Francisco/3º aniversário: Papa rejeita «cumplicidade de quem governa»

Adriano Moreira afirma que a palavra «já está implantada», mas ação «vai demorar”

Lisboa, 13 mar 2016 (Ecclesia) – Adriano Moreira disse em entrevista à Agência ECCLESIA que a “modéstia” marca o pontificado de Francisco, a sua palavra “já está implantada” e Papa argentino enfrenta os erros na Igreja sem “cumplicidade” e reformando “com clareza”.

O professor universitário sublinha a “coragem de assumir os erros” de funcionamento da Igreja pelo Papa, considerando que Francisco deverá ter lido “o discurso de Lutero”.

“Uma coisa é intervir em silêncio, que leva a uma espécie de cumplicidade de quem governa. Outra é assumir, sem silêncio, fracamente e dizer ‘erraram, erramos, vamos emendar!’ É o que o Papa está a fazer. Com clareza”, declarou, numa entrevista que pode ser vista hoje às 20h30 no programa 70×7 (RTP2).

O cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito como sucessor de Bento XVI a 13 de março de 2013, após a renúncia do agora Papa emérito; assumiu o inédito nome de Francisco e é o primeiro pontífice jesuíta na história da Igreja

Para Adriano Moreira, a intervenção de Francisco que tem “influência imediata” nos “desamparados do mundo” é a sua “humildade” e “modéstia”, com a qual “vai ter de enfrentar o progresso do credo do mercado desregulado com o credo dos valores”.

“[O Papa] faz um serviço quando sublinha os traços mais evidentes da desordem mundial, porque ela põe em causa a igual dignidade dos desamparados do mundo, que ele vem sublinhar”, recordou o presidente do Instituto Adriano Moreira, da Academia das Ciências de Lisboa.

O professor universitário considera que o despojamento do Papa, nos sinais do quotidiano, é um “sinal de fé” e a “adesão” à “época da incerteza” que define o momento atual.

“Isso deu-lhe uma atitude de interesse pelo próximo de identificação com essas exigências, da desordem mundial que ele enfrenta não apenas com grande firmeza, do ponto de vista da doutrina, mas com uma humildade extraordinária de quem sabe que só pode fazer aquilo que Deus consentir”, sublinhou.

Para Adriano Moreira, “a palavra já está implantada” no pontificado de Francisco, mas “a passagem à ação” ainda “vai demorar”.

O académico da Academia das Ciências de Lisboa considera que a Igreja Católica a norte do Mediterrâneo “está enfraquecida” e propõe que se mude a tolerância religiosa pelo respeito por todas as religiões.

“Eu sempre defendi que é necessário substituir a tolerância pelo respeito, o que aprendi nas Nações Unidas. E que é necessário substituir o exercício da força pelo diálogo, obedecendo a um princípio: que cada um seja o necessário para que possa subsistir o principal, o que é comum”, sustentou.

“E é isso que o Papa está a praticar: substituir completamente a tolerância pelo respeito, pela diferença”, sustentou.

Avaliando o envolvimento do Papa na promoção do diálogo entre as religiões, Adriano Moreira deixou a proposta que as “reuniões informais” deem lugar a um “Conselho das Igrejas das Nações Unidas”.

“Acho que era um instrumento de entendimento entre as diferenças religiosas, étnicas, culturais e talvez as circunstâncias pudessem melhorar”, concluiu.

Os primeiros anos de pontificado são analisados na mais recente edição do Semanário ECCLESIA, com a entrevista a Adriano Moreira e um dossier que inclui ainda textos de vaticanistas internacionais e testemunhos de vários bispos e outros portugueses que tiveram oportunidade de contactar com Francisco.

PR

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