade de remover preconceitos seculares e inconscientes e para intolerância que trazemos connosco desde sempre, sem nos darmos conta”.
“Convidou-nos a tomar consciência e a vencer a intolerância que habita as nossas mentes e nos nossos corações e deixamos transparecer nas nossas palavras”, referiu.
O bispo de Bragança-Miranda evoca a “voz profética do Papa Francisco” que “chamou a atenção de que, por vezes, o mundo parece habitado por ‘mónadas’ fechadas, que giram à volta de interesses mesquinhos e imediatos, quando o Evangelho nos aponta outra via, a de decididamente sermos ‘samaritanamente nómadas’”.
“O Papa Francisco ensinou-nos que a denúncia do mal e do escândalo da violência, exige também o anúncio e experiência efetiva do mistério da graça redentora e reconciliadora de Deus em Cristo”, referiu.
No texto intitulado “A Páscoa do Papa Francisco”, D. Nuno Almeida recorda também o momento de eleição de Francisco, que presenciou em Roma, onde se encontrava por causa dos estudos, em 2013.
“Tive a alegria de estar na Praça de S. Pedro, quando o Papa Francisco, no dia da sua eleição, se inclinou, com humildade, para fazer a coleta da oração da multidão ali reunida. Não contive as lágrimas”, descreve.
Para o bispo diocesano, esta “era o culminar de muitas surpresas e outras tantas emoções: um Papa nada “clerical” que saúda a multidão com “buona sera!”, veste com tanta simplicidade, reza em italiano e não em latim, apela à fraternidade, à confiança recíproca, testemunha o seu amor por Maria, recorda o seu antecessor, capaz de gestos espontâneos e adota o nome Francisco!”.
“Desde o primeiro instante, o Papa Francisco irradiava vida e serenidade. Intuíamos que os seus pensamentos, sentimentos, palavras e ações estavam em harmonia e da sua pessoa transparecia simplicidade, autenticidade, numa palavra: congruência. Esta harmonia era fruto, prioritariamente, da ação do Espírito Santo, mas também do esforço humano”, sublinhou.
D. Nuno Almeida lembra que o Papa “deixava transparecer uma vida unificada interiormente, centrada em Cristo e no serviço aos irmãos”: “O Papa Francisco, em privado e em público, testemunhava harmonia, ou congruência, entre o pensar, o sentir, o falar e o agir”.
“O Papa Francisco vive a sua Páscoa, a sua passagem para a Casa do Pai. É hora de agradecermos a Deus o seu fecundo ministério e de fazemos germinar as sementes de esperança que nos legou”, concluiu.
O Papa faleceu hoje, na Casa de Santa Marta, onde se encontrava em convalescença desde 23 de março, após um internamento de 38 dias no Hospital Gemelli, devido a problemas respiratórios.
O anúncio foi feito pelo cardeal camerlengo, D. Kevin Farrell: “Queridos irmãos e irmãs, é com profunda dor que devo anunciar a morte do nosso Santo Padre Francisco. Às 07h35 desta manhã, o Bispo de Roma Francisco regressou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e da sua Igreja”.
LJ/OC