Professor da UCP apresenta «diagnóstico de um equívoco» sobre as posições do Papa em matérias económicas e financeiras
Lisboa, 10 mar 2016 (Ecclesia) – O economista português João César das Neves acaba de lançar uma obra dedicada à “Economia de Francisco” na qual apresenta as posições do Papa neste campo e questiona o “equívoco” de várias interpretações sobre o atual pontificado.
“O Papa Francisco não é economista. Ele não tem uma visão económica das coisas, nem costuma considerar os problemas dessa forma”, escreve o professor da Universidade Católica Portuguesa.
“Interpretar economicamente as suas palavras é mesmo o equívoco central que este livro pretende desfazer”, acrescenta.
O livro ‘A Economia de Francisco – diagnóstico de um equívoco’ é publicado pela Principia Editora por ocasião do terceiro aniversário da eleição do Papa Francisco, que se celebra este domingo.
Segundo o autor, a análise económica do Papa “nunca é estritamente económica, mas sempre “teológica”, o que inclui “aspetos religioso, antropológico e ético, entre outros”.
“As questões dos pobres, dos excluídos e do ambiente gozam de uma preferência aberta e declarada, quase exclusiva, enquanto os tópicos financeiros, das trocas comerciais, da ética do consumo, entre muitas outras, ficam na sombra”, precisa.
Nesse sentido, João César das Neves entende ser um “erro grave” considerar as intervenções papais como “tomadas de posição entre escolas de política e sistemas sociais ou mesmo críticas gerais à vida económica”.
“Não é legítimo considerar as declarações de Francisco como se fossem relatórios especializados, pronunciamentos científico-técnicos ou discursos eleitorais”, insiste.
A obra apresenta “dois conceitos essenciais” à doutrina económica católica como fontes inspiradoras das sentenças do Papa Francisco: o princípio do “destino universal do bens” e “opção preferencial pelos pobres”
“Quase nunca se ouve Francisco falar de temas importantes da doutrina como preços, juro, lucro, investimento ou balança de pagamentos, e quando o faz é quase sempre para tratar dos impactos sobre os pobres, os excluídos ou o ambiente. Isto não é uma crítica, mas uma constatação. Francisco não gosta de pormenores e complicações, dirigindo sempre a sua atenção ao essencial”, analisa o professor da UCP.
No livro são passadas em revista várias intervenções do início do pontificado sobre temas como a relação entre trabalho e capital, propriedade privada, salários, modelos de desenvolvimento, cooperativismo, pobreza, fome ou ecologia.
Para João César das Neves, o Papa não é contra a “globalização”, mas “é contra a fome, a miséria, o desemprego, o desespero desta época de intensa mudança a que o mundo assiste”.
“O que o incomoda sumamente é ver o rolo compressor da economia a espremer e a esmagar as várias culturas locais. E, por arrastamento, a economia de mercado aparece condenada, sobretudo como instrumento cego desse imperialismo”, explica.
O autor dedica uma atenção à encíclica Laudato Si’ e à exortação Evangelii Gaudium, além de apresentar o Papa como “gestor”, no que diz respeito à administração da Santa Sé e do Estado da Cidade do Vaticano.
João César das Neves assinala que a respeito das afirmações económicas do Papa se tem criado “muita agitação e não pouco escândalo”.
“Admirado por uns e temido por outros, muitos veem-no como revolucionário e radical”, refere a introdução da obra.
Segundo o autor, o propósito do seu novo livro não é fazer uma “análise económica” das posições papais, mas “ouvir o Papa Francisco como ele quer ser ouvido”, ao “identificar, compreender e aprofundar os textos” em que, nos primeiros anos de pontificado, se falou de economia.
OC