Francisco/12.º aniversário: Palavra do Papa é «mais necessária do que nunca» – cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga

Responsável católico aborda desafios das migrações na América Central, mudanças políticas nos EUA e consequências das guerras

Fátima, 11 mar 2025 (Ecclesia) – D. Óscar Rodríguez Maradiaga, que integrou o conselho consultivo de cardeais criado pelo Papa, disse à Agência ECCLESIA que a voz de Francisco é a “mais necessária do que nunca”.

“A palavra do Papa é mais necessária do que nunca, porque ele é o único líder mundial que pensa globalmente”, referiu o responsável católico, arcebispo emérito de Tegucigalpa (Honduras).

O entrevistado considera que Francisco “sente esta responsabilidade”, deixando votos de que em breve regresse ao Vaticano, após várias semanas de internamento devido a problemas respiratórios.

“Rezamos pela sua recuperação, aos pés de Nossa Senhora de Fátima, pela qual temos tanta devoção, no continente americano”, acrescenta.

Antigo presidente da Cáritas Internacional, D. Óscar Rodríguez Maradiaga lamenta o aumento do “racismo” no mundo e até na Igreja, alertando para o drama das migrações na América Central.

“Muitas das migrações se devem a injustiças sociais”, adverte, sublinhando que “a pobreza é muito elevada na região”.

Segundo o responsável hondurenho, muitos jovens sentem que “não têm futuro”, apesar de investirem nos seus estudos e se prepararem para ter um emprego.

“Mas como fazê-lo. Qual é o futuro? Qual é a esperança?”, questiona.

Muitos continuam a pensar em emigrar, sobretudo para a América Central, para os Estados Unidos, pensando que os Estados Unidos são o paraíso, mas isso não é verdade. Há cada vez mais violência, crime, armas que eles podem comprar livremente”.

O antigo colaborador do Papa questiona as opções da nova administração norte-americana, liderada pelo presidente Donald Trump.

“O futuro não se constrói fechados no triunfalismo, numa economia injusta, porque não pensa naqueles que não têm possibilidades. Fechados na cooperação internacional, que agora foi travada, eu diria que é preciso abrir, não fechar”, apela.

D. Óscar Rodríguez Maradiaga realça que a indústria do armamento representa um “grande negócio”.

“As guerras ceifam vidas humanas, acabam com elas, o negócio da compra e venda de armas é terrível”, lamenta.

O cardeal fala de “perseguição aberta” a católicos e opositores políticos, na Nicarágua, recordando que há “quatro bispos e mais de 200 padres” no exílio, por decisão do regime.

“As pessoas continuam a ter fé. Há fé, mas não há hipótese de a viver”, afirma.

O cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga está a orientar o retiro de Quaresma do episcopado português, em Fátima, propondo uma “conversão” e uma espiritualidade sinodal.

PR/OC

Aos 88 anos de idade, completados no último dia 17 de dezembro, Francisco é o segundo pontífice mais velho a governar a Igreja, nos últimos 700 anos.

Desde março de 2013, fez 47 viagens internacionais, tendo visitado 67 países, incluindo Portugal (2017 – centenário das Aparições de Fátima – e 2023 – para a JMJ Lisboa, tendo passado também por Fátima).

Dentro da Itália, o Papa fez mais de 30 de visitas a várias localidades, incluindo uma passagem pela ilha de Lampedusa, primeira viagem do pontificado, e cinco deslocações a Assis.

Entre os principais documentos do atual pontificado estão as encíclicas ‘Dilexit Nos’ (2024), texto dedicado à devoção ao Coração de Jesus; ‘Fratelli Tutti’ (2020), sobre a fraternidade humana e a amizade social; ‘Laudato si’ (2015), dedicada a questões ecológicas; a ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé, 2013), que recolhe reflexões de Bento XVI; as exortações apostólicas ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), texto programático do pontificado, de 2013; ‘Amoris laetitia’, de 2016, dedicada à família; o documento sobre a “Fraternidade Humana em prol da Paz Mundial e da convivência comum” assinado pelo Papa Francisco e o grão imã de Al-Azhar, Ahamad al-Tayyi, em Abu Dhabi (2019).

A reforma dos organismos centrais de governo da Igreja Católica, levada a cabo com a ajuda de um inédito conselho consultivo de cardeais, dos cinco continentes, foi concretizada através da Constituição Apostólica ‘Praedicate Evangelium’, de 2022, propondo uma Cúria Romana mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, com maior protagonismo para os leigos e leigas.

Francisco convocou até hoje cinco assembleias do Sínodo, dedicadas à sinodalidade (2023 e 2024), à Amazónia (2019), aos jovens (2018) e à família (2015 e 2014), além de uma cimeira global sobre o combate e prevenção aos abusos sexuais (2019).

No seu pontificado, a Igreja Católica celebrou dois Jubileus – em 2016, num Ano Santo Extraordinário, dedicado à Misericórdia, e o atual Ano Santo ordinário, dedicado à esperança.

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