Francisco: Autobiografia inédita fala de tragédias de juventude e família de imigrantes

Livro chega a Portugal no dia 14 de janeiro

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 12 jan 2025 (Ecclesia) – O Papa aborda, numa biografia inédita, tragédias que marcaram a sua adolescência e juventude na Argentina, como a de um colega que “pegou na arma do pai e matou um rapaz da sua idade, um amigo do bairro”.

Francisco recorda o jovem, filho de um polícia, as visitas no reformatório e a  troca de correspondência com o amigo que “acabaria por ficar tragicamente pelo caminho” – suicidou-se, anos depois de ser libertado.

“É preciso humildade para retratar a complexa experiência da vida”, sustenta, recordando ainda a morte de uma mãe às mãos do filho, de 15 anos.

“Também essa notícia irrompeu na escola como uma tempestade, talvez possa dizer que nos introduziu na natureza trágica e complexa da vida”, lembra.

Quatro jornais italianos apresentam hoje excertos da autobiografia do Papa, ‘Spera’ (Esperança, em Portugal), escrita com Carlo Musso, que vai ser publicada na terça-feira em vários países, incluindo Portugal.

O livro recorda a relação e a admiração por Jorge Luís Borges, “um agnóstico que recitava o Pai-Nosso todas as noites, porque tinha prometido à sua mãe que morreria com conforto religioso”.

O Papa fala sobre a importância do humor, sustentando que “o humor, o sorriso são o fermento da existência e uma ferramenta para enfrentar as dificuldades, mesmo as cruzes, com resiliência”.

“A vida tem inevitavelmente as suas amarguras, elas fazem parte de todo o caminho de esperança e de conversão. Mas é preciso evitar a todo o custo chafurdar na melancolia, não permitir que ela endureça o coração”, observa.

A ironia é um remédio, não só para elevar e iluminar os outros, mas também para si próprio, porque a autoironia é um instrumento poderoso para vencer a tentação do narcisismo”.

Francisco elogia as crianças, afirmando que os encontros com elas são dos seus momentos mais bonitos no pontificado e convidando a aprender com os mais novos. 

“Quem renuncia à sua humanidade renuncia a tudo; quando nos é difícil chorar a sério ou rir apaixonadamente é quando o nosso declínio realmente começou”, adverte.

Assumindo gostar da pontualidade, o Papa brinca e diz que chegou “atrasado” ao seu nascimento e, com quase cinco quilos, representou um desafio para a sua mãe.

Da infância, Jorge Mário Bergoglio recorda a vida numa casa simples e num bairro em que as pessoas confiavam umas nas outras.

“A dignidade era um ensinamento sempre presente nas palavras e nos gestos dos nossos pais”, escreve.

Filho de imigrantes italianos, Francisco recorda o epíteto de “comedores de massa” que se colava aos transalpinos.

O Papa relata o episódio trágico de um naufrágio com migrantes a caminho da América Latina, que provocou centenas de mortes em 1927.

“Os meus avós e o seu único filho, Mario, o jovem que viria a ser o meu pai, tinham comprado o bilhete para essa longa travessia, para esse navio que partiu do porto de Génova a 11 de outubro de 1927, com destino a Buenos Aires. Mas não o apanharam”, refere.

A editora Nascente tinha revelado um outro excerto, em que o Papa revelava os riscos de um atentado terrorista durante a sua visita a Mossul, no Iraque, em 2021.

O livro “Esperança “ conta com fotografias privadas e inéditas, provenientes do arquivo pessoal do Papa Francisco.

“Por sua vontade, este documento deveria ter visto a luz apenas após a sua morte. Porém, o novo Jubileu da Esperança e as necessidades do tempo fizeram-no decidir difundir agora este precioso legado”, indica uma nota enviada à Agência ECCLESIA.

O livro foi escrito com Carlo Musso, ex-diretor editorial de não-ficção da Piemme e da Sperling & Kupfer: “Foi uma aventura longa e intensa que ocupou os últimos seis anos: o trabalho de redação começou em março de 2019”.

Jorge Mario Bergoglio nasceu em Buenos Aires, capital da Argentina, a 17 de dezembro de 1936; o religioso jesuíta foi criado cardeal por São João Paulo II a 21 de fevereiro de 2001.

A 13 de março de 2013, o então arcebispo de Buenos Aires foi eleito como sucessor de Bento XVI, assumindo o inédito nome de Francisco; é o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e também o primeiro pontífice sul-americano.

OC

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